Ventos de Paixão - O Preço da Esperança - Vp Livro1

Episodio 2

Na mansão, Lilian voltara do passeio a cavalo. O sol iluminava os corredores com uma luz quente, e o som dos seus passos ecoava na escadaria de madeira polida. O casaco de lã cinza pendia do braço e na mão trazia o chapéu com que tinha saído, e o seu cabelo, ainda preso num coque ligeiramente desalinhado, revelava a intensidade da cavalgada.

Deteve-se por um instante no topo da escadaria, lançando um olhar rápido em direção à ala oeste, onde o pai mantinha o seu escritório. — Já terá regressado? — pensou, o peso da expectativa familiar a apertar-lhe o peito como sempre.

Seguiu para os seus aposentos, entrando com passos mais apressados do que queria admitir.

— Emily, prepara-me um banho. — A sua própria voz soou-lhe estranha, como se viesse de outro lugar. — Quero livrar-me do pó da cavalgada.

A criada curvou-se ligeiramente e saiu apressada. Lilian retirou o chapéu e o casaco. O espelho devolveu-lhe um reflexo ligeiramente desalinhado.

Pouco depois, Clara entrou com passos leves, carregada com um monte de toalhas limpas e sabonetes perfumados. Colocou-os junto à banheira e voltou-se para Lilian.

— Como foi o passeio, Lilian? — perguntou, enquanto ia buscar o casaco e o chapéu e os arrumava. Depois passou a desapertar os colchetes do vestido.

Lilian suspirou.

— Foi revelador — respondeu, com um sorriso enigmático. — Gabriel voltou. — As palavras ficaram a pairar no ar, carregadas de um misto de emoção e incerteza. — E ele está... diferente. Não sei explicar, está mais… alto.

— Gabriel voltou? Viste-o? — Clara parou por um instante, tentando manter o tom leve. — E... agora dizes que está mais alto? O que esperavas, que tivesse encolhido? — respondeu Clara, confusa.

— Não… nada disso, é só que… bem… ele cresceu e… bem, está um homem, sabes? — disse Lilian, com as faces a arder.

— Não, Elisa, não estou a perceber. — Clara continuava confusa com o que Lilian lhe queria dizer.

— Esquece, decidi dar um jantar em honra do regresso dele.

Clara, que estava a desabotoar os colchetes, parou por um instante. O sorriso que lançou a Lilian foi breve e os seus olhos desviaram-se rapidamente.

— Isso é... uma boa notícia, Lilian — disse ela, voltando à sua tarefa de forma mecânica.

O regresso de Gabriel era, uma boa notícia — mas não conseguia livrar-se da inquietação que a dominava. Tinha-lhe enviado o bilhete, mas não sabia se ele o recebera. E o tempo escasseava. O Duque podia parecer distante, até intransigente, mas sabia que ele acreditava estar a proteger Lilian — à sua maneira. Ainda assim, as palavras que ela ouvira não lhe saíam da cabeça. E sabia que, se Lilian fosse entregue a Lord Whitaker, nunca mais voltaria a ser livre. Precisava de falar com ele o mais rapidamente possível.

Sentiu um arrepio subir-lhe pela espinha — o tipo de aviso que o corpo reconhece antes da mente. Depois de ajudar Lilian a despir-se, recolheu as roupas com cuidado e colocou-as de lado. Pouco depois, duas criadas entraram discretamente para finalizar os preparativos do banho. Clara manteve-se por perto, em silêncio, até que elas se retiraram. Assim que ficaram a sós, Lilian virou-se para ela.

— Estás preocupada. O que se passa?

Clara hesitou, baixando o olhar e mexendo instintivamente no colar que trazia ao pescoço.

— Não é nada, Lilian — respondeu.

Lilian franziu o sobrolho, desconfiada, mas escolheu não insistir.

— Humm… Tu é que sabes. — Com um gesto indicou-lhe que se podia retirar e mergulhou na água quente, deixando que o vapor a envolvesse.

Enquanto abandonava o quarto, sentiu o peso do segredo a acompanhar-lhe cada passo. Preciso de falar com Gabriel — pensou, enquanto se dirigia para os seus aposentos. — Ele é o único que a pode ajudar.




Reportar




Uso de Cookies
Con el fin de proporcionar una mejor experiencia de usuario, recopilamos y utilizamos cookies. Si continúa navegando por nuestro sitio web, acepta la recopilación y el uso de cookies.