Capítulo 6 – A Tropa de Elite do Pastel
“Missão dada é missão frita!”
Depois da crítica celestial no GastroLux, da fila quilométrica e dos influenciadores que usavam pastel como skincare, Arlindo teve que tomar uma decisão difícil: expandir a equipe.
Sim, o homem que até então só aceitava ajuda da Zoraide (porque ela fritava com fé) e do Dudu (porque era de casa e barato) agora tinha que contratar uma tropa de elite pastelística.
Foi aí que ele montou o B.O.P.E.
Batalhão Operacional de Pastelaria Extrema.
Homens e mulheres treinados no fogo do óleo, armados com espátulas, conchas e aventais com o símbolo de uma caveira segurando um pastel.
No quintal de Zoraide, os candidatos estavam perfilados. Arlindo andava entre eles com a frigideira na mão, olhando cada um nos olhos como se estivesse vendo a alma (e o ponto da massa).
— “Você!” — gritou apontando para um garoto franzino — “Já fritou pastel na vida?”
— “Não, senhor... mas já fiz empada!”
SLAP!
Arlindo deu uma pastetada na cara dele com uma massa crua.
— “Empada? EMPADA?! Aqui não tem espaço pra empadinha gourmet não, parceiro! Aqui é pastel raiz! Aqui o recheio escorre na mão e queima o beiço!”
— “Senhor, sim, senhor!”
E assim o treinamento começou.
Zoraide, agora Tenente Zoraide, distribuía os aventais como se fossem coletes à prova de crítica.
— “Você quer usar esse avental?” — gritou, encarando um novato.
— “Sim, senhora!”
— “Você acha que merece esse avental?”
— “Sim, senhora!”
— “Merece porra nenhuma! Vai descascar 10 kg de batata doce com o dente, depois me traz 200 pastel de vento dobrado em triângulo equilátero!”
Na pastelaria, agora rebatizada informalmente pelos moradores como “A Caverna do Sabor”, o movimento era infernal.
Um cliente bateu na bancada:
— “Tem como colocar queijo extra no meu pastel?”
Dudu virou pra cozinha e gritou:
— “Capitão! Pedido de queijo extra!”
Arlindo pegou o pegador, virou-se em câmera lenta e berrou:
— “AFIRMATIVO, GUERREIRO! ENTÃO SENTA O DEDO NESSA PORRA!!”
O som da mussarela derretendo ecoou como uma granada gourmet. A gordura voava em slow motion. O cliente chorou. Zoraide fez o sinal da cruz.
Um dos novatos, Luan, achou que sabia demais. Tentou inovar o recheio colocando peito de peru defumado com geléia de pimenta.
Arlindo foi até ele, tirou o avental, jogou no chão, olhou nos olhos e disse:
— “Sai da minha cozinha. Você é moleque. Você não merece esse avental. Vai fazer tapioca em cafeteria vegana.”
Luan saiu chorando e tropeçando no tambor de óleo.
Naquele dia, a tropa fritou 527 pastéis, 82 litros de caldo de cana e enfrentou três críticos de TikTok, dois veganos infiltrados e um gringo que queria coxinha.
No fim do expediente, Arlindo reuniu todo mundo.
— “Eu queria dizer que hoje vocês não são mais recrutas. Vocês são soldados do sabor. Lutaram pelo recheio, morreram pelo tempero, renasceram na farinha.”
Zoraide enxugava uma lágrima com o pano de prato. Dudu tirava selfie com o cliente 500.
O bairro, agora oficialmente reconhecido pela prefeitura como “Território Pastelístico Autônomo”, estava em festa.
E enquanto todos comemoravam, Arlindo olhou pro alto, respirou fundo, e sussurrou:
— “Missão dada... é missão frita.”