Ventos de Paixão - O Preço da Esperança - Vp Livro1

Episodio 2

Os anos passaram como as estações que moldavam as paisagens ao redor das herdades de Cavendish e Sinclair. As tardes despreocupadas no cimo das colinas deram lugar a dias cada vez mais solitários para Gabriel. O pequeno grupo que um dia parecia inseparável fora fragmentado pelas expectativas e pelos deveres que vinham com o crescimento.

Gabriel, agora com catorze anos, estava de pé no pátio da sua casa. As mãos tremiam ligeiramente enquanto observava o pai, o Visconde Sinclair, em acesa conversa com o Duque de Cavendish, que chegara havia pouco. A tensão entre os dois homens era palpável, e Gabriel sentia-se como um espectador num espetáculo cujo desfecho já estava traçado.

— Este assunto não te diz respeito, Cavendish. O filho é meu. E a decisão também.

Quando o Duque se preparava para responder, o Visconde atalhou, cortante:

— Não me interessa a tua opinião, o meu filho pagará por aquilo que perdi — disse com um tom arrastado e o olhar baço, enquanto segurava firmemente o braço de Gabriel. — É a única forma de conseguir resolver este assunto.

O Duque deu um passo em frente, como se estivesse prestes a impedir tudo, mas deteve-se. O olhar dele cruzou-se com o de Gabriel por um instante — tenso — e depois virou o rosto, frustrado. Endireitou-se e cruzou os braços. O brilho nos seus olhos acentuava a frieza da sua voz.

— Sinclair, é o teu filho, tens noção do que estás a fazer? O custo desta tua atitude recairá sobre ele, e asseguro-te que ele nunca esquecerá o que fizeste.

Gabriel sentiu o coração acelerar e o sangue pulsar-lhe nos ouvidos. As palavras do Duque cravaram-se na sua mente, afiadas como lâminas. Pagar pelo que perdeu? O que é que isso quer dizer? Um nó apertou-se-lhe no estômago. Ele olhou para o pai, à espera de uma explicação, qualquer coisa que lhe provasse que tudo aquilo não passava de um mal-entendido. Mas o silêncio do Visconde foi a única resposta.

Clara, sentada dentro da carruagem, apertava o pequeno medalhão que usava ao pescoço. Estava ali porque Lilian insistira em acompanhar o pai — soubera que ele ia à casa de Gabriel e fizera uma birra das grandes. E, como sempre, recusara-se a sair sem a criada ao seu lado. Os olhos de Clara estavam molhados, mas esforçava-se por conter as lágrimas. Sabia que, por mais que quisesse, não podia fazer nada para mudar o que estava a acontecer.

— Pai... — começou Gabriel, com a voz a falhar. — O que é que ele quer dizer? Para onde vou?

O Visconde desviou o olhar, como se não conseguisse encarar o filho.

— É para o teu bem, Gabriel. Vais aprender a ser forte — disse, com a voz trémula.

O aperto no braço de Gabriel foi-se tornando mais frouxo, como se o pai quisesse pedir desculpa, mas não tivesse coragem para isso. Antes de o soltar por completo, a sua mão hesitou por um segundo e apertou-lhe o ombro — um gesto breve, involuntário, mas carregado de culpa.

Ele preparava-se para protestar, mas antes que conseguisse falar, um grito rasgou o silêncio do pátio.

— Gabriel!

Lilian saltou da carruagem antes que alguém a pudesse deter, os pés mal tocando o chão. O vento agitava-lhe os caracóis negros, mas nem se dava conta disso. Tudo o que sentia era o coração a bater com violência, como se quisesse saltar-lhe do peito.

— Porquê? Porque é que estão a levar o Gabriel? — O medo apertava-lhe o estômago, mas as palavras saíram num fio de voz, trémulas e urgentes. — Para onde é que o estão a levar?

Gabriel olhou para ela, mas a garganta apertada impedia-o de articular uma única palavra.

O Duque virou-se para a filha, e embora o olhar revelasse tristeza, a voz saiu ríspida.

— Lilian, isto não é da tua conta. Volta para dentro.

— Mas pai... — insistiu ela, com a voz a tremer. — Ele é meu amigo.

O Duque ergueu uma sobrancelha, a paciência a esgotar-se.

— Volta para dentro, imediatamente!

Lilian hesitou, os olhos a desviarem-se para Gabriel, que parecia paralisado pela incerteza.

— Gabriel... — murmurou ela, como se a simples menção do nome pudesse impedi-lo de partir.

— Vai, Lilian — ordenou o Duque, autoritário. — Agora.

Por um instante, algo cintilou no olhar do Duque, um breve vislumbre de incerteza. Mas ele afastou esse pensamento rapidamente. A fraqueza não fazia parte do seu carácter. Lilian ainda esperou, em silêncio, mas o olhar inflexível do pai não deixava margem para discussão. Com relutância, recuou um passo, enquanto os olhos se enchiam de lágrimas. A raiva queimava-lhe o peito, misturada com a dor. Porque é que ninguém a ouvia? Porque é que Gabriel não lutava para ficar?

Sem dizer nada, virou-se e correu para a carruagem.

O cocheiro apareceu ao lado de Gabriel, colocando-lhe uma mão firme no ombro.

— É hora de partir, rapaz.

Gabriel voltou o olhar para onde Lilian estava, tentando gravar o rosto dela na memória.

— Prometo que vou voltar — disse ele, baixinho, as palavras quase abafadas pelo vento.

— Pai... — murmurou Gabriel, a mão trémula a segurar a manga do casaco do Visconde.




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