O filho da Guerra

Capítulo 3: O peso da vantagem

Gaikos se levantou do canto improvisado do ringue, estalando os dedos e balançando os ombros, sentindo seus músculos relaxarem. A luz fraca do lugar iluminava o chão sujo, e ele pôde ver os olhos atentos da plateia fixos nele e em seu oponente, um lupino do tipo lobo. Com seus 1,85 metros de altura, o adversário parecia intimidante para quem observava de fora, mas para Gaikos, aquilo era apenas mais um obstáculo a ser superado. Ele era um ectomorfo definido, musculoso, muito semelhante ao físico de Gaikos, mas com o dobro de intensidade nos olhos selvagens.

Para Gaikos, no entanto, aquilo não parecia grande coisa. O nervosismo que ele havia sentido inicialmente desaparecera, e agora, diante do lupino, a única coisa que passava por sua mente era a estratégia. Ele havia assistido a luta de Tharokk e compreendeu que poderia adotar a mesma tática: estudar seu oponente antes de agir. No entanto, havia uma diferença — Gaikos não era apenas forte. Ele tinha um dom. Desde cedo, ele conseguia ler as pessoas, prever seus movimentos, entender como elas pensavam. Era como se cada golpe que seu adversário tentava desferir estivesse escrito em um livro aberto diante dele.

A luta começou com o lupino avançando rapidamente, seus dentes à mostra, tentando intimidar com uma série de golpes rápidos. Gaikos desviava com facilidade, como se soubesse exatamente onde cada soco e chute iria parar. A cada movimento falho do oponente, o jovem órfão se mantinha calmo, enquanto seu adversário começava a perder a compostura.

Os primeiros minutos da luta foram frustrantes para o lupino. Gaikos, por outro lado, já estava começando a ficar entediado. O lupino era hábil, mas previsível. Suas tentativas de atacar eram fáceis de prever e, com o tempo, Gaikos começou a desviar sem esforço, quase de forma casual. A cada esquiva, ele percebia a crescente frustração e raiva no olhar do oponente.

A plateia, que inicialmente estava animada, começou a esfriar. As pessoas vieram para ver uma luta, não um desfile de esquivas. Gaikos sabia que, se quisesse manter o interesse e ganhar a confiança daquelas pessoas — e mais importante, garantir que sua aposta valesse a pena — precisava terminar aquilo logo.

Quando o lupino avançou com um último golpe desesperado, furioso e descontrolado, Gaikos soube que era o momento. Ele se abaixou, evitando o soco, e com um movimento fluido e preciso, desferiu um gancho direto no maxilar do adversário. O som do impacto ecoou pelo lugar, e antes que o lupino pudesse sequer perceber o que havia acontecido, ele já estava caindo no chão, inconsciente. Três dentes voaram da boca do oponente, atingindo o chão de pedra com pequenos estalos.

A plateia ficou em silêncio por um breve momento, surpresa com a rapidez e a eficiência do golpe final. Logo depois, gritos de aprovação e risos preenchiam o ambiente. Gaikos, Tharokk e Kaela trocavam olhares. Eles sabiam que aquele lugar era perigoso. O cheiro de sangue, a tensão no ar, tudo ali gritava perigo. Mas para eles... aquilo não parecia "muito". Na verdade, para Gaikos, parecia quase uma rotina.

Eles haviam entrado naquele mundo por necessidade, não por escolha, mas enquanto os dias passavam e os desafios se apresentavam, começava a parecer que eles pertenciam àquilo. As apostas lhes renderam um total de 3 moedas de ouro. Para eles, duas lutas foram o suficiente para conseguirem o equivalente a nove meses de trabalho árduo. Em comparação, um camponês, trabalhando todos os dias de sol a sol, mal recebia uma moeda de ouro por mês. A fortuna que agora carregavam era composta por ouro que valia dez vezes mais que prata, e cem vezes mais que cobre. E, de uma só vez, eles sentiam o peso do que aquele dinheiro poderia comprar.

Sem perder tempo, pagaram o velho que havia ajudado Kaela e se prepararam para as próximas lutas que viriam. Não era apenas o dinheiro que os motivava, mas também a sensação de controle sobre a situação. Mesmo enfrentando assassinos e bandidos, os oponentes que surgiam diante deles não pareciam representar uma verdadeira ameaça. Para Tharokk e Gaikos, aquilo era o dinheiro mais fácil que poderiam ganhar. Kaela, ainda preocupada, observava à distância, ciente de que, apesar da aparente tranquilidade deles, o mundo subterrâneo em que estavam se envolvendo era traiçoeiro.

Nas lutas seguintes, no entanto, as apostas não foram tão lucrativas. O problema era que eles ganhavam sem esforço, o que tornava as lutas previsíveis e, para os apostadores, desinteressantes. As pessoas começaram a perceber que apostar contra Gaikos e Tharokk era perder dinheiro, e a excitação pela luta diminuía a cada vitória sem contestação. Aquele breve período de fácil fortuna começava a se desgastar, e os garotos perceberam que o verdadeiro desafio não estava em vencer as lutas, mas em continuar lucrando com elas.

Gaikos, observador como sempre, sabia que a cidade de Metal tinha suas próprias regras. Quanto mais eles ganhavam, mais atenção chamavam, e isso não era necessariamente bom.

Enquanto saíam do subterrâneo, todos os olhares estavam voltados para eles. Gaikos, Tharokk e Kaela haviam faturado 12 moedas de ouro em uma única noite. Uma quantia absurda para os padrões da cidade de Metal, onde a maioria mal conseguia uma moeda de cobre para sobreviver. Quando desceram para as lutas, ainda era tarde, mas ao subirem à superfície, a noite já havia caído. O ar estava fresco e silencioso, em contraste com o ambiente caótico dos esgotos.

Eles caminharam rapidamente pelas ruas estreitas, evitando chamar mais atenção do que já tinham atraído. A cidade de Metal podia ser cruel com aqueles que ostentavam riqueza inesperada. Ao chegarem em casa, foram recebidos por Antoni, o pai adotivo de Gaikos. Um ex-militar do exército do Reino de Termite, Antoni já estava velho, com os cabelos grisalhos e o corpo marcado pelas batalhas de um passado distante. Ele havia perdido o braço direito há muitos anos, mas sua presença continuava imponente.



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En el texto hay: violencia, agrecion, violacion de derechos

Editado: 29.09.2024

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