Entretanto na casa senhorial em Ipswitch
O Conde de Devonshire acordou com uma sensação de cansaço superior ao que era normal acontecer. Desde que a esposa falecera que os seus dias tinham virado uma monotonia devastadora, e o cansaço começara a fazer parte da sua vida. Ele sabia que estava doente, mesmo muito doente. Pelo menos com ela, ele sempre tinha motivo para discutir e falar. Apesar de muitos pensarem que ela era arrogante e fria, tinha sempre sido doce e amiga dele. Ele podia dizer que tivera um casamento abençoado, muito diferente dos casamentos normais da aristocracia.
A única coisa que lhe dera alento fora aquela missiva que chegara de Paris. Ele tinha uma neta, uma herdeira, não se importava como muitos que ela não fosse um homem, era sangue do seu sangue, isso sim era importante. E estava sozinha no mundo como ele agora que o seu filho havia falecido. Sim ele também fora informado desse triste acontecimento.
Tocou na sineta que estava pendurada ao lado da sua cama para chamar o seu camareiro. Pouco depois este entrava com o seu pequeno-almoço, o jornal e um maço de correspondência para ele ver.
- Então Jaspers, como està o dia là fora, ontem quando fui dormir estava uma tempestade diabólica, espero que os cavalos estejam bem? – Perguntou enquanto este se dirigia ao seu armàrio para escolher a roupa que iria usar.
- Està sol, senhor, e uma brisa suave. Penso que os seus cavalos estão bem, pelo menos ouvi o mestre das cavalariças dizer que pôs os cavalariços a dormir com eles. Não fossem estes assustar-se e arranjar forma de fugir. – Respondeu enquanto tirava um fato de tom escuro e uma camisa do armàrio.
- Ótimo, e os camponeses, houve algum incidente? – Questionou enquanto pegava no jornal para começar a ler.
- Só as ovelhas do senhor Harris é que se tresmalharam, mas ele jà as recuperou com a ajuda dos jardineiros. O riacho transbordou para os campos do lado norte mas como estes estavam na altura de descanso não se perderam colheitas.
- Humm … então não houveram prejuízos. Ainda bem.- Comentou, continuando a desfolhar o jornal. Nisto uma notícia chamou-lhe a atenção. “Um navio de comércio, liderado pelo Capitão Scott, tinha perdido muita da sua carga na tempestade de ontem, e dois dos passageiros estavam desaparecidos.”
- Jaspers, a minha roupa, depressa, e mande aprontar a minha carruagem, tenho de ir para Plymouth.
- Mas senhor, e o almoço com sua senhoria?
- Cancele-o diga-lhe que surgiu um imprevisto. Ràpido homem.
- Sim senhor – disse Jaspers que nunca tinha visto o seu empregador tão desnorteado.
No espaço de meia hora, o Conde de Devonshire partia em direção ao porto de Plymouth, sempre a dizer ao cocheiro para ir mais depressa. O tempo parecia demorar uma eternidade a passar. Finalmente chegou ao porto e dirigiu-se diretamente ao local onde o Azure tinha acabado de ancorar. E aguardou com o coração a mil.
Quando Amélie desceu do Azure a primeira pessoa que viu foi a figura imponente do Conde de Devenshire.
Quando ele a viu descer, apressou-se até ela, seus olhos cheios de perguntas.
— Amélie, onde està minha neta? Onde està Tabitha? — exigiu ele, com a voz carregada de emoção.
Amélie tentou responder, mas as palavras ficaram presas. Finalmente, ela balançou a cabeça com as làgrimas a escorrer pelo rosto.
— Não sei, My Lord. A tempestade... Ela e Lord Devereux foram lançados ao mar. Não pude salvà-los.
O Conde cambaleou ligeiramente, mas recuperou-se rapidamente e segurou os ombros de Amélie com firmeza.
— Não vamos desistir dela. Tabitha é forte, e Devereux é um homem engenhoso. Contratarei todos os navios deste porto, se necessàrio, mas encontraremos a minha neta.
Amélie assentiu, enxugando as làgrimas.
Pouco tempo depois, o capitão não ficou nada espantado ao receber o cartão do Duque, de fato esperava-o a qualquer momento, se aquilo que Lady Tabitha tinha dito fosse verdade, e aparentemente era. Disse ao seu imediato para introduzir o Duque no seu camarote. Mal este entrou Scott levantou-se para o receber e cumprimentou-o com uma vénia como era devido à posição que este detinha mas não estava à espera da reação do aristocrata ao entrar.
Lord Devonshire entrou no camarote e dirigiu-se diretamente ao Capitão agarrando-o pelos ombros e com làgrimas a brilhar nos olhos e uma voz trémula perguntou-lhe.
- Diga-me que eles estão vivos, por favor…
- My Lord sente-se. – Pediu o Capitão preocupado.
- Diga-me – exigiu abanando-o.
- Não lhe sei dar uma resposta concreta, My Lord, a tempestade foi muito forte, ainda não sei como conseguimos sobreviver.
Ao ouvir isto o Duque desabou sobre uma cadeira próxima. Ao vê-lo tão branco o Capitão dirigiu-se apressadamente ao aparador onde tinha o conhaque e serviu uma dose generosa que colocou na mão do velho senhor.
- Beba isto My Lord, vai ajudà-lo.
- Perdi-os … - disse com uma expressão de total desânimo e levando o copo aos làbios.
- Não lhe querendo dar falsas esperanças mas existem algumas ilhotas na zona onde eles caíram pode ser que tenham conseguido chegar a uma delas.