Ethan chegou a Londres com um propósito claro. Ele sabia que o tempo estava contra ele — o casamento de Tabitha com Eddington estava cada vez mais próximo, e a sua única hipotese de conseguir impedi-lo era agir rapidamente. Vindo diretamente de Ipswitch, vestido de maneira simples para não chamar a atenção, ele dirigiu-se ao Garden District, onde a casa de Tabitha se erguia, imponente e serena, sem suspeitar do turbilhão prestes a desenrolar-se no seu interior. Quando chegou à residência, foi conduzido por uma criada até ao salão principal. O ambiente era calmo, como se o silêncio também estivesse à espera do confronto iminente. E foi então que ele a viu. Tabitha estava ali, de costas para ele a arranjar um jarrão com flores, notou que ela estava mais pàlida, e os seus ombros estavam caidos como se carregassem o peso enorme, mas sua postura era ereta apesar disso. Ao ouvir a criada a anunciar a chegada de Lord Devereux para a visitar, Tabitha voltou-se com a desconfiança no seu olhar misturada com incredulidade, e foi isso que lhe deu coragem para falar.
— Ethan,... o que faz aqui? — a voz dela, baixa e tensa, cortou o silêncio. — Pensei que me tivesse abandonado... ou pior.
Ele respirou fundo, sem desviar o olhar.
— Tabitha,.., ouça-me por favor, eu fui raptado, eu não desapareci porque quis. Tabitha foi tudo foi orquestrado por Eddington. Ele é Scorpio.
Tabitha deu um passo para tràs, o choque estampado no seu rosto. A incredulidade misturava-se à raiva e à confusão.
— Isso é ridículo, Ethan. O Duque é um homem respeitàvel. Ele ajudou-me quando eu não podia pedir ajuda a mais ninguém, deu-me uma forma de proteger a minha reputação quando desapareceu. Como pode acusà-lo de algo tão grave?
Ethan avançou um passo, a necessidade de convencê-la maior do que qualquer medo ou hesitação. A voz dele era grave, mas carregada de uma emoção que ele não conseguia mais conter.
— Sei que é difícil acreditar, mas eu vi coisas que não podem ser ignoradas. Ele não quer apenas casar-se com consigo; ele quer usà-la, a si ao seu nome para consolidar os seus esquemas. Os documentos que encontrou... Tabitha, ele sabe que você os tem.
Tabitha vacilou. O ar parecia pesado, e ela demorou alguns segundos para responder. Baixou os olhos para o chão, como se estivessea lutar com os seus próprios pensamentos.
— E se estiver errado? — ela murmurou, a dúvida aparecendo na sua voz. — E se tudo isto for um erro terrível?
Ethan aproximou-se, o coração a bater fortemente, e segurou as mãos dela com força, mas também com suavidade, como se tivesse medo de partir algo delicado. Os seus olhos estavam fixos nos dela, não apenas tentando convencê-la, mas ao mesmo tempo a pedir que ela acreditasse nele.
— Se eu estiver errado, ficarei ao seu lado. Mas, Tabitha, e se eu estiver certo? Arriscaria a sua vida e a do nosso filho por causa de uma dúvida?
Tabitha arregalou os olhos e se Ethan duvidasse da veracidade do que lhe fora dito, naquele momento acreditaria.
— Você sabe... sobre o bebê? — ela perguntou, a voz quase desaparecendo.
Ethan assentiu, a intensidade do que sentia espelhada no seu olhar. Ele inclinou-se ligeiramente, os làbios tocando os dela com uma suavidade imensa, mas também com uma força silenciosa, uma promessa de tudo o que estava em jogo. Quando se separaram, o silêncio que se seguiu parecia mais pesado do que o que havia antes. Tabitha respirou fundo, o peso da decisão agora nos seus ombros. Ela olhou para ele, os olhos ainda cheios de incerteza, mas também com uma faísca de determinação.
— Fui convidada para ir ao baile da Marquesa de Edimburgo. Là, vou cancelar o casamento assim ele não tem hipótese de me coagir e ameaçar, acho que ele não quer causar um escândalo e chamar a atenção para si.
- Não se preocupe, eu vou estar là consigo. Mas agora tenho de ir antes que alguém me veja e diga a Eddington que falou comigo.
***
A mansão dos Marqueses de Edimburgo estava deslumbrante, iluminada por candelabros dourados que lançavam uma luz suave sobre os rostos refinados da elite de Londres. Os convidados, vestidos com seus melhores trajes, conversavam e riam, mas a tensão no ar era palpàvel. Tabitha entrou ao lado de Eddington trajava um deslumbrante vestido branco adornado com pequenas pedras preciosas, na sua garganta um colar de diamantes, mas seu olhar estava distante, inquieto. O som da música e os risos dos outros convidados pareciam distantes como se estivesse num outro mundo, enquanto seu coração batia forte, ansioso pelo confronto que sabia que tinha que enfrentar. Ethan, disfarçado entre os convidados, observava atentamente, cada movimento de Eddington a ser observado. Ele sabia que o momento estava proximo. Durante uma dança, Tabitha puxou Eddington para um canto mais discreto da sala, longe da curiosidade dos olhares alheios. A música abafada e a quietude do local deram-lhe coragem suficiente para finalmente falar, mesmo com o terror que sentia a correr nas suas veias.
— Senhor Duque, eu não posso continuar com este casamento — disse ela, a voz baixa, mas firme, refletindo a decisão que tomara, mas que ainda soava estranha até para ela mesma.
Eddington olhou-a, os seus olhos estreitando com um lampejo de irritação, mas a sua voz manteve a calma ameaçadora de sempre.
— Tabitha, não seja impulsiva. A senhorita sabe o que està em jogo. Não pode simplesmente cancelar tudo, sem mais nem menos, e fazer de mim palhaço, pense no escândalo que provocarà. E na desilusão do seu avô.