O gosto do sal ainda não deixara os lábios de Roxana, mesmo após uma semana dentro das muralhas secas de Atenas. O ar quente subia das ruas empoeiradas, carregado de murmúrios de descontentamento e o odor acre de doença que se agarrava aos becos como um visitante indesejado. Roxana caminhava pela via Panatenaica, evitando os corpos enfaixados de vítimas da peste deixados ao sol, enquanto o vento soprava pedaços de papiro com listas de mortos. Nas paredes das casas, grafites rabiscados em carvão gritavam: "A Liga de Delos é um cadáver!" e "Esparta nos engolirá!". A ágora, outrora o coração pulsante da cidade, estava quase deserta, com apenas alguns vendedores oferecendo migalhas de pão e frutas murchas a preços exorbitantes. A grande cidade parecia um casco oco, ressoando apenas o eco da crise.
Ela, por sua vez, sentia-se um grão de areia naquele deserto de apatia. Seus senhores estavam presos às responsabilidades de Lesbos, e os magistrados atenienses estavam ocupados demais com suas próprias crises para dar atenção às súplicas de uma estrangeira. No pátio do Areópago, vozes se erguiam em discussões furiosas sobre rebeliões nas ilhas e a escassez de trigo na Ática, mas bastava uma aproximação de Roxana para que os olhares cansados se desviassem.
Finalmente, no quinto dia, um mensageiro apareceu em sua porta trazendo a resposta de uma das centenas de cartas que despachou, acompanhada de um convite indesejado. Ainda assim, era um convite. Então, Roxana revirou o seu malão em busca da sua personalidade daquela noite. Vestiu sua melhor túnica, uma peça simples na cor azul profundo, em harmonia aos seus olhos, acompanhada de um fino manto branco sobre um dos ombros, contrastando com a pele queimada de sol. Optou por brincos simples e um anel de prata, ambos decorados com pedras verdes. “Isso deve bastar”, pensou.
Enquanto se dirigia aos arredores da Acrópole, ela passou por um grupo de aristocratas, vestidos com túnicas imaculadas, que riam alto enquanto carregavam ânforas de vinho para um simpósio. Roxana apertou os punhos, mas seguiu em frente, mantendo o olhar fixo no chão. Quando se deu conta, já estava a cruzar um grande portal de pedra e pareceu que havia adentrado um mundo aparte.
Em meio aos luxuosos edifícios, a residência informada no seu convite se destacava. Era um monstro de mármore, suas colunas iluminadas por luzes quentes de tochas que projetavam sombras dançantes de figuras nuas contra as paredes decoradas com tapeçarias da Jônia. Antes mesmo de entrar, Roxana ouviu os gritos: risadas estridentes, copos quebrando, o gemido de uma lira desafinada.
“A residência de Alcibíades”, disseram os criados com uma reverência que parecia contradizer a reputação de seu anfitrião. Um desses criados, de olhos vermelhos e sorriso frouxo, se prontificou para guiá-la por corredores onde o cheiro do vinho derramado se misturava ao incenso caro. Roxana avançava, seus passos firmes sobre o mármore decorado, desviando de corpos languidamente dispostos em almofadas. Peles bronzeadas brilhavam à luz trêmula, e cálices de ouro eram erguidos em toques quase constantes.
Roxana tentou ignorar os olhares que pousavam sobre ela, dirigindo-se ao centro da sala, onde Alcibíades estava cercado por admiradores. No triclínio, Alcibíades reclinava-se em um divã, a túnica aberta no peito, escorregando perigosamente pelo ombro, segurando uma taça de ouro com dedos que brilhavam de óleo perfumado. Entre risadas resolutas, seus olhos se fixaram nela com uma intensidade preguiçosa, enquanto ele brincava com a borda do cálice de vinho.
— Ah, a flor de Lesbos! — exclamou ele, um sorriso curvando seus lábios enquanto se levantava com uma elegância casual. — Você finalmente chegou! Veio regar meu jardim com suas lágrimas de súplica?
Roxana manteve a postura ereta, os dedos tremendo levemente ao seu lado. Tentou ignorar as gargalhadas dos convidados. — Você sabe exatamente o único motivo de eu estar aqui.
Ele riu, um som alto e despreocupado, e estendeu a mão para puxá-la para perto. — Que seriedade. Tudo pode esperar. Primeiro, prove o vinho. É da melhor colheita de Quios. — Alcibíades puxou-a pelo pulso, fazendo-a sentar à sua frente. Seus dedos traçaram o contorno da cicatriz em seu braço, exposta pela túnica. — Que bela marca... escrava? — sussurrou, como se falasse de um poema, não de uma ferida de chicote.
Ela arrancou o braço.
— Ah, me desculpe, Roxana — sua expressão afrouxou num biquinho patético — Acho que começamos com o pé esquerdo. Veja, estou realmente muito ansioso para ouvir suas demandas certamente urgentes, mas acontece que você chegou no meio de uma história que eu contava. Portanto, deixe-me continuar. Tenho certeza de que vai gostar dessa. Aqui, pode usar essa taça — catou uma taça dourada do chão e entregou-a de cara limpa.
Quando a noite se aprofundava, depois de muitas horas de insinuações e risadas abafadas por trás de leques e taças, Alcibíades aparentemente cansou-se de provocá-la e fugiu para seus aposentos junto de um casal de jovens de cabelos dourados. Roxana permaneceu cercada das más companhias, e aproveitou a oportunidade para beliscar alguns dos apetitosos aperitivos que integravam o banquete. Incrivelmente, os convidados de Alcibíades mostraram-se menos desagradáveis sem a presença da má influência, mas permaneciam sendo o tipo de pessoas que Roxana preferia evitar.
Foi salva algum tempo depois por um dos criados que veio escoltá-la até os aposentos pessoais de Alcibíades, onde os dois jovens acabavam de sair aos risos frouxos. Lá, em um leito decorado com tecidos escarlates e almofadas exuberantes, ele estava semi-nu e insolente como um sátiro. — Venha, sente-se — disse com um sorriso de canto de boca.