Naquela noite, depois do show, Clara e Lucas sentaram-se nos fundos do bar, onde o som da cidade parecia distante. Ele trouxe dois cafés — simples, forte e quente — do jeito que ela não costumava tomar, mas que, estranhamente, parecia perfeito naquele momento.
— Você sempre canta aqui? — ele perguntou, curioso, mexendo distraidamente na xícara.
— Na verdade... foi a primeira vez. — Ela sorriu, meio envergonhada. — Quero começar do zero. Sem o peso do sobrenome, sem os privilégios... só eu e minha música.
Lucas assentiu, admirando a coragem dela.
— Nem todo mundo tem essa escolha — comentou, olhando para as mãos calejadas. — Mas admiro quem tem e ainda assim escolhe lutar.
O silêncio que se seguiu não foi desconfortável. Era como se as palavras não fossem necessárias para preencher aquele espaço. Só o som da respiração, do vento e, talvez, dos corações que começavam a se sincronizar.
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Nos dias que se seguiram, Clara voltou ao bar para tocar, e Lucas estava sempre lá, fosse ajeitando os cabos, regulando o som, ou apenas sentado no canto, sorrindo enquanto ela cantava.
Com o tempo, ele passou a ajudá-la além dos shows. Gravava vídeos dela, dava dicas, ajudava a divulgar nas redes sociais, sempre acreditando mais nela do que ela própria às vezes conseguia.
Porém, nem tudo era perfeito. O pai de Clara descobriu sobre seus shows e, principalmente, sobre Lucas.
— Esse rapaz não tem nada a te oferecer, Clara — ele disse, com aquele tom frio e autoritário. — Você nasceu para coisas grandes, não para se perder com gente... comum.
As palavras machucaram, mas também serviram como combustível.
Naquela mesma noite, Clara ligou para Lucas.
— Se eu te dissesse que estou disposta a largar tudo pra viver da música... e talvez... viver com você, o que você me diria? — a voz dela tremia, mas estava cheia de verdade.
Do outro lado, Lucas demorou alguns segundos, mas respondeu, firme e doce:
— Eu te diria que... não importa se a gente vai ter palcos ou calçadas. Se for com você, eu canto até sem microfone.
E foi assim que, juntos, eles começaram a trilhar uma estrada cheia de desafios, pequenos palcos, olhares julgadores, mas também cheia de risadas, cumplicidade, amor e, claro, música.
Editado: 25.05.2025