Sob o Véu da Noite

Capítulo 13: Sussurros Sob o Lago

A primavera se derramava sobre o lago, pintando suas águas com reflexos dourados e matizes de azul cristalino. Raios de sol serpenteavam pelos espelhos d'água, projetando arcos-íris sobre os salões de pedra verde clara. A porta abriu-se no mesmo instante que a luz da manhã tocou o rosto de Carya, como dedos divinos.

— Desculpe-me acordá-la, minha senhora.. — Disse Damalis, debruçando-se sobre a cama. — Mas Amara retornou. Diz que traz informações importantes para a senhora.

Carya piscou, afugentando os resquícios do sono. Passou uma mão pelo rosto, afastando os cabelos. Antes de se erguer, um suspiro suave escapou de seus lábios.

—— Tudo bem. Peça que ela me espere no salão de visitas. Estarei lá em um minuto. — Damalis se virava, quando ela lembrou-se — Ah…, Lis, você poderia preparar um bule daquele seu chá de jasmim? Duas xícaras, por favor.

— Claro, senhora.

— E bom dia! — Ela acrescentou, finalmente.

A aia sorriu com os cantos da boca.

— Bom dia, Carya!

A bacia no canto do quarto reluziu sob a luz matinal. Carya estendeu o braço para mergulhar as mãos na água fria, quando notou uma mancha acinzentada que se espalhava do dedo anelar até a metade do seu antebraço esquerdo. No dedo, se destacava um fino anel de pedras amarelas em formato losangular. Uma sombra desfez o seu sorriso, enquanto fitava o seu reflexo nas águas da bacia. Com as mãos em concha, levou a água ao rosto, um arrepio percorrendo-lhe a espinha.

Com um toque suave dos dedos, voltou a ocultar a mancha. A pele do braço retornou ao tom leitoso com que estava habituada. Caminhou de volta à cama, onde sentou-se para revirar os mantos em seu baú. No final, acabou decidindo pelo seu já conhecido manto de manga longa, em tom azul perolado. A peça trazia veios bordados com fios dourados, combinando com os brincos empedrados e o colar que acabara de fixar em seu pescoço. Sua tiara moldada em tranças com jasmins do lado pousava sobre a cabeceira da cama. Carya fitou-a por um tempo, questionando-se. Como se desejasse deixá-la ali, abandonada, junto de suas responsabilidades. Se um dia isso fosse acontecer, não seria hoje.

Enquanto caminhava a passos graciosos pelos corredores do Palácio do Lago, brincava com a tiara, passando-a de dedo em dedo. Abaixo de si, os sussurros da correnteza lhe faziam companhia. Chegou no salão de visitas a tempo de ver a sua convidada emergir, sua pele esverdeada cintilando ao sair da abertura no piso envidraçado, localizado no centro do recinto. A figura desfilou sob um vestido fluido antes que alcançasse uma das cadeiras de granito junto ao janelão. Na pequena mesa de centro, jazia uma bandeja de prata ornada, encimada por um bule de cerâmica, ilustrada com padrões quadriculados, e duas xícaras esfumaçantes cheias de chá de jasmim.

— Amara! — Carya cumprimentou-a com um abraço apertado, antes de se sentar no cadeirão — Como é bom te ver.

— Digo o mesmo, senhora. Faz tempo…

— De fato — Carya concordou, conferindo o anel na mão esquerda — E aí, como anda a casa? E o pequeno?

— Crescendo rápido, senhora. Danai já está reformando um novo aposento para ele. — Amara suspirou, ajeitando os cabelos úmidos. — Ainda não consegui me envolver com nada disso, mas tenho esperança de que dê certo.

— Tenho certeza que sim. Por favor, sirva-se — disse, oferecendo uma xícara de chá para Amara, enquanto adoçava o seu com uma colher de mel — E obrigada por ter me ajudado. Sei que foi um pedido incômodo, mas a situação é um pouco delicada, como pôde notar, imagino eu.

Carya ajeitou-se na cadeira, cruzando as pernas com a xícara e o pires nas mãos.

— Pois bem. Vamos aos fatos — completou Carya, com um aceno de cabeça — O que descobriu?

A boca de Amara se contorceu num claro desejo de resistir às palavras que precisavam ser ditas. Fitava o líquido amarelado que fumegava na xícara próxima ao seu queixo.

— Um massacre, senhora. Por toda parte, os rios estão carregados de corpos em decomposição. A maioria por sabotagem. Um descaso impensável.

Carya fechou os olhos por um instante. Suas narinas dilatavam.

— Entendo… Conseguiu chegar até Tebas?

— Sim, mas não sem dificuldade. — respondeu Amara — A frota espartana ocupa pesadamente as águas em torno do istmo. Precisei me infiltrar entre as tropas para alcançar a cidade.

Carya interrompeu o pequeno gole que daria em seu chá, fitando-a por trás da cortina de fumaça. O ar no salão tornou-se espesso, como antes de uma tempestade. Carya fechou os olhos, deixando que o cheiro de jasmim e água estagnada a envolvesse. Quando os abriu novamente, seu sorriso era uma coisa frágil, tecido com fios de luz solar.

— Sei que essas não foram as ordens da senhora, mas…

— Tudo bem — interrompeu Carya — Continue, por favor.

— Bom, as informações são escassas. O comandante espartano vem agindo de forma bastante expressiva contra a espionagem. Dizem que aprisionou e até executou alguns supostos traidores.

— Uau — Suspirou Carya, erguendo as sobrancelhas — Isso é uma surpresa.

Distante dali, entre as paredes de sua mente, Carya debatia consigo mesma. Pelos relatos anteriores, sabia que a guerra se agravara consideravelmente nos últimos meses. Mas esse tipo de comportamento não era comum entre eles. Espartanos e atenienses, assim como o restante dos helenos, eram afixados por distinções do pior tipo, mas seu ódio raramente se voltava contra os seus com tamanha severidade. No fundo, Carya resistia a aceitar que, talvez, os sinais que tinha pressentido fossem verdadeiros.



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En el texto hay: mitologia, drama accin, enemiestolovers

Editado: 19.06.2025

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