O vento quente da tarde soprava sobre Atenas, carregando o cheiro acre de incenso e poeira. A pele de Roxana ardia sob o sol implacável, enquanto caminhava pelas ruas de paralelepípedos sob passos ligeiros. Seus dedos tamborilavam no punho da adaga escondida sob o manto. Há dias percorria os becos da cidade, seguindo rumores como migalhas envenenadas: "Homens que atravessam muralhas", "Navios fantasmas no Pireu", "Moedas de prata em troca de silêncio". Tudo ilusões.
A cidade parecia engolfada pelo orgulho e pelo cansaço. Com o tempo, sua missão diplomática se dissolveu em irrelevância. Ela sabia que, mesmo com o apoio de Péricles, era um esforço vazio. Não teria voz. O verdadeiro terror continuaria em Lesbos até que os espartanos finalmente fincassem seus estandartes em terra, como um troféu de guerra. Ou os piratas, bárbaros e maltrapilhos antes deles.
Por mais que tentasse, não conseguia ignorar a informação de Alcibíades. Sentia raiva dele por tê-la contado sobre o navio, se não pretendia ajudá-la. Aquilo tinha se tornado sua nova obsessão. Fazia algum tempo desde que tinha desistido de obter informações sobre a sua irmã. Seu desaparecimento significava sua morte, ela sabia. Mas, seu coração insistia em impedir qualquer tentativa de luto. O ciclo não se completava. A despedida nunca aconteceu.
Depois de meses interrogando comerciantes e viajantes que iam e vinham do porto de Lesbos, conformou-se que Anfípolis era um passado que deveria esquecer. Desde que Deucalião resgatou-a de seus captores, e Safo lhe acolheu em sua casa, sentia que era uma traição abandoná-los em busca de uma aventura egoísta e potencialmente suicida. Ainda assim, não se conteve em incluir um parágrafo adicional na carta que enviara aos magistrados atenienses. Se existe alguém que saberia sobre o paradeiro da sua irmã, eram eles. E Roxana descobriu que sabiam, mas não queriam lhe dizer. Fora da bolha da aristocracia, ninguém parecia saber da existência do maldito barco de escravizados que fora capturado uma lua atrás em Erétria. A agonia do não saber foi substituída pelas algemas do não poder. E isso ela não aceitaria. Se Péricles não a concederia um salvo conduto, ela encontraria uma maneira de sair da cidade.
De beco em beco, Roxana observava a cidade se despedaçar, como um vaso trincado, prestes a estilhaçar-se. E Atenas não fazia nada. Tentara buscar aliados entre os poderosos, mas encontrou apenas sorrisos educados e olhares vazios. Por isso, voltou-se para a escória: contrabandistas, desertores, ladrões. Homens que sobreviviam nas sombras, que entravam e saíam da cidade sem que ninguém soubesse como. Mas até entre eles, o medo imperava. Esquivos, desconfiados, encaravam-na como se fosse uma espiã, uma armadilha disfarçada de mulher.
Na esquina de um prostíbulo decadente, encontrou o primeiro contrabandista, um homem de olhos amarelos e dentes podres, enrolado em trapos que cheiravam a peixe salgado.
— Dizem que você transporta pessoas — sussurrou Roxana, deslizando uma moeda de prata sobre a mesa embolorada.
O homem riu, cuspindo vinho barato. — Transporto cadáveres, não estrangeiros. Saia antes que eu te venda aos espartanos.
Ela recuou, mas não desistiu. No mercado negro, entre barris de ópio e escravos acorrentados, abordou uma mulher com cicatrizes de chicote nos braços.
— Preciso sair de Atenas. Tenho ouro. — Roxana abriu a bolsa, mostrando as moedas cunhadas com a efígie de Lesbos.
A mulher cuspiu no chão. — Sua espécie é caçada aqui. Vá se oferecer aos magistrados, não a mim.
Até os mendigos a evitavam. Num beco próximo ao porto, um garoto esquelético apontou para sua túnica branca.
— É cor de fantasma. Troque por trapos, ou vão te matar antes do pôr do sol.
Roxana ignorou o conselho. Não sou uma de vocês, pensou, ajustando o broche de prata no manto. Mas, ao entrar na ágora, percebeu que o garoto tinha razão. As tendas estavam vazias, as carroças viradas, e os poucos que restavam fitavam-na com ódio, uma estrangeira bem-vestida em meio à ruína.
Frustração fervilhava sob sua pele enquanto seus passos ecoavam na grande praça. A vastidão deserta e as carroças abandonadas davam ao lugar um aspecto fantasmagórico. Havia algo errado. O silêncio pesava, carregado de presságio. Sentiu-se observada e, quando procurou a origem do olhar, viu uma menina esfarrapada, pequena e esquiva, escondendo-se atrás de uma das colunas de um edifício quadrado. O vento balançava as cortinas das janelas fechadas ao redor da Ágora.
Roxana aproximou-se, oferecendo um figo maduro. — Você sabe onde encontro... pessoas que saem da cidade? — perguntou, escolhendo as palavras com cuidado.
A menina pegou o figo, mas não respondeu. Seus dedos sujos apontaram para o leste. O som ritmado precedeu à imagem de um destacamento ateniense que agora atravessava a ágora, escoltando uma fileira de carroças pesadas, cobertas com lonas que tremiam sob o peso de algo volumoso. Os bois bufavam, seus cascos golpeando o chão com esforço. Os soldados estavam atentos, tensos, como se sentissem a mesma eletricidade pairando no ar.
— É uma armadilha — sussurrou uma voz infantil às suas costas.
O Roxana virou-se em busca da origem da voz, mas a menina desaparecera. Um movimento no alto chamou sua atenção. Sobre uma mureta, a pequena figura segurava uma tocha acesa, a chama tremulando ao vento. Atrás dela, escondida na sombra, uma grande pira de madeira aguardava o toque incendiário.