No dia em questão, algumas coisas aconteceram antes do pesadelo. Eu passei na casa da minha tia e peguei minha prima para passar o dia comigo, e levaria de volta no dia seguinte. Foi um dia normal, ela brincou e se divertiu. À noite, nos preparamos para dormir, e foi quando ocorreu um dos pesadelos da minha vida.
O Sonho:
No sonho, eu levei minha prima de volta para casa. Ao chegar lá, fui ao quarto da minha tia e começamos a conversar sobre coisas planejadas, coisas normais do dia a dia. De repente, minha prima entra no quarto gritando que meu primo, seu irmão mais velho, havia se acidentado e estava muito mal. Ao sairmos do quarto, nos deparamos com ele na sala de uma forma deplorável, sentado no braço do sofá, com a parte superior da cabeça amassada. Quando ele tentou falar, começou a vomitar uma gosma marrom.
Houve um desespero enorme, o impacto foi tão grande que acordei tremendo e chorando. A sensação era horrível, e aquilo me incomodou muito. Foi um sonho curto, mas o problema foi o que veio depois. Pedi à pessoa que esteve comigo na época para levar minha prima para casa e avisar minha tia, dizendo que depois conversaria com ela. Minha intenção era evitar algo pior, pois o sonho me mostrava que o que desencadeava tudo seria eu levaria minha prima para casa.
Dois Dias Depois:
Após dois dias, fui até a casa da minha tia e falei que precisoi de sua atenção para contar algo muito sério. Contei a ela sobre o sonho e expliquei que não parecia ser apenas um sonho, mas algo real. No momento em que estava conversando com minha tia, meu primo entrou pela porta da sala, e eu lhe dei um alerta: "Você vai se acidentar, vai ficar muito mal, e há grande chance de até morrer." Ele deu, brincou e respondeu que quase tinha sido atropelado.
Outros Ocorridos:
Durante esse tempo, dois acontecimentos aconteceram. O primeiro eu presenciei: estava andando na rua e me parei com meu primo, que atravessou na frente de um caminhão. Se eu não gritasse e chamasse a atenção dele, ele teria sido atropelado. A segunda cachoeira foi relatada por um amigo: meu primo e ele tinha ido à, e a bicicleta deles foi roubada por vários garotos. Meu primo queria ir atrás dos ladrões, mas o amigo o impediu, pois havia muitos garotos e eram apenas dois.
O Dia que Tudo Deu Errado:
Meses se passaram, e morávamos eu, minha cunhada, os filhos dela e meu filho. Eu trabalhei como vendedora de rua, vendendo DVDs piratas, algo errado, mas era o que eu tinha para sustentar minha família. O ponto de venda durou cerca de meia hora a 40 minutos da minha casa, mas em um determinado dia, as coisas surgiram a dar errado.
No dia em questão, do nada me veio a ideia de levar alguns filmes e desenhos para casa. Comprei milho para fazer pipoca, pois queria que todos se reunissem na casa da minha tia para fazer uma sessão de pipoca. Ninguém sairia de casa, então deveria ser uma noite tranquila. Mas, naquele dia, tudo começou a dar errado.
Primeiro, tentei ligar para minha tia e minha cunhada, mas os telefones só davam fora de área, inclusive o fixo, durante o dia todo. Ao sair do trabalho, por volta das 19h, fui correndo comprar o milho de pipoca e, em seguida, para o ponto de ônibus, pois queria chegar logo. Passei o dia tentando entrar em contato, mas todas as tentativas foram falhas.
Quando cheguei ao ponto, os ônibus para minha região não estavam passando com frequência. Os que passavam estavam extremamente atrasados e cortavam pelo outro canto da pista, não parando no ponto. E, a todo momento, tentava entrar em contato, sem sucesso. Até que, em certo momento, consegui falar com minha cunhada, que me relatou que havia passado o dia na casa da minha tia, mas já estava saindo de lá. Pedi para que ela voltasse e avisasse sobre meus planos para aquele dia, mas ela disse que não iria voltar porque já estava quase em casa, com as crianças. Pedi para que ela ligasse para minha tia, mas ela se escolheu.
