Borboleta

Capítulo 7 - Kate

KATE - 12 ANOS

Marco era como o canto de uma sereia para mim. Cativante, hipnotizante e terrivelmente perigoso. Eu não conseguia parar de pensar nele desde o momento em que ele se mudou para a casa ao lado da minha. Agindo como se não se importasse com nada no mundo. O rosto vazio e olhos verdes congelantes e tão profundos quanto o oceano pacífico.

Era como se, em sua mente, ele escondesse a caixa de Pandora. E eu queria abri-la para entender todos os tipos de demônios e pesadelos que o atormentavam. Por algum motivo inexplicável, eu me importava com aquele idiota arrogante. Eu queria ser o motivo de fazer seus olhos se aquecerem além das muralhas que pareciam cercá-lo. Eu queria ser a cura para qualquer tipo de doença que estivesse o corroendo por dentro.

Eu queria representar alguma coisa para o seu mundo devastado.

Deve ser por isso que quanto mais ele tentava me afastar, mais eu me enrolava em torno dele. Como um arbusto cobrindo as paredes de um castelo.

Por isso que eu estava indo até ele.

Novamente.

Percorro o jardim de roseiras que Eleonor Castellari cultivava como se fosse um tipo de paraíso particular e sigo em direção à alta música vinda da academia de Marco. O chão pareceu estremecer sob meus pés, enviando uma corrente elétrica através das minhas pernas e fazendo meu coração disparar.

Minhas mãos estavam estranhamente úmidas. Sequei-as contra a calça jeans antes de empurrar a porta da garagem e entrar no refúgio que meu vizinho tinha construído para si mesmo. Um lugar que somente meus irmãos tinham permissão para entrar, e, agora, eu estava invadindo sem considerar as consequências.

Nem mesmo as meninas da escola que o perseguiam como tubarões sentindo cheiro de sangue fresco tinham conseguido ter acesso àquele lugar. Quando uma delas decidia aparecer, Marco a mandava embora e batia com a porta em sua cara.

Um verdadeiro cavalheiro.

Tive sorte de encontrar a porta aberta, mas era uma questão de tempo até saber o que ele faria quando finalmente percebesse a minha presença.

Marco estava concentrado socando um boneco de algum tipo de material resistente, os pés saltando para frente e para trás enquanto os braços definidos por músculos rasgados se moviam em um ritmo que meus olhos mal conseguiam acompanhar. Para um garoto da idade dele, eu conseguia perceber que o corpo de Marco tinha se desenvolvido muito além do normal. O cabelo, úmido pelo suor, balançava a cada salto, chicoteando suas bochechas e roçando contra o maxilar sério.

Ele era bonito de uma forma desconcertante.

Por alguns minutos, ignorei toda as nossas desavenças, brigas ou provocações. Ignorei como as sombras o cercavam em um alerta para que ninguém se aproximasse. Ignorei como seus olhos estavam focados no boneco como se sua missão de vida fosse retaliá-lo.

Eu ignorei cada momento em que quis pegar seu belo rosto e esfregar no asfalto quente e me deixei envolver por cada arrepio que serpenteou através dos meus ossos.

Seus punhos estavam cobertos por faixas brancas, mas os socos seguiam em um ritmo alucinante. Ele socava, recuava, se esquivava e então girava, a perna poderosa acertando a lateral do boneco com uma precisão impressionante.

Meu coração parecia estar se afogando dentro da minha caixa torácica, o fluxo de oxigênio se tornando escasso demais para manter meu cérebro funcionando lucidamente. De repente, tudo dentro de mim esquentou como se eu tivesse sido jogada dentro de uma chaleira.

Eu senti esse calor alcançar minhas bochechas.

A música parou abruptamente, fazendo a garagem mergulhar em um silêncio que fez a força da minha respiração se sobressair em um apito desafinado.

Foi quando ele finalmente percebeu que não estava sozinho.

Marco me encarou, as sobrancelhas se unindo em uma linha zangada.

— O que está fazendo aqui, pirralha? Perdeu alguma de suas bonecas?

Sinto como se suas palavras fossem novos socos e meu corpo estivesse recebendo os golpes, porém, diferente do boneco inanimado que ainda oscilava entre nós, eu sabia como me defender.

— Eu não tenho bonecas, tenho livros, mas você não deve saber diferenciar um do outro.

Marco me fuzilou com os olhos antes de pegar uma toalha para secar o rosto. Lutei contra a vontade de observar a umidade acumulada em seu peito e como as gotas deslizaram além de seu umbigo e se perderam no elástico do shorts.

Seu súbito silêncio me causou um desconforto que pareceu revirar meu estômago. Apontei para o boneco.

— Você não cansa de bater nas coisas?

— Você não cansa de ser intrometida? — ele rebateu rapidamente. Não me escapou o detalhe de ele não ter me enxotado para fora. Ainda.

— Não — respondi.

Marco se virou para pegar uma garrafa de água, e eu podia jurar que vi o esticar de um sorriso no canto de seus lábios, mas, quando ele voltou a ficar de frente para mim, seu rosto estava tão endurecido quanto uma pedra.

— Pela última vez, o que está fazendo aqui?




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