Borboleta

Capítulo 2 - Marco

MARCO - 14 ANOS

NEW YORK

Quando você se acostuma com o cheiro da morte, é capaz de senti-la chegando. Como um presságio que se mantém adormecido sob a pele. Até que ele desperta, e cada parte do seu corpo se arrepia como se estivesse recebendo o tiro de um raio.

Eu sabia que alguma coisa estava errada.

Terminando de abotoar a camisa, peguei o blazer sobre a cama e saí do quarto. Eu estava no meio da escadaria quando um estrondo ensurdecedor explodiu.

Os seguranças começaram a correr, armas em mãos. Toda a correria me deixou paralisado por um segundo inteiro e não percebi quando meu pai se aproximou, o rosto coberto por uma máscara assassina.

— Marco, fique com a sua mãe e a sua irmã — ele ordenou, me puxando até a sala de jantar, onde minha mãe estava com Alina agarrada fortemente ao seu pescoço.

Foi então que o tiroteio começou.

Meu pai agiu com uma rapidez que provavelmente ultrapassou a velocidade da luz. Ele virou a mesa de jantar, usando-a como escudo, ao mesmo tempo em que saltava sobre a minha mãe e minha irmã para protegê-las. As travessas de porcelana deslizaram para o chão, o som cristalino misturando-se com o rugido do caos.

O inimigo pareceu descarregar mil cartuchos de metralhadoras, as balas perfurando as janelas e estourando os vitrais. O gesso das paredes explodia à medida que era alvejado, levantando uma cortina de poeira branca ao nosso redor.

Saltei para trás da mesa, meu corpo deslizando pelo chão entre os destroços.

— Você está bem, amore? — meu pai perguntou, deslizando os olhos rapidamente pelo corpo da minha mãe e as mãos pelas costas de Alina.

— Estou bem — mamãe respondeu. — Temos que tirar as crianças daqui e levá-las para o quarto de segurança.

Meu pai agarrou minha nuca e puxou minha cabeça em sua direção, seus olhos escuros ardendo com uma fúria que congelou meu sangue.

— Você sabe o que fazer, Marco — comandou, entregando-me uma pistola. — Proteja-as.

— Eu irei — respondi, destravando a trava de segurança da arma.

— Atire para matar.

O lustre arrebentou sobre nossas cabeças ao mesmo tempo em que lascas de madeira voaram. Minha mãe se lançou sobre mim e Alina, soltando um grito abafado pelo som dos disparos. Ela nos cobriu enquanto meu pai se colocava como um muro protetor entre nós e os atacantes.

— Salvatore! — Um grito de triunfo ecoou pelas paredes, seguido por uma risada que fez cada um de nós paralisar ao identificar a voz.

Os tiros finalmente cessaram e um silêncio sepulcral pairou no ar. O cheiro de sangue e das bombas de gás se impregnavam em uma nuvem densa que dificultava respirar.

Alina deslizou para o meu colo e enterrou o rosto na curva do meu pescoço, suas mãozinhas agarrando minha camisa. Seu choro baixinho servindo para alimentar o ódio que ardia dentro de mim.

Meus dedos se fecharam com mais força em volta do cabo da arma.

— Luigi — meu pai pronunciou o nome do homem que foi considerado seu conselheiro por anos.

Arrisquei uma olhada pela lateral da mesa de jantar e vi o modo arrogante com que Luigi Velacchi encarava ao redor. Ele usava um terno escuro de corte impecável, como se tivesse se vestido para uma maldita festa. Uma Uzi brilhava em sua mão.

— Espero que não se incomode por ter interrompido o seu jantar em família, Sal — Luigi comentou, caminhando pela sala. Seus sapatos amassavam os cacos de vidro que cobriam o assoalho. — Mas os negócios que temos para tratar não podem esperar.

— Os negócios normalmente são uma prioridade para homens que não possuem nada.

Velacchi riu.

— Mas eu possuo muitas coisas. — Ele usou a arma para indicar as paredes. — Veja só o que estou reivindicando.

— Reivindicando — meu pai repetiu. — Claramente ninguém poderá questionar a sua incapacidade de construir algo com as próprias mãos.

O rosto de Velacchi se contorceu em algo entre a raiva e a loucura. Ele soltou um grito insano antes de agarrar a Uzi com as duas mãos e atirar em direção ao meu pai.

Meu próprio grito ficou preso na garganta. Um novo silêncio aterrorizador pesou no ar, a tensão se transformando em garras que tentavam lacerar um caminho através do meu corpo.

Don Salvatore estava bem ao meu lado, tão frio e indiferente quanto uma estátua, após o rompante de fúria de Luigi.

Meu pai seguia no mesmo lugar, sem mover um único músculo.

E continuava quieto.

Quieto demais.

— Cuidado com as palavras, não é você quem está no controle aqui. — Velacchi ergueu a mão, da qual o dedo anelar fora arrancado. — Você gosta de ficar esbanjando todo o seu poder e o quanto é honrável ser protegido pela Famiglia. Mas não houve um único dia em que você não tenha esfregado na minha cara o custo dessa proteção.

— Você decidiu agir pelas minhas costas, achando que poderia me impressionar. Ter um dedo arrancando foi muito pouco perto do que os irlandeses realmente teriam feito com você, se eu não tivesse intercedido.




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