Naquele dia, não consegui falar com minha tia, e com todos esses impedimentos, cheguei em casa por volta da meia-noite, ou mais, e fui direto para o meu quarto, frustrada com o dia.
A Notícia do Acidente:
Na manhã seguinte, meu telefone toca, era meu patrão. Apesar de ser meu dia de folga, ele pediu de mim e pediu para que eu fosse trabalhar. Ainda frustrado, eu arrumei e fui para o ponto de ônibus, que ficava na esquina de casa. Chegando lá, senti no meio-fio para aguardar o ônibus, e enquanto aguardava, minha mãe chegou completamente alterada, reclamando que tentava me ligar e eu não atendia, embora não houvesse nenhuma tentativa de chamada dela registrada no meu telefone.
Foi então que ela me deu a bomba: meu primo havia se acidentado e estava entre a vida e a morte no hospital. Eu só pude chorar naquele momento, pois não tive forças nem para levantar do lugar. Liguei para meu patrão e informei sobre o acidente, dizendo que não tinha condições de ir trabalhar naquele dia. Fiquei ali por mais ou menos meia hora chorando.
Eu contando depois que meu primo havia batido de moto na rua de casa, pois havia ido à rua e contribuiu um amigo para emprestar a moto. Ele só não morreu na hora porque meu tio ouviu os primeiros socorros. Durante o impacto do acidente, meu primo acabou vomitando o chocolate que havia bebido antes de sair de casa, e mesmo com os socorros, ele broncoaspirou e sofreu pneumonia química, como o sonho tinha mostrado.
O Acidente:
O estranho foi o que me foi relatado: meu primo estava com um amigo na moto e, embora não estivesse correndo, ocorreram alguns fatores estranhos que causaram o acidente. Na esquina havia um carro abandonado há anos, que não funcionava mais. Eles viram o carro iluminando os iluminados e ir na direção deles. Ao desviar do carro, viram três sombras na rua, que deixam de lado as pessoas. No desespero de desviar, esbarraram na lateral de um poste, onde meu primo não teve nenhum hematoma externo, mas com o impacto, seu corpo sacudiu bruscamente duas vezes, causando um impacto no cérebro, o que gerou hemorragias e coágulos corporais.
Minha prima estava na rua e viu todo o acidente, ainda tentando alertar o irmão de que ele iria bater no poste. Ela afirma que, na verdade, ele não estava correndo.
A Luta no Hospital:
Foi uma grande luta, principalmente para meus tios, pois meu primo estava no hospital, e a batalha foi para conseguir uma vaga na UTI. Ele foi para a UTI, e meus tios e familiares se revezaram para ficar lá com ele, menos minha tia, que não queria sair de lá de forma alguma. Foi muito doloroso ver tudo isso acontecendo, mas por um tempo, eu não tive coragem de ir ao hospital ver meu primo naquela situação, pois, quando mais novos, nós éramos muito unidos. Ele me chamou de "tia".
Passaram-se alguns meses até que veio a pior notícia: os médicos queriam dar meu primo como morto e pediram para que minha tia autorizasse a desligar os aparelhos. Naquela mesma noite, tive outro sonho, onde meu primo vinha até mim e disse para eu me excitar, que ele iria voltar. Ao acordar, liguei para minha tia desesperada até que ela atendesse, e disse que não era para desligar nada. Conte-lhe sobre o sonho, e ela me escolheu. Mesmo com toda a angústia, ela deu um suspiro e disse que não ia deixar.
O Milagre:
Minha tia me contou que, na mesma semana, enquanto conversava com o médico, ela passou a mão no pé dele, e ele reagiu. Houve um grande susto e correria, mas finalmente, meu primo havia acordado.
