O senhor dos pastéis

A inspeção surpresa

Capítulo 3: Uma Inspeção Surpresa

A manhã estava quente, o óleo fervia com vontade e a velha pastelaria do Arlindo fumava como um dragão asmático. Tudo continuou normalmente: fritadeiras chiando, rádio tocando umas músicas dos anos 90, e Arlindo se misturando na massa com as mas nuanças e tranquilidade de que ja havia perdido o respeito pelo sistema de vigilância sanitária há muito tempo.

Até ela chegar.

Berenice.

Inspetor de vigilância sanitária da Arck.

Altura média, expressão glacial e folha de prancheta mais acentuada que de guilhotina.

Dizemos que quando ela entra num restaurante, os mais baratos já fecham. Sua fama a precede: ela foi chamada de “bruxa do banimento eterno”, não por magia, mas porque os lugares por onde passou eram fechados para sempre como uma banimento eterno.

Ela entrou silenciosamente. Passos firmes, pulando fazendo “knock toc” em um pedaço de cerâmica lascada. Olhei ao redor como se soubesse o que iria encontrar. Arlindo, do outro lado da sacada, ficou observando. Ele apenas abriu os olhos e bufou.

Berenice abriu os olhos. e IIniciou a inspeção sem dizer uma palavra.

Óleo com núcleo de poção não aquecido.

Utensílios com extremidades remendsdas com fita isolante.

Ausência de luvas.

Gordura no peito. Sim, e no teto.

Exaustor gemendo como fumaça fumegante.

Fritadeira sustentada por uma pilha de tijolos.

Ventilador com hélice presa num gancho.

E claro, o legal. Uma mistura de cebola frita, óleo reencarnado e nostalgia rançosa. Ela estava se preparando para dar o golpe final como um carimbo vermelho, quando a porta abre e a campainha frouxa tilintou como um arremesso metálico.

Entra Eloy Tavares.

Vereador, bigode robusto, camisa social com botão faltando, sorriso longo.

— "Arlindão! O de sempre, hein? Calabresa com queijo e a bendita cebola grelhada!"

Você se sentou na mesa de canto, aquela de lençol furado e pernas pretas. Passou a mão pêlos de buraquinhos com cheiro exótico.

— "Ah... Esses furinhos aqui... Fui eu que fiz com um palito de dente quando era moleque. Ficava pulando inquieto enquanto esperava o bolo de chocolate. Aquela mesa... aquela mesa viu histórias."

Berenice congelou. Ela reconheceu o homem naquele momento. Engoliu seco.

— "Sabia que foi aqui que joguei minha primeira partida de futebol de botão? Essas marcas aqui no canto... foi um golaço, final do campeonato de bairro. Usei um Toddy e uma tampinha como gol, ganhei do Vicente com um gol no último segundo. Uma mesa tinha uma inclinação, a bola desviou sozinha pro gol, hahaha!"

Arlindo riu, com as lembranças da infância de Elói que vinham com cheiro e sabor.

— "Lembro disso. Você saiu correndo com uma camisa na cabeça."

— "E como não lrebrar né? Meu pai jogava truco aqui nessa mesma mesa. Gritava 'TRUCOOOO!' zap na mão como se tivesse achado petróleo. Despejei uma vez um caldo de cana inteiro em cima da mesa. O cheiro ficou aqui por uma década.”

Quando você fecha os olhos por um segundo, você respira fundo e o aroma de fritura não te faz sorrir como se estivesse experimentando um perfume francês.

— "É isso... é memória. É infância. Está lá desde que o pai do Arlindo usava o avental. Este lugar é patrimônio!"

Berenice, assim como o carimbo vermelho na mão, começou a suar. Ela sabia que se aquela pastelaria fosse fechada, mesmo com todos os argumentos técnicos, seria transferido para o arquivo morto do almoxarifado sanitário, onde os fiscais vão pra encerrar suas carreiras. Ela olha para Arlindo.

Ele cruzou os braços.

— “Vai carimbar ou vai ouvir mais história?”

Com o maxilar cerrado e os olhos brilhando de raiva, ela carimbou a prancheta com o carimbo verde com tanta força que conseguiu marcar a madeira do outro lado.

CARIMBO: ADEQUADO (com resalvas)

Carimbou como se estivesse carimbando a própria alma.

— "Mas eu não ache que escapou, Arlindo. Essa espelunca ainda vai cair! Eu estarei aqui quando ela ruir, pedaço por pedaço!"

— "E eu vou fritar pastel nos escombros. Quer com queijo ou sem?, hahaha"

Berenice disse bufando, prancheta em punho, amaldiçoando mentalmente todas as cebolas grelhadas do mundo.

O vereador terminou seu pastel, limpou a boca com um guardanapo invisível (ou como o próprio lençol da mesa, nunca saberemos) e levantou-se com o sorriso calmo.

— “Tá bom, Arlindão. Semana que vem te vejo por aqui de novo, hein?”

Arlindo só se vira como um pano.

A pastelaria continuou como sempre: caindo aos pedaços, ilegal em todos os sentidos, mas sagrado para o coração que ali cresceu.



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En el texto hay: comedi

Editado: 26.05.2025

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