Episodio 5

Northwyck Hall, alguns dias depois

A empregada bateu duas vezes e entrou no quarto de Rowena sem esperar resposta. Ela segurava um envelope.
"Ela voltou da cidade, senhorita", disse simplesmente, em voz baixa, embora seu olhar se demorasse um segundo a mais do que o normal. Doía-lhe ver sua filhinha tão sozinha.

Rowena ergueu os olhos da janela. Estava sentada em um banco acolchoado, com as mãos apoiadas nos joelhos, vestida com um robe azul-acinzentado que lhe caía sobre os braços como uma névoa. Ela não conseguira dormir naquela noite e ouvia o vento nas árvores desde o amanhecer.

Ela pegou a carta. O selo estava intacto, com o brasão da família gravado na cera vermelha.
A criada recuou um pouco, mas permaneceu junto à porta, como se estivesse esperando. Rowena rompeu o selo e leu. Seus olhos não se moveram mais do que o necessário.

Rowena,
sua apresentação oficial à sociedade ocorrerá na próxima temporada. Sua presença em Londres será necessária a partir do dia 20 deste mês. A carruagem partirá de Northwyck Hall pela manhã. Os criados já receberam suas instruções.
Durante sua estadia, você residirá na casa em Park Lane. Nenhuma forma de resistência ou comportamento impróprio será tolerada de sua parte. Sua conduta deve refletir, sem exceção, os valores de nossa casa.
Espero que você compreenda a importância deste passo para o nome Bellavere.
Alaric Bellavere,
8º Conde de Bellavere

Nada mais. Nada de "querida filha". Ela dobrou o papel e o deixou na mesinha ao lado. Seu pai havia decidido. E, como sempre, sua decisão era lei. Ela sabia muito bem o que a esperava: vestidos caros, convites para bailes, olhares apreciativos e sorrisos convidativos. Um desfile de pretendentes escolhidos não pelo que eram, mas pelo que representavam. Tudo sob o olhar atento de um homem que a via apenas como uma extensão de sua linhagem.

A criada ainda esperava.
"Obrigada, Miriam. Pode ir.
" "Como quiser, senhorita", murmurou a mulher, hesitando por um instante. Então, retirou-se silenciosamente e fechou a porta atrás de si.

Rowena ficou sozinha. Por alguns segundos, ela não se moveu. Então, levantou-se, atravessou o quarto lentamente e parou em frente ao espelho. Respirou fundo. O reflexo a espelhava — firme, irrepreensível, impecável.
"Chegou a hora, então", murmurou.
E virou as costas para o espelho.