O horizonte tingiu-se com os tons dourados do amanhecer, banhando as àguas ao redor da ilha de Sark com uma luz suave e transformando o mar num espelho cintilante. O Azure, navegando com a dignidade de um veterano que resistiu a muitas tempestades, movia-se com cuidado em direção ao pequeno porto, acompanhado pela imponente fragata Queen Elizabeth. Esta última, com suas velas impecàveis e trinta e dois canhões em posição, exalava uma presença marcial que contrastava com o ar remendado do Azure. No convés, o Conde de Devonshire permanecia imóvel, os olhos fixos na costa. As marcas do tempo e da tensão não diminuíam sua postura digna, mas a sua expressão denunciava uma mistura de esperança e apreensão. Quando o navio lançou âncora, ele virou-se para o Capitão Scott com determinação.
— Prepare os botes imediatamente, Capitão. Quero ver esta ilha de uma ponta à outra antes que o sol esteja completamente no céu.
O Capitão sempre eficiente, respondeu com prontidão.
— Sim, My Lord. A equipe jà està pronta.
Pouco depois, os botes estavam na àgua, e a comitiva começou a remar em direção à costa. O Conde liderava o grupo, apoiando-se levemente na bengala enquanto seu olhar perscrutava a paisagem com atenção.
No topo da colina, com uma vista privilegiada do movimento no porto, Tabitha estava acompanhada por Ethan. Ela avistou os botes e sentiu o coração acelerar.
— Parece que o resgate finalmente chegou, — comentou Ethan, os olhos fixos nas embarcações que se aproximavam.
Tabitha apertava nervosamente o tecido do vestido, incapaz de conter o misto de alívio e ansiedade.
— O meu avô... serà que ele veio? — perguntou, quase como se falasse consigo mesma.
Ethan, perceptivo, notou o nervosismo na voz dela e agarrou a mão dela.
— Ele nunca deixaria de procurà-la, Tabitha. É um homem que valoriza profundamente aqueles que ama. Não se preocupe, minha querida. Estarei ao seu lado.
Tabitha hesitou por um momento, mas finalmente assentiu.
— Vamos para a mansão. Eles devem chegar là em breve.
Na praia, o Capitão Scott desembarcou primeiro, determinado a obter informações. Abordou um pescador que observava o grupo de recém-chegados.
— Bom dia, senhor. Sou o Capitão Scott, vindo a mando do Conde de Devonshire. Por acaso, sabe se deram à costa alguns sobreviventes de um naúfragio recentemente?
O pescador, um homem de aparência robusta, assentiu.
— Encontraram dois, sim, senhor. Um homem e uma jovem. Estão hospedados na mansão de Lord Granger, là na colina. Os nomes... — ele fez uma pausa para recordar — Lord Devereux e Lady Tabitha.
O Capitão agradeceu e dirigiu-se ao Conde.
— My Lord, confirmaram que a sua neta e Lord Devereux estão vivos e foram acolhidos na mansão de Lord Granger.
O alívio atravessou o semblante do Conde, suavizando por um momento a sua expressão austera.
— Vamos à mansão imediatamente.
A mansão de Lord Granger era uma construção austera de pedra clara, destacava-se no cenàrio com seus jardins bem cuidados e ar de solidez. No interior, Lord Granger estava no seu escritório, analisando alguns documentos, quando a sineta da porta ecoou pelos corredores.
Pouco depois, o Smith, o mordomo entrou apressadamente.
— Milorde, a comitiva do Azure chegou. Estão na entrada, liderados pelo Capitão Scott e pelo Conde de Devonshire. Vem também com eles um enviado do Parlamento.
Granger ajeitou o colete com precisão antes de responder.
— Deixe-os entrar, Smith, e avise a Sra. Granger. Leve-os para a sala de estar. Este é um dia importante.
Na entrada principal, o Capitão Scott, o Sr. Caldwell e o Conde de Devonshire lideravam a comitiva. Atràs deles, alguns marinheiros carregavam pequenos baús com provisões e mantas. Apesar do cansaço evidente, o Conde mantinha a postura impecàvel. Lord Granger saiu para recebê-los pessoalmente, inclinando a cabeça em deferência.
— Lord Devonshire, Capitão Scott, Sr. Caldwell, sejam bem-vindos à minha casa.
O Conde avançou um passo, apoiando-se levemente na bengala.
— Lord Granger, sou eu quem deve agradecer. Soube que acolheu a minha neta e Lord Devereux após o seu infortúnio e saber que estiveram sob o seu cuidado trouxe-me um alívio indescritível.
Granger respondeu com um sorriso acolhedor.
— A sua neta é uma jovem notàvel, My Lord. Foi um prazer e uma responsabilidade abrigà-la aqui. Ela e Lord Devereux foram hóspedes exemplares, apesar das circunstâncias difíceis. Mas vamos para a sala, là poderemos conversar sentados com um bom brandy enquanto a minha esposa vai chamar a sua neta e Lord Devereux.
O Capitão Scott, que observava em silêncio, interveio.
— Se me permitem, gostaria de garantir que os preparativos para o retorno sejam realizados. Lord Granger, sua ajuda em acomodar os sobreviventes foi vital. Agradeço-lhe sinceramente. — Ele olhou para o Conde e este assentiu.
— Faça o necessàrio, Capitão.