sonhos estranhos que fizeram parte da minha

Capítulo 2 Quem Sonha com Capoeira, capoeira é...

Essa é uma história de mais um sonho que tive, mas isso pra tenho que explicar o início de tudo.
Desde pequena, eu carreguei o sonho de aprender a jogar capoeira. Sempre que ouvia o som do berimbau — mesmo sem ver, mesmo de longe — algo dentro de mim despertava. Mas minha mãe sempre arrumava desculpas. Não podia, não desviava, não era pra mim. E assim, o tempo passou. A vontade ficou guardada, mas nunca morreu.
Anos mais tarde, depois de voltar de casa e começar a trilhar meu próprio caminho, fui trabalhar em um bar. Bem em frente a esse bar, havia outro — e acima dele, uma estrutura de madeira, onde aconteciam aulas de capoeira. Toda vez que o som do berimbau ecoava de lá, meu coração batia diferente. Eu tentei me conter, mas era impossível ignorar aquele chamado.
As aulas eram pagas. Eu via os alunos subindo e descendo para treinar, mas apenas observava, sempre com um nó na garganta.
Um dia, o movimento do bar estava fraco. Estressada, fui até meu patrão e disse que ia dar uma olhada no pessoal treinando. Cruzei a rua e subi. Assim que cheguei, o professor me repreendeu — eu fumava, e lá era proibido. Joguei o cigarro fora sem pensar duas vezes. Ele me olhou, surpreso, e disse que eu não precisava fazer aquilo, que poderia descer, terminar e voltar. Mas eu respondi que não: eu queria ver o treino. Era só isso que eu queria.
Durante o treino, ele se mudou de mim e disse por que eu não treinava. Respondi com o coração na boca: — Porque eu não tenho condições de pagar. Ele apenas disse: — Volta no próximo dia de treino.
Voltei. Quando tentei falar com ele pra entender o porquê do convite, ele parecia ocupado e não me deu atenção. Fiquei ali, no canto, sem saber o que pensar. De repente, o treino começou. Ele parou do meu lado e perguntou: — Você não vai treinar?
Repeti, envergonhada: — Eu não tenho dinheiro pra pag
E então ele disse a frase que nunca mais saiu da minha memória: — Quem disse que eu vou te cobrar alguma coisa? Você agora é minha aluna. Vai treinar. Começa pelo aquecimento.
Naquele instante, não consegui segurar. As lágrimas desceram. Ele me olhou, com um sorriso de quem entende mais do que fala, e disse: — Você deve estar muito apaixonado pela capoeira, né? Por que você está chorando

Eu respirei fundo e contei toda a história — da infância até ali, do sonho que nunca morreu.
Fiquei surpreso, mas comecei a treinar. Passei a me dedicar bastante, pois quando não havia treino na academia, eu treinava sozinho. Inclusive, como morava e aprendi perto da praia, eu tinha o trajeto de treinar lá. A areia da praia, por ser pesada, me ajudou a melhorar a estabilidade e a ter uma base mais firme
Os treinos na praia incentivando alguns amigos a treinar comigo, e vamos treinar juntos
Eu me dediquei tanto aos treinos que, no meu batizado, eu pulei a corda, mesmo tendo apenas dois meses de aulaA sensação foi indescritível. Quando pulei a corda, algo dentro de mim se rompeu. Não só uma barreira física, mas também uma barreira mental Eu tive dois meses de treino, mas parecia que todo aquele tempo de espera, toda a frustração acumulada, e cada gota de suor na praia se condensaram naquele momento
. de ter superado minhas próprias limitações e sobre o quanto a capoeira já havia me transformado.
E foi aí que, no meio de toda essa empolgação, decidi compor uma cantiga de capoeira. Não pude compartilhar com ninguém naquele momento, mas senti que era algo que eu precisava colocar para fora, uma expressão da minha alma naquele instante de euforia. Eu realmente senti que a capoeira estava me chamando e me moldando de formas que eu jamais imaginaria.
Agora, sobre o sonho...
Uma bela noite, depois de um dia de trabalho, fui dormir e tive um sonho. No sonho, eu estava indo para a beira da praia para treinar, como de costume, com o meu abadá enrolado e amarrado na corda, como se fosse uma bolsa. Quando fui vestir a calça de treino por cima da bermuda que estava usando, um amigo apareceu e disse se eu ia treinar. Eu disse que sim, e ele falou que iria em casa buscar o abadá dele para treinar também. Logo, chegou outro, com a mesma história, e outro e outro... Quando percebi, havia várias pessoas, até mesmo pessoas que faziam parte do mesmo grupo, mas de academias diferentes. De repente, apareceram atabaques, pandeiros e berimbais, que nem sei como chegaram lá, parecendo uma tradição, como as rodas de capoeira que acontecem entre academias do mesmo grupo.
Começou uma roda, e eu também estava jogando. Em um belo momento, empolgada, dei um mortal. Logo depois, saí da roda, eufórica, cansada, feliz e parei ao lado do meu professor, que até aquele momento eu não tinha visto ali. Ele então me disse:"Onde você aprendeu a dar o mortal?"
Eu, ainda surpresa, levantei o dedo indicador e falei: "Eu aprendi na..."
Foi quando acordei, e fiquei frustrado, pois até hoje não sei onde foi que eu aprendi.Depois disso, alguns dias se passaram, fui à aula, e, após o treino, senti com meu professor e contei a ele sobre o sonho. Ele me escutou atentamente, fez uma brincadeira dizendo que sonho é assim mesmo, que sempre acordamos na melhor parte, e então me disse: "Não esquenta, não, é assim mesmo. Quem sonha com capoeira, capoeira é."
Letra da Música:

Outro dia tive um sonho,

Com roda de capoeira, Meia lua e mortal,

Mais bonito que lua cheia,
Berimbal tava tocando no ritmo tic tum dum,
E o atabaque e o pandeiro, capoeira mata um.
E tudo que ali rolava era o que sempre quis,
Ginga no pé e corpo de mola, Capoeira de raiz.
Quem sonha com capoeira, capoeira é...
Quem sonha com capoeira, capoeira é...
Contei ao meu mestre o que foi que aconteceu,
E depois de me ouvir, ele me respondeu:
Quem sonha com capoeira, capoeira é...
Quem sonha com capoeira, capoeira é...



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En el texto hay: realidades, sonhos, fatos

Editado: 23.04.2025

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