A batalha, no entanto, não acabou por aí. Ele ainda estava entubado e sem progresso motora, com seus exames inferiores ao estado vegetativo. Apenas seu braço se move de forma pesquisada, sem seus comandos. Passou mais um tempo e ele ainda estava internado, tentando se recuperar.
Chegou o dia do meu aniversário, e eu gritei coragem para ir visitá-lo. Eu não queria comemorar, mas fui até o hospital. Quando cheguei lá, encontrei aquela cena: ele deitado, ainda entubado, com uma atadura no braço para que ele não se machucasse ao bater em algum lugar. Eu comecei a conversar com ele, mesmo sem ele poder responder, e consegui ver nos olhos dele que ele tentava entender, lembrar ou procurar uma resposta para algo.
Quando quis a ele: "Você sabe que dia é hoje?" vi nos seus olhos que ele tentava buscar alguma lembrança. Então, eu respondi que era primeiro de maio, e, naquele momento, ele tentou se levantar, sentado na cama de hospital de forma brusca. Seu passo ficou descontrolado, ele ficou muito agitado e mordeu o tubo que estava em sua boca, como se tentasse falar algo, mas não conseguia. Ele ficou cada vez mais agitado quando viu que não saíam palavras.
Eu saí da sala para que ninguém, nem ele, me visse chorar depois disso. Eu não disse a ele diretamente que era meu aniversário, apenas falei que era primeiro de maio.
A Recuperação:
Com o tempo, meu primo foi se recuperando aos poucos, e mesmo com os exames ainda mostrando estado vegetativo, os médicos o liberaram para ir para casa. Outra luta começou para meus tios,
apesar da melhoria visual, nossa batalha começou ali, talvez tão difícil quanto a anterior. Meus tios enfrentaram inúmeras dificuldades para garantir o tratamento adequado do meu primo. Mesmo depois de ele ter sido liberado do hospital, os exames ainda indicavam estado vegetativo — uma contradição gritante diante de alguém que agora conversava, embora com dificuldade, e tentava andar.
Minha tia teve que correr atrás sozinha, pois mesmo com o laudo médico dizendo que ele não teria mais chances, ela sabia que algo maior estava acontecendo. Mas o sistema não colaborava. Os pedidos para fisioterapia eram negados ou ignorados, pois o diagnóstico oficial ainda o considerava "sem resposta". Ela o levou aos centros de atendimento e ouvia que não havia o que fazer, que o tratamento não seria eficaz, que seria perda de tempo. Dizia que ele precisava de envio, mas era como se ninguém quisesse enxergar o milagre que estava bem ali, diante dos olhos deles.
Ainda assim, ela não desistiu. Com o tempo, por meio de contatos, persistência e fé, seleção de encaixes, atendimento voluntário e até ajuda de pessoas que, ao verem a luta dela, decidiram apoiar. Foi uma caminhada árdua. Ele aprendeu a sentar direito, a caminhar novamente — mesmo que com certa dificuldade. Falava de forma arrastada, mas falava. Aos poucos, os pequenos gestos voltaram. Eleria. Conte histórias. Queria sair na rua. Queria viver.
Até hoje ele carrega algumas sequelas. O andar é um pouco desequilibrado, a fala não é tão clara quanto antes, e os movimentos às vezes parecem travar. Mas ele está vivo. Está aqui. E mesmo com os exames podendo, talvez, ainda mostrarem um diagnóstico errado, a verdade é que ele voltou. Voltou porque quis, porque escondeu, e porque não era a hora.
De vez em quando nos encontramos pelas ruas. Ele vende balas, doces. Dá seus passos firmes, com o orgulho de quem venceu a morte. E eu, toda vez que o vejo, lembro do sonho. Do aviso. Faça desespero. É um milagre. Porque ninguém — nem mesmo os médicos — sabe explicar como ele está aqui hoje.
Mas eu sei.