Borboleta

Capítulo 3 - Marco

MARCO - 14 ANOS

NEW YORK

No velório de Alina, me mantive ao lado da minha mãe o tempo todo. Sua mão estivera sobre o meu ombro em um pedido silencioso para que meu temperamento não explodisse quando os membros da máfia vinham nos dar suas condolências.

Ela parecia sentir claramente as minhas vibrações destrutivas.

Meu pai se manteve do outro lado do campo, o que foi inteligente da parte dele, porque eu não sabia se seria capaz de me controlar se ele estivesse ao meu lado. Entretanto não pude deixar de notar que havia algo diferente entre os meus pais. Eu não sabia o que eles haviam conversado, mas meu pai pareceu entender que haveria grandes mudanças. A morte de Alina tinha criado um abismo entre nós.

Eu e minha mãe estávamos de um lado, meu pai e a máfia, do outro.

E não tinha nenhuma ponte nos ligando.

Ao fim da cerimônia, olhei para os dois carros pretos estacionados e protegidos por seguranças armados. Era óbvio que papai não permitiria que eu e minha mãe seguíssemos nosso próprio caminho sem uma maldita escolta.

— Marco, uma palavra.

Eu não devia mais nada àquele homem, nem minha lealdade, nem o meu respeito, nem qualquer outra coisa, mas, no meu subconsciente, eu ainda estava condicionado a obedecê-lo. Fechei minhas mãos em punhos quando, lentamente, me virei para encará-lo.

— Você e sua mãe estão indo embora — ele anunciou, enfiando as mãos nos bolsos da calça e encarando-me como fez tantas vezes quando estava me dando uma importante lição. — Você será responsável por ela.

— Estou ciente disso — respondi entre os dentes. — Também sei que farei um bom trabalho. — Melhor que você. Papai pareceu entender as minhas palavras ocultas, porque seus olhos se cerraram levemente.

— Não seja arrogante comigo, garoto. Ainda sou seu pai.

— Você não é mais nada.

Ele suspirou. Seus ombros caíram alguns milímetros, parecendo ter passado dias sem dormir.

— Você não foi o único que perdeu Alina.

— Você não a protegeu.

Para minha surpresa, Salvatore balançou a cabeça, concordando.

— Não, eu não fui capaz de protegê-la. Fiz escolhas que julguei serem certas e agora terei que conviver com o meu erro pelo resto da vida.

Papai virou a cabeça e observou minha mãe. Ela estava parada em frente ao túmulo de Alina, o vestido preto balançando levemente com o sopro da brisa daquela manhã. Ela era a perfeita paisagem de uma mulher destruída.

— Espero que você jamais descubra isso, filho, mas não existe pior sensação do que aquela de estar perdendo alguém aos poucos.

Ficamos em silêncio após isso, esperando mamãe terminar suas orações. Quando ela finalmente se juntou a nós, mesmo com a larga aba de seu chapéu escondendo parcialmente seu rosto, consegui ver as marcas das lágrimas, o que me fez querer correr com ela até o nosso carro e ir embora o mais rápido possível.

Mamãe devia ter a mesma vontade, porque se virava para mim quando Salvatore a impediu, colocando a mão sobre a dela, fazendo-a arfar levemente com o toque inesperado. Quando ele percebeu que mamãe não levantaria a cabeça para olhá-lo, levou a mão dela até seu peito, a aliança dourada de casamento de cada um brilhando sobre o coração do meu pai.

Novas lágrimas deslizaram pelo rosto da minha mãe.

Em um movimento brusco, mamãe tirou sua mão do domínio do toque de Salvatore e segurou a minha.

— Vamos, querido — sussurrou.

Ela não olhou para trás.

Eu não olhei para trás.

Quando entramos no carro, pude sentir o calor do olhar do meu pai nos observando ir embora.

Para sempre.




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