Borboleta

Capítulo 9 - Kate

KATE - 14 ANOS

Eu apostaria todos os meus livros de romances favoritos que seria mais fácil encontrar a cura do câncer do que entender a mente dos garotos. Samuel era um caso perdido, ele normalmente não pensava em nada, então minhas poucas esperanças eram dirigidas para Wade e Marco. Contudo, a única coisa que movia aqueles dois eram lutas, revistas militares… e Cindy Marshall com suas curvas espetaculares.

Eu odiava Cindy Marshall.

Eu a odiava porque ela tinha olhos de águias que seguiam cada movimento de Marco, farejando-o como um cachorro esfomeado. Por isso, quando soube que a líder das animadoras de torcida da escola também estaria na inauguração do parque de diversões de Paradise, naquele fim de semana, passei duas tardes inteiras exterminando ervas daninhas do jardim de casa.

E quando as ervas daninhas foram eliminadas, me ocupei em preparar a terra para uma horta que mamãe estava querendo fazer. Eu estava usando uma pá pequena, cavando exaustivamente enquanto pensava em como Cindy Marshall ficaria linda vestida com sete palmos de terra.

— Você está cuidando do jardim ou cavando uma cova? — a voz do meu pai interrompeu a linha assassina dos meus pensamentos.

Lancei um olhar irritado por cima do ombro, a pá levantada de forma ameaçadora. Em algum lugar do meu cérebro, a trilha sonora de Psicose estava soando.

Papai recusou, mostrando as mãos em sinal de paz.

— Tudo bem, querida, essa sua expressão está me deixando um pouco preocupado.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu moro aqui — ele respondeu quase hesitante.

Bufando, soltei a pá enquanto me levantava, folhas secas e grama úmida se acumulando ao redor dos meus joelhos. Bati as mãos para tentar me limpar um pouco, mas a sujeira só se espalhou um pouco mais entre os meus dedos. Simplesmente perfeito.

— Quero dizer, o que você está fazendo aqui, neste horário? Não tinha um julgamento importante?

Sendo um juiz altamente respeitado, Arthur O’Connell tinha muitos julgamentos importantes, mas eu não estava no clima de tentar me lembrar dos detalhes do novo caso em que papai estava trabalhando. Ele provavelmente estaria batendo seu martelo em breve, quando me condenasse à prisão perpetua.

— Foi preciso adiar por conta de uma das testemunhas ter passado mal, então consegui voltar mais cedo. Pensei em pedir a sua ajuda para preparar o jantar, mas não sei se confio em você agora com uma faca.

Eu também não confiaria muito em mim.

— Só estou um pouco irritada.

— Quer conversar sobre isso?

Suspirei pesadamente, meus ombros caindo em um arco tão baixo que eu esperava não parecer tão patética quanto me sentia.

— Não é nada demais.

Papai lançou um olhar duvidoso ao redor, analisando cada buraco que passei as últimas horas cavando como se estivesse enterrando ossos de um corpo desmembrado.

Ele não precisava saber que eu tinha exatamente essa intenção para um futuro muito próximo.

— Não está me parecendo que seja nada, filha.

Pensei nos longos cabelos loiros e nos olhos azul-turquesa de Cindy, e uma nova onda de raiva me atingiu. Eu sabia que não era um nocaute da beleza como as líderes de torcida, e isso estava fazendo com que todas as minhas inseguranças transbordassem.

— Eu… — murmurei, mordendo o lábio inferior em seguida. — Eu não sou… bonita.

O rosto do meu pai endureceu.

— Quem ousou dizer esse absurdo?

— Ninguém disse isso. Eu tenho um espelho.

— Então irei comprar um novo, porque não está se enxergando direito. — Papai se aproximou, sua mão tocando meu rosto sujo de terra. — Kate, você é a garota mais bonita do mundo.

Aí estava algo que eu daria metade do meu coração para ouvir de outra pessoa.

— A sua opinião não conta. Você é meu pai.

— Não estou dizendo que você é bonita porque sou seu pai, mas porque você é idêntica à sua mãe.

Foi como se eu tivesse tropeçado em um dos buracos que tinha cavado. Cresci ouvindo que Samuel era o mais parecido com mamãe. Ambos com cabelos loiros como ouro e olhos tão azuis que lembravam uma manhã de verão. Eu cortaria a minha língua antes de admitir isso em voz alta, mas meu irmão tinha uma beleza capaz de fazer a cabeça de estátuas se moverem apenas para continuarem o admirando.

Samuel era bonito assim.

Wade possuía uma aparência mais bruta, grosseira e masculina que assustava as pessoas, enquanto eu seguia no papel da caçula sem graça, que tinha uma mistura não muito harmoniosa entre a ascendência americana, de mamãe, e a irlandesa, de papai. Porém ouvir que meus próprios traços podiam refletir uma pequena centelha da beleza estonteante da minha mãe era o maior elogio que eu poderia receber.

Foi como um cafuné em minha autoestima destroçada.

Abafei uma risada descrente.

— Valeu a tentativa de me consolar.




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