Corações na Tempestade - Versão Portuguesa

Episode 4

Lorde Ethan Devereux, Conde de Harrington, estava naquele momento em seus aposentos com uma taça de conhaque na mão e outra apoiada no parapeito da janela. A chuva começou a cair e a formar rios de lama nas estradas de acesso e deixou o olhar vagando na desolação que a tempestade estava prestes a criar. Seus pensamentos estavam a milhares de quilômetros de distância daquele lugar.

Ele era um homem alto, com um físico que chamava a atenção, e quando montava a cavalo os músculos de seu corpo se destacavam nas roupas que usava, todas feitas sob medida. De uma beleza selvagem e cruel, a criança presta atenção por onde passa. De pele escura, cabelos pretos mais longos e elegantes, e olhos tão negros quanto o céu no meio da noite, ele era o que poderia ser chamado de um homem comum. Ele disse que rastreou todas as beldades que cruzaram seu caminho, desesperadas por sua atenção. Ele também era um bom homem, muito rico, e herdaria uma imensa fortuna quando se tornou castelhano após a morte de seu pai, aos quinze anos de idade.

Ele também teve sua cota de sorte na atribuição de seu tutor, um amigo da família por muitos anos que sempre o tratou como um filho, o Duque de Devonshire. Isso revelará as histórias daqueles que se dizem família e daqueles que afirmam ter divisões ocultas e acordos matrimoniais secretos feitos até a terceira idade para tomar suas próprias decisões.

Ele desprezava a alta sociedade inglesa ou qualquer pessoa que valorizasse as aparências em detrimento da inteligência, como todos aqueles que nada faziam para desenvolver os bens que possuíam e que só sabiam esbanjar as riquezas que o país lhes deixava.

Não tinha paciência para as jovens debutantes que cruzavam seu caminho, muitas delas completamente casuais, sem conseguir produzir um único pensamento original, nem mesmo para as festas às quais era obrigado a ir como Conde. Além do fato de que todos queriam encontrar uma mulher, agora ele tem apenas vinte e cinco anos. Talvez seja por isso que, quando o Ministério da Defesa lhes propôs essa missão, eles se prepararam imediatamente. Filho de pai inglês e mãe francesa, ele não conseguiu aperfeiçoar os dois idiomas, nunca conseguindo contar suas origens e contribuindo com a herança de sua mãe na França, pois era tão famoso em um país quanto em outro. O espião perfeito.

Sorrindo, mostrando os dentes brancos e uma imagem substituída pelo seu sonho, ele olhou sério para a imagem de uma jovem mulher de cabelos ruivos e olhos verde-água vista em uma janela que não era aberta há muito tempo. Uma jovem muito parecida com uma das outras se transformou em um medalhão que um dos dois criados de Edmund de Lyons estava tentando vender e que foi encontrado perto do incêndio que consumiu a mansão.

Nesse momento uma batida chamou a sua atenção. Era o estalajadeiro Mousieur Rémy, que o vinha informar que o jantar estava pronto. Acenou e desencostando-se da janela dirigiu-se à porta. Pelo caminho sondou o estalajadeiro acerca da sua hóspede de cabelo ruivo, mas pouco ou nada descobriu. Somente que haviam recebido màs noticias, pois a acompanhante ficara muito transtornada ao receber a correspondência. Devereux ficou pensativo enquanto seguia Gerard como ele próprio se apresentara e insistira de ser chamado por sua Excelência, devia ser a notícia da morte dos pais.

Desceu os degraus em direção à sala de jantar. Mal entrou apercebeu-se de que esta estava apinhada e chamando uma das criadas que por ali passavam apressadas com tabuleiros cheios de comida solicitou uma sala privativa a troco de mais uns francos, pouco depois estava sentado à mesa com um outro cavalheiro e um agradàvel fogo ali ao pé. O cavalheiro apresentou-se como Sir Jonathan Scott, comandante de um navio mercante que usava para transportar passageiros ocasionalmente e mais frequentemente para exercer a àrdua tarefa de comerciante como ele dizia. Descreveu-se como um homem moderno que aproveitava o que a sorte lhe fornecia, neste caso o transporte de mercadorias de qualidade como brandy e sedas para Londres.

O contrabando era uma forma de comércio como qualquer outra apesar de perigoso. Era o resultado do embargo da Grã-Bretanha aos produtos de origem francesa. Quanto mais proibido era o fruto mais apetecido se tornava. Afinal ele estava ali também por causa disso, pois as rotas dos contrabandistas eram usadas pelos espiões franceses para levar e trazer informação da ilha e acabavam por ser a forma mais fàcil de atravessar o canal. Fora assim que ele chegara a França. Usando a rede de contrabando que sabia existir e fazendo-se passar por um nobre aborrecido da vida londrina que queria novas emoções. Estava incumbido de descobrir quem eram os traidores da coroa que estavam a passar informações sobre a movimentação do exército.

Quando chegara a Paris criara uma reputação de nobre dissoluto e começara a sua investigação de forma discreta, fora assim que descobrira a existência do Casal Real. Estes aparentavam ser um casal de nobres refugiados em Paris que viviam para os prazeres da vida. Prazeres esses muito caros. Movimentavam-se nos mais altos círculos da sociedade, e sabia-se serem conhecidos de Fleury. Ora só isso chegava para levantar suspeitas. Mas quando conseguira chegar perto deles estes haviam sido assassinados. E agora devido a esse infeliz incidente encontrava-se numa estalagem a seguir uma imagem que vira num medalhão...

- Não acha Lord Devereux?

- Desculpe, distraí-me com o calor do fogo e o sabor deste belo brandy que o estalajadeiro nos serviu. Qual era a sua questão Sir Scott?

- Estava a questionà-lo acerca da sua presença aqui em Saint-Malo, pretende voltar para a ilha? Caso necessite posso transportà-lo com todas as condições - disse mostrando um meio sorriso. Devereux ficou alerta.




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