MARCO - 14 ANOS
No passado, eu acordava todas as manhãs animado para treinar com o meu pai e ser envolvido nos assuntos da máfia. Mas quando as coisas mudaram e toda a perspectiva do meu futuro foi transformada em cinzas, nada tinha despertado a minha atenção a ponto de me fazer encarar os dias com alguma expectativa.
Até Katherine O’Connell.
Ao observar como a minha amizade com Wade e Sam ia se solidificando de forma saudável, mamãe ficou visivelmente mais tranquila por ter me matriculado na escola, julgando ser um grande avanço que eu estivesse disposto a construir uma vida social que não envolvesse sangue, tiros e dedos amputados. O que ela não precisava saber era que o meu maior incentivo para frequentar aulas como um adolescente normal estava relacionado a Kate.
Não que eu passasse o dia inteiro pensando nela. Não mesmo.
— Você está me ouvindo? — Wade cutucou meu ombro, dispersando minha atenção da rodinha de meninas do outro lado do pátio da escola, no qual um certo pontinho ruivo se destacava como um fósforo aceso.
— Claro que estou — menti.
— Ótimo. — Samuel esfregou as mãos, animado. — Então nos encontramos na sua casa depois da escola.
Estava pronto para perguntar que merda íamos fazer na minha casa quando um reboliço do outro lado chamou nossa atenção. Big Jorge parecia ter encontrado uma nova vítima para seus ataques e agora empurrava o aluno novo para um canto em que nenhum professor pudesse vê-los. O menino apenas balançava a cabeça e mostrava os bolsos vazios da calça enquanto mantinha o olhar abaixado e tremia tanto que eu podia ouvir o som de seus joelhos batendo.
Big Jorge deu um tapa na cabeça do menino, os capangas ao redor riram.
— Não vai começar a chorar, não é? — Big Jorge caçoou. — Como você não tem nada para me dar? As coisas não funcionam assim por aqui, Ash.
— Eu… eu… não tenho…
— O quê? Não consigo te ouvir. Sua voz é baixa assim mesmo, como de um maricas? — Big Jorge deu um novo tapa na cabeça do garoto.
Big Jorge foi um dos garotos que tentou se meter comigo no começo. Quando finalmente apareci na escola, ele precisou apenas olhar uma única vez na minha direção para saber que não seria inteligente me provocar. Até então, eu apenas o observava empurrando os outros garotos, caçoando ou sendo somente um idiota. Aquela era a primeira vez que o via sendo tão agressivo.
— Ele já fez isso antes? — perguntei a Wade
— Não. Mas desde que o pai se tornou xerife, ele acha que pode fazer qualquer coisa que não será punido.
— E a mãe dele é uma histérica, capaz de transformar a vida de qualquer pessoa num inferno se o filhinho sofrer um arranhão. — Samuel bufou.
Sim, era ridículo, assim como usar a força bruta em pessoas mais fracas para se sentir poderoso. Essa foi uma das primeiras lições que aprendi com o meu pai. Você não conquistava respeito lidando com ratos, você precisava aprender a domar leões. Big Jorge provavelmente mijaria nas calças em cinco segundos se entrasse em um dos porões da minha antiga casa, que funcionavam para interrogatórios.
— Ah, merda. — Ouvi Wade dizer antes de sair correndo.
— Merda, merda — Samuel repetiu, indo atrás do irmão.
Tudo aconteceu tão rápido que só tive tempo de piscar. Kate empurrou Big Jorge com toda a força para o lado, fazendo-o cair sobre os capangas, então segurou a mão de Ash e o puxou para trás, protegendo-o.
— Ela só pode estar ficando louca — resmunguei, correndo até onde Wade e Samuel estavam, a postos ao lado da irmã.
— Francamente, Jorge, será que as coisas na sua casa andam tão complicadas que você está precisando pedir dinheiro emprestado? — Ouvi Kate dizer com falsa doçura.
A pergunta dela fez uma risada borbulhar em meu peito.
— O’Connell, não se meta — Big Jorge cuspiu, começando a se levantar. Os capangas formavam um semicírculo em volta dela, de Wade e de Sam. Ash era apenas um pontinho minúsculo encolhido no meio de todos.
— Tudo bem. — Kate ergueu as mãos antes de começar a procurar algo nos bolsos da calça. — Vamos ver se eu tenho alguma coisa aqui para te ajudar. Padre Thomas disse uma vez que Deus sempre está olhando para aqueles que ajudam os mais necessitados. — Ela fez uma careta, como se tivesse pensado em algo desagradável. — Droga, se for para manter todo esse seu tamanho, então vamos precisar de muita ajuda. Wade, quanto você tem aí?
Wade a encarou com um olhar sério.
— Acho melhor irmos conversar em outro lugar, mana.
Ela claramente o ignorou.
— Samuel, você ainda tem aqueles trocados do sorvete que tomamos ontem?
— Desculpa, irmã, vou precisar deles para um investimento futuro.
Ela balançou a cabeça, parecendo inconformada.
— Você e essas suas revistas pervertidas ainda irão nos levar à falência.
Era simplesmente fascinante como Kate conduzia a situação. Big Jorge estava praticamente roxo de vergonha, e era nítido que os alunos ao redor se divertiam. Até mesmo Ash estava curvando os lábios em pequenos risinhos.