MARCO - 14 ANOS
Acabamos nos estabelecendo em uma pequena cidade litorânea chamada Paradise. Mamãe a escolheu por causa do nome; eu dizia que era uma grande ironia de merda.
Nossa casa ficava em um bairro que parecia ter saído de um maldito cartão-postal. Tínhamos a visão para um grande lago, as ruas eram arborizadas e as crianças pareciam ter energia suficiente para movimentar uma usina nuclear.
Mal tínhamos começado a desempacotar as coisas quando os vizinhos começaram a aparecer, trazendo tanta comida que mamãe não precisou ir ao supermercado por quase duas semanas. Todos ali pareciam rir de qualquer coisa. Era irritante vê-los rindo como se a vida fosse constituída pelas cores do arco-íris e unicórnios. Suas bolhas cor-de-rosa me faziam querer gritar.
A vida não era bonita.
A vida não era colorida.
A vida era uma grande areia movediça esperando para te engolir.
Era claro que minha mãe aguentava toda aquela farsa, atuando com risadas simpáticas e mostrando-se interessada em trocar receitas. Mas quando as visitas iam embora, sua felicidade mentirosa desaparecia como se um interruptor tivesse sido desligado. Suas olheiras estavam cada vez mais profundas por causa da falta de sono, e ela estava perdendo peso também. Às vezes, eu a pegava sentada na cama, olhando para o nada, enquanto girava a aliança de casamento no dedo.
Isso me deixava cada vez mais furioso, porque de certo modo eu era o culpado por sua infelicidade. Perder Alina foi um baque para todos, mas também havia o fato de que minha mãe não tinha o meu pai ao seu lado.
Ela o havia deixado por minha causa. Não apenas porque eu o odiava agora e não conseguia vê-lo na minha frente sem sentir vontade de matá-lo, mas porque não queria perder mais um filho para a máfia. Ela estava me protegendo da única maneira possível: dando às costas para a vida que construiu ao lado do homem que jurou amar pelo resto da vida.
Os dias tornaram-se meses. Meu aniversário de treze anos passou, e minha mãe tentou comemorá-lo levando-me para algum restaurante, mas recusei e só fiquei trancado no meu quarto. Desde que chegamos ali, meu único pedido foi que uma pequena academia fosse montada na garagem — dar socos e chutes em um saco de areia era muito mais seguro do que ceder à tentação de ir até a rua e sair quebrando alguns rostos felizes. Mamãe concordou, mas com a condição de que eu começasse a frequentar a escola local, em vez de continuar tendo aulas particulares.
Fechamos o acordo.
Minhas aulas começariam na próxima semana, então eu teria que estar cansado o suficiente para que meu temperamento explosivo não se revelasse, quando algum imbecil tentasse mexer comigo.
O aparelho de som explodia com a música de uma banda de rock enquanto meus braços e pés moviam-se em um ritmo rápido contra o saco de areia, suor escorrendo pelo meu corpo, a adrenalina bombeando meu sangue. Meus treinos eram importantes para mim, eram os momentos em que eu podia expulsar toda a culpa que abraçava cada fragmento da minha alma condenada.
Era quando eu me obrigava a respirar.
Mais um soco, mais um chute, mais um grito de ódio.
Eu estava tão concentrado em expulsar meus demônios que não ouvi a porta da garagem abrir. Meus instintos alertaram a presença atrás de mim e, sem me preocupar em ver quem era, virei o corpo em uma rotação perfeita, o braço erguido para acertar o intruso. Contudo, para minha total surpresa, o garoto era tão rápido quanto eu e conseguiu desviar do golpe e bloqueá-lo com uma chave de braço.
Meus olhos encontraram um par de íris azuis. Ficamos um segundo nos encarando, meu braço bloqueado pelo dele.
— Você definitivamente sabe como se apresentar — disse o garoto, abrindo um sorriso.
Puxei meu braço com força e, sem deixar de encará-lo, arranquei as luvas de boxe para pegar o controle remoto e desligar a música.
— Quem é você? — disparei.
— O’Connell. Wade O’Connell — ele respondeu, estendendo a mão.
Encarei aquela mão por um momento, considerando se seria mais satisfatório ignorá-la ou quebrá-la. A contragosto, decidi apertá-la.
— Marco — informei meu nome em um latido. — O que está fazendo aqui?
— Parece que as nossas mães se tornaram amigas e a minha mãe me pediu para trazer o cartão do nosso jardineiro. Bati na porta da frente e, como ninguém atendeu, dei a volta e acabei seguindo a música. — Ele olhou ao redor e soltou um longo assobio. — Lugar maneiro esse aqui.
— Pode deixar o cartão comigo — dispensei, pegando as luvas para recomeçar o treinamento, mas o idiota pareceu não entender a dica para ir embora e começou a caminhar pelos equipamentos de ginástica, como se já estivesse familiarizado com todas as peças.
— Você treina há muito tempo? — Wade perguntou.
Ergui uma sobrancelha.
— Eu gosto de lutas.
— Eu também. Meu pai brinca dizendo que me matriculou nas aulas de karatê assim que aprendi a andar. Agora estou querendo ir para uma academia que ensine lutas mistas. — Ele me encarou com uma careta. — Mas minha mãe diz que ainda sou novo demais para tentar algo tão violento. Sua mãe não se importa que você treine com todos esses equipamentos?