O filho da Guerra

Capítulo 2: "nas sombras do submundo"

Desceram pelos becos estreitos da Cidade de Metal, até alcançarem o acesso aos esgotos. O odor era pungente, uma mistura de ferrugem, podridão e sujeira acumulada por anos. Gaikos, Tharokk e Kaela sabiam que, além da imundície, o submundo daquela cidade guardava segredos perigosos. Os esgotos eram mais do que um local de refugo, serviam como abrigo para os renegados, amaldiçoados e, mais importante, o palco para as lutas clandestinas que buscavam.

A escuridão aumentava à medida que desciam, e os sons da cidade acima começavam a desaparecer, substituídos por ocas reverberações de goteiras e passos distantes. De repente, algo se moveu nas sombras à frente. Gaikos parou e ergueu a mão, sinalizando para que os outros também parassem.

Dos cantos sombrios, surgiram figuras pequenas e deformadas: homens-rato. Criaturas de aparência miserável, amaldiçoadas pela mordida, vivendo como sombras no submundo. Os olhos vermelhos brilhavam na penumbra enquanto seus dentes afiados rangiam em expectativa.

Um dos homens-rato, mais ousado, se aproximou. "O que vocês fazem aqui?", perguntou ele, a voz rouca e sibilante. Sua cauda se enrolava no chão molhado enquanto seus olhos se estreitavam em desconfiança.

Tharokk, com sua habitual falta de paciência, deu um passo à frente, respondendo antes que Gaikos pudesse abrir a boca. "Viemos atrás das lutas clandestinas. Sabemos que há um circuito aqui embaixo."

O homem-rato riu, um som agudo e perturbador. "Vocês sabem que essas lutas não são brincadeiras, não é? Muitos morrem... devorados ou despedaçados."

Kaela, sempre perspicaz, manteve-se atenta a cada movimento, suas orelhas captando qualquer ruído suspeito. Mas Tharokk, sem perder a postura confiante, replicou: "Sim, sabemos. Mas sabe o que mais mata as pessoas? A fome. O frio. Já passamos por isso. Agora, se quiser nos ajudar, pode nos levar ao lugar certo. Se não, continuamos sozinhos."

O homem-rato pareceu considerar por um momento, coçando a cabeça com suas garras sujas. Ele farejava o ar ao redor de Gaikos, Tharokk e Kaela, como se pudesse detectar suas intenções através do cheiro. Após um silêncio tenso, ele finalmente deu um passo para trás e assentiu. "Vocês parecem saber no que estão se metendo. Sigam-me."

Eles seguiram o homem-rato pelos corredores labirínticos dos esgotos, passando por arcos de pedra úmidos e corredores apertados. Gaikos se manteve atento, com os punhos cerrados e os sentidos afiados, sabendo que qualquer deslize poderia custar caro. Tharokk caminhava ao seu lado, impassível, enquanto Kaela seguia mais atrás, seus olhos lupinos varrendo as sombras.

O caminho os levou a uma grande abertura, onde um grupo de figuras sombrias se aglomerava ao redor de uma arena improvisada, iluminada apenas por tochas espalhadas pelos cantos. Lá, eles viram pessoas de todas as raças: orcs, humanos, lupinos, dragonoides, e, claro, mais homens-rato. Alguns lutadores já estavam no centro da arena, trocando golpes brutais enquanto os espectadores gritavam e apostavam, suas vozes ecoando pelo espaço fechado.

"Bem-vindos às Lutas de Sangue," disse o homem-rato, com um sorriso cheio de dentes afiados. "Aqui, só há uma regra: sobreviva."

Gaikos trocou um olhar com Tharokk. O submundo finalmente se revelou diante deles, e o risco, mais do que nunca, era real. Cada passo daqui para frente poderia levá-los a riquezas... ou à morte. Kaela, apesar de ter 14 anos como Gaikos, era seis meses mais jovem e notavelmente menor. Com seus 1,40 metros, ela mal se destacava em meio aos homens-rato, tendo que erguer o pescoço para acompanhar seus amigos. No entanto, a pequena lupina possuía sentidos aguçados como nenhum outro. Sua visão noturna captava cada detalhe do lugar, mesmo nas sombras mais densas. Ela viu as trocas de apostas furtivas, o preparo das armas escondidas e os olhares desconfiados dos espectadores. Mas, seu olfato — uma maldição em lugares como aquele — a estava traindo.

O cheiro era insuportável: urina, fezes, sangue fresco e velho, venenos exalando de frascos abertos, suor de criaturas ansiosas pelo combate. Tudo isso sobrecarregava seu sistema sensorial, e logo Kaela começou a sentir náuseas. Seus joelhos fraquejaram e ela desabou, segurando o estômago com a mão enquanto tentava não vomitar.

Gaikos e Tharokk se aproximaram rapidamente, preocupados com a amiga. Antes que pudessem fazer qualquer coisa, um homem velho e corcunda, com um manto esfarrapado e barba grisalha, surgiu do meio da multidão. Ele parecia insignificante, mas havia uma sabedoria fria em seus olhos. Calmamente, ele entregou a Kaela um pequeno frasco com um líquido de cheiro forte.

“Beba”, disse ele em uma voz baixa e rouca.

Sem muita escolha, Kaela aceitou o frasco e tomou o líquido em um gole. O efeito foi quase instantâneo; seus sentidos começaram a se estabilizar e a náusea desapareceu. Ela respirou fundo, recobrando a consciência e o controle. O velho olhou para o grupo com um leve sorriso, mas seus olhos eram frios e calculistas.

"Dois moedas de ouro", disse ele casualmente.

Gaikos e Tharokk se entreolharam, percebendo tarde demais que haviam caído em um truque. O velho sabia que eles não podiam simplesmente ignorá-lo agora que Kaela estava bem, mas ainda assim tentaram negociar.

“Tudo bem, vamos assistir as lutas e depois pagamos,” disse Tharokk, tentando manter a compostura, mesmo sabendo que estavam nas mãos do velho.

O homem deu um leve aceno de cabeça, aparentemente satisfeito. “Boa sorte nas lutas, meninos. Vocês vão precisar.”

Sem mais palavras, ele desapareceu na multidão, deixando uma sensação desconfortável no ar. Gaikos e Tharokk sabiam que haviam sido enganados, mas não podiam se dar ao luxo de recuar agora. Eles se inscreveram para três lutas cada um e, com o pouco dinheiro que tinham, apostaram em si mesmos.

“Tem certeza que quer fazer isso?” Kaela perguntou, sua voz ainda frágil, mas com um tom de preocupação sincera. Embora se sentisse melhor, o ambiente ao redor ainda parecia opressor.



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En el texto hay: violencia, agrecion, violacion de derechos

Editado: 29.09.2024

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