O filho da Guerra

Capitulo 4: Quem nos somos

Há 30 anos, Antoni Lativer era um guarda dedicado da cidade de Bronze, trabalhando ao lado de Gaios Brokel, um informante da cidade de Metal. Eles formavam uma dupla eficaz, monitorando de perto as atividades das gangues e do crime organizado que permeavam a cidade. Gaios trazia informações sobre movimentos e ações criminosas, enquanto Antoni mantinha a ordem e impedia o avanço do caos.

Em um dia fatídico, Gaios apareceu na porta de Antoni com duas crianças: Gaikos, um bebê humano, e seu próprio filho, Tharokk, um jovem orc. O semblante de Gaios estava carregado de preocupação. Ele explicou que Gaikos era uma criança especial, um Receptáculo, uma das raras criaturas nascidas com um Espírito Primordial dentro de si – seres poderosos que, devido ao seu valor, eram alvos do crime organizado.

— Antoni, preciso da sua ajuda — Gaios disse em tom grave. — Resgatei Gaikos de um carregamento de Receptáculos. O crime organizado vai procurar por ele incansavelmente, e minha casa será o primeiro lugar onde vão bater à porta. Não posso proteger ambos. Quero que cuide de Tharokk e de Gaikos. Você é a única pessoa em quem confio para isso.

Antoni aceitou a responsabilidade, prometendo a Gaios que criaria Tharokk e protegeria Gaikos a todo custo. Com o coração pesado, Gaios se despediu e partiu com sua família para a cidade de Prata, mas nunca mais seria visto vivo. Meses depois, foi morto em uma emboscada, vítima de uma conspiração arquitetada pelo crime organizado.

Gaios morreu meses depois assassinado junto com sua esposa, logo após a morte de Gaios, Antoni também caiu em desgraça. Falsamente acusado de desviar verbas do exército, ele foi deposto de sua posição como guarda. Como punição, teve seu braço arrancado, e sua reputação destruída. Essas ações tinham um propósito: o crime organizado queria arrancar de Antoni o paradeiro de Gaikos. Mesmo com toda a pressão e a violência, Antoni manteve o segredo, protegendo o menino a todo custo.

Desamparado e gravemente ferido, Antoni foi acolhido pela família de Latipha Carnel, uma mulher lupina que havia perdido o marido em um assalto a um carregamento de ouro que deu terrivelmente errado, anos antes de conhecer Antoni. Sozinha e responsável por sua filha, Kaela Carnel, Latipha gerenciava uma casa de apostas na cidade de Metal, que sustentava sua família.

Com o passar dos anos, Antoni e Latipha desenvolveram um relacionamento profundo. Mesmo com suas diferenças – ela sendo uma lupina e ele, humano – a conexão entre eles cresceu, transformando-se em um romance inesperado. Latipha, que havia sido marcada pela tragédia da perda de seu marido, encontrou em Antoni alguém com quem compartilhar suas lutas e desafios, além do amor e o cuidado pelas crianças.

Sob o teto de Latipha, Tharokk, Gaikos e Kaela cresceram juntos como irmãos. Antoni foi uma figura paterna para todos eles, ensinando-lhes habilidades de sobrevivência e disciplina. A família Carnel passou por altos e baixos, mas permaneceu unida.

No entanto, quando os três jovens tinham cerca de 12 anos, a casa de apostas de Latipha começou a declinar. A falência do negócio trouxe dificuldades financeiras à família, e Latipha, que antes sustentava a casa com seu trabalho incansável, se viu incapaz de manter o mesmo nível de estabilidade. Mesmo assim, ela permaneceu resiliente e determinada, fazendo o melhor que podia para criar os jovens.

Com a queda do negócio, Kaela, Tharokk e Gaikos amadureceram rapidamente. Tharokk herdou a força brutal de seu pai, Gaios Brokel, enquanto Gaikos, com sua inteligência e a condição de Receptáculo, começou a descobrir habilidades incomuns que o tornavam ainda mais especial e valioso. Kaela, determinada como sua mãe, se dedicou a ajudar sua família da melhor maneira que podia.

Mesmo com o declínio financeiro, os três jovens formaram um vínculo inquebrável. Unidos por laços de amor e lealdade, eles se apoiavam em todas as dificuldades, preparados para enfrentar os desafios vindouros. Especialmente Gaikos, cuja origem como Receptáculo ainda os cercava, tornando-o alvo de forças poderosas que se moviam nas sombras.

Agora, com Latipha lutando para manter a casa de pé e o passado sombrio de Gaikos ameaçando emergir a qualquer momento, a família estava prestes a enfrentar uma nova fase de desafios, mas, como sempre, estavam prontos para lutar juntos.

Debruçado sobre a mesa, Antoni permanecia pensativo, os olhos fixos em um ponto distante enquanto lembranças do passado dançavam em sua mente. A pressão em seus ombros era pesada, e ele sabia bem o que seus filhos estavam tentando fazer. Tharokk, Gaikos e Kaela estavam entrando nas lutas clandestinas para ajudar, para garantir a sobrevivência deles, mas o que mais o incomodava era o fato de que, no fundo, ele não podia evitar. Eles já haviam aprendido muito sobre o mundo cruel em que viviam.

Antoni suspirou profundamente, esfregando o rosto com a única mão que lhe restava, refletindo sobre tudo o que havia sacrificado. Ele sempre quis que aquelas crianças tivessem uma vida diferente, longe da brutalidade que ele mesmo conhecia tão bem. Mas a cidade de Metal, com seu submundo implacável, oferecia poucas saídas.

Enquanto ele se perdia em seus pensamentos, sentiu um abraço suave vindo por trás. Latipha, com seu toque gentil, envolveu seus ombros, trazendo consigo uma calma inesperada. Ela descansou a cabeça em seu ombro e sussurrou com um tom sereno, mas firme:

— "Se você vive no submundo, trabalha no submundo."

Suas palavras eram duras, mas cheias de sabedoria. Latipha sempre entendeu a realidade da cidade de Metal melhor do que ele. Ela sabia, desde o início, que viver naquele lugar inevitavelmente os levaria a escolhas difíceis. Não era apenas questão de sobreviver, mas de entender que, ali, as regras do jogo eram diferentes. Havia poucas maneiras de se manter à tona sem se sujar.

Antoni fechou os olhos por um momento, sentindo o calor do abraço de Latipha e permitindo-se relaxar, ainda que brevemente. Ele sabia que ela estava certa. Talvez ele tenha sido ingênuo por acreditar que poderia mantê-los todos longe desse caminho para sempre. Afinal, a cidade de Metal engolia todos, mais cedo ou mais tarde. No dia seguinte, o sol ainda estava baixo quando Antoni, com um esforço visível, levantou-se e foi até o baú antigo onde guardava sua espada. A lâmina, apesar de empoeirada, ainda refletia o brilho dos dias passados. Ele queria testar os garotos e ver como haviam se desenvolvido ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, estava ansioso para relembrar o que era sentir o peso e a força de uma luta.



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En el texto hay: violencia, agrecion, violacion de derechos

Editado: 29.09.2024

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