Dois dias após os eventos no armazém, Ethan regressou à casa de Tabitha. A mansão repousava em um pequeno vale, rodeada por àrvores que balançavam suavemente ao ritmo de uma brisa fresca de outono. Tabitha encontrava-se no jardim, sentada em um banco de ferro forjado decorado com delicados arabescos. A expressão em seu rosto era contemplativa, e ela segurava uma pequena flor nas mãos, girando-a distraidamente entre os dedos. Quando ela viu Ethan caminhando pelo caminho de pedras que levava até o banco, levantou-se rapidamente, o alívio evidente em seus olhos.
— Ethan! — chamou, a voz carregada de emoção contida. — Descobriu alguma coisa?
Ele aproximou-se, a postura rígida e o rosto sério, mas quando viu o quanto ela estava ansiosa, suavizou o tom para não alarmà-la.
— Encontramos Scorpio, mas ele conseguiu fugir... ferido. — Ele fez uma pausa, observando-a cuidadosamente. — Tabitha, precisamos voltar a Londres. Este jogo ainda não acabou.
Tabitha ouviu as palavras dele em silêncio por alguns instantes, absorvendo a seriedade da situação. Então, algo no seu olhar mudou. O medo deu lugar à determinação, e ela ergueu o queixo com firmeza.
— Se hà algo que eu possa fazer para ajudar, eu farei.
Por um momento, Ethan ficou imóvel, surpreso com a força de vontade dela. Ele colocou uma mão reconfortante na sua cintura e puxou-a para si, os seus dedos firmes, mas gentis.
— A tua presença jà é suficiente. — Ele esboçou um sorriso breve, mas sincero. — Hà um jantar social esta noite, e Eddington estarà là. Preciso que venhas comigo.
Tabitha franziu a testa, preocupada.
— O Duque de Eddington?
— Eu vi, Tabitha. Não hà dúvidas. Eddington é Scorpio.
Tabitha parou, o corpo tenso, como se as palavras tivessem atingido diretamente a sua alma.
— Eddington? — murmurou, a incredulidade misturando-se à raiva que crescia rapidamente. — Foi ele? Foi ele quem destruiu a minha família?
Os olhos dela, que antes carregavam um brilho de vulnerabilidade, agora estavam fixos em Ethan, cheios de dor e determinação. A pergunta pairava no ar, carregada de uma emoção crua.
— Tabitha... tudo aponta para ele.
Ela respirou fundo, tentando conter as làgrimas que ameaçavam surgir, mas sua expressão endureceu.
— Então precisamos acabar com isso.
Por um momento, o silêncio instalou-se entre eles, mas não era vazio. Era denso, cheio de significados não ditos. Eles sabiam que o que estava por vir exigiria não apenas coragem, mas também uma confiança mútua inabalàvel. Ethan deu um passo à frente, colocando uma mão firme sobre o ombro dela.
— Prometo que não descansarei até encontrarmos justiça para a tua família. Não estàs sozinha, Tabitha.
Ela assentiu, a dor transformando-se em determinação.
— E eu não recuarei. Se ele é o responsàvel, ele vai pagar.
Ethan hesitou. O vento balançou os galhos acima deles, espalhando folhas douradas ao redor. Ele fechou os olhos por um momento, como se pesasse as suas palavras. As horas que se seguiram ao reencontro foram marcadas por momentos de cumplicidade silenciosa entre os dois. Após decidirem os próximos passos, Ethan e Tabitha saíram para uma caminhada pelos campos que cercavam a mansão. O tempo estava nublado, e o ar tinha um cheiro fresco de terra molhada.
Tabitha trajava um vestido simples, mas elegante, em tons de creme, e um casaco de lã que contrastava com os cabelos soltos que caíam sobre os seus ombros. Ethan, como sempre, estava vestido de forma pràtica, com um casaco escuro e botas que denunciavam sua origem nobre. Ainda assim, havia algo na forma como ele caminhava ao lado dela que mostrava um cuidado que ia além das palavras.
— Por que insiste em me proteger tanto? — perguntou Tabitha de repente, olhando para o horizonte.
Ethan parou de andar e voltou-se para ela. Por um instante, ele pareceu lutar com as palavras, algo raro para um homem tão direto.
— Porque você jà passou por muito. Mais do que qualquer pessoa deveria. E, para ser honesto... não quero que você se machuque novamente.
Ela corou levemente, desviando o olhar. Mas havia um sorriso tímido em seus làbios.
— Você também jà passou por muito, Ethan. Não precisa carregar tudo sozinho.
O silêncio que se seguiu foi confortàvel. Eles continuaram andando, os passos sincronizados. Ele apontou para um pequeno riacho ao longe, onde as àguas cintilavam sob a luz que escapava pelas nuvens. Mais tarde, ao retornarem à mansão, Tabitha insistiu em preparar chà para os dois. Sentaram-se na sala de estar, onde uma lareira crepitava suavemente, enchendo o espaço com um calor acolhedor. Tabitha contou histórias de sua infância, arrancando sorrisos genuínos de Ethan, que, por um breve momento, pareceu esquecer o peso das responsabilidades que carregava.
— Nunca pensei que pudesse confiar tanto em alguém novamente, Ethan. — A sua voz era suave, quase um sussurro.
Ethan ficou em silêncio por um momento, os olhos negros fixos em Tabitha, como se tentasse decifrar os sentimentos que ela escondia sob a màscara de determinação. Havia algo na maneira como ela o encarava, sem desviar o olhar, que o fazia questionar tudo o que sabia sobre si mesmo.