Enquanto isso, a tarde avançava, e o sol começava a tingir os campos ao redor da propriedade dos Cavendish de tons dourados e sombras alongadas. Na mansão, Clara sentia-se inquieta desde o dia em que ouvira a discussão entre o Duque e Lilian no escritório. O medo e a determinação digladiavam-se dentro dela e, a cada momento que passava, a pressão para encontrar uma solução parecia crescer — como um nó que apertava lentamente o seu peito.
Finalmente, naquela tarde, o plano pareceu-lhe suficientemente sólido. Vestiu um simples vestido de algodão castanho, cuja barra exibia as marcas das tarefas diárias. Envolveu os cabelos castanho-aloirados num lenço desgastado, deixando apenas algumas mechas à mostra, e assegurou-se de que o rosto estava coberto o suficiente para não ser reconhecida. Disfarçada de camponesa, esperava passar despercebida ao sair da mansão.
O portão dos fundos era raramente usado, e Clara aproveitou o silêncio daquele momento. Olhou à sua volta uma última vez, certificando-se de que ninguém a observava. O coração martelava-lhe no peito — não apenas pela pressa, mas pelo peso da decisão que tomara. Inspirou profundamente, tentando acalmar o nó que se formava na garganta, e deu os primeiros passos para fora da propriedade.
— Preciso de saber se ele recebeu o bilhete — murmurou para si mesma, como uma prece silenciosa. Já tinha esperado demais. O silêncio de Gabriel só aumentava a sua angústia. E se ele não soubesse? E se chegasse tarde?
Recordou a conversa que ouvira dias antes:
— O casamento com Lord Whitaker será uma bênção para si, Vossa Excelência. Ele saberá como controlar o temperamento de Lady Lilian.
A voz de Claremont fora persuasiva, quase indiferente, como se falasse de um simples negócio.
— Sim — respondera o Duque, após um silêncio breve, mas que agora, em retrospetiva, lhe pareceu significativo. — Também penso que ele saberá como lidar com a minha filha.
Ela estremeceu. A forma calculista como o secretário falara parecia desprovida de humanidade, mas o que a aterrorizava verdadeiramente era o silêncio do Duque. Ele não contestara. Se sentiu desconforto, escondeu-o bem. Não fez perguntas, não hesitou — apenas concordou, como se a decisão já estivesse tomada. Um arrepio percorreu-lhe a espinha.
Apertou o tecido do vestido entre os dedos. Hesitar já não era opção. Lilian estava prestes a ser empurrada para um destino sem volta, e ela não podia simplesmente assistir. Lilian era sua amiga — sempre fora. E Clara sabia, no mais íntimo de si, que ficar parada seria o mesmo que traí-la.
Ao atravessar o portão, lançou um último olhar à mansão, agora envolta em sombras. Não viu ninguém, mas ainda assim acelerou o passo, misturando-se com o pequeno grupo de camponeses que regressavam dos campos. Cada passo afastava-a do peso opressivo da casa — e aproximava-a da ténue esperança de conseguir ajudar Lilian.
Seguiu pela estrada de terra batida que conduzia à vila. As sombras das árvores cresciam com o avançar da tarde, estendendo-se como dedos longos sobre o caminho. O lenço apertado começava a incomodá-la, mas sabia que não podia arriscar-se a ser reconhecida. Qualquer deslize podia sair-lhe caro e, pior ainda, comprometer Lilian.
Ao chegar à vila, o movimento habitual de final de tarde proporcionou-lhe algum alívio. Pessoas apressavam-se a concluir negócios ou a regressar a casa, e Clara misturou-se com a multidão, mantendo o olhar baixo e os passos rápidos. Por entre as barracas do mercado e os sons dos mercadores a apregoar os seus produtos, ela só tinha um objetivo: alcançar a propriedade de Gabriel sem chamar a atenção. Cada passo era um risco — mas o silêncio custar-lhe-ia muito mais.