A carruagem negra e polida, ladeada por discretos detalhes dourados, estacou diante da estalagem do Olmo Dourado. O cocheiro saltou agilmente do banco e apressou-se a abrir a porta. Ele sabia bem quem servia.
Lord Sebastian Whitaker surgiu com a compostura habitual, sacudindo com elegância uma partícula invisível do casaco cinzento, enquanto o olhar varria os arredores com uma mistura de desdém e curiosidade. A vila era modesta, mas não desprovida de charme.
— Finalmente… — murmurou, mais para si do que para o criado que lhe carregava a bagagem. — Ravenshire Bay.
Subiu os poucos degraus de pedra com a arrogância inata que o caracterizava. O estalajadeiro, um homem de meia-idade de expressão nervosa, fez uma vénia apressada ao ver o hóspede de Londres.
— Bem-vindo, milorde. O quarto que nos foi reservado encontra-se preparado.
Whitaker assentiu, retirando as luvas e entregando-as ao criado pessoal que o acompanhava.
— Espero que tenha seguido as instruções quanto à lareira acesa e ao vinho à temperatura certa. Não suporto ambientes frios — disse, olhando em volta com impaciência.
— Naturalmente, milorde. Tudo conforme indicado. Mandámos vir o vinho de Portsmouth ontem mesmo.
O marquês não respondeu de imediato. Estava mais interessado na vista pela janela, onde as colinas ondulavam como promessas por cumprir, e o ar salgado se misturava com o aroma discreto das lareiras acesas.
Tudo corria conforme planeara. O Duque não seria difícil de manipular. O único obstáculo poderia ser a filha — mas, depois de casados, nem isso existiria. Ela aprenderia, pensou, com um esgar de satisfação que não chegava aos olhos.
Havia algo de revigorante na antecipação. O futuro parecia-lhe ao alcance da mão, e os seus aliados iriam ficar satisfeitos.
O estalajadeiro observou-o com atenção. Havia qualquer coisa naquele homem que lhe eriçava a pele. Não era o modo como falava, nem sequer a sua exigência refinada. Não conseguia precisar, mas arrepiava-o. Sorriu por obrigação, mas assim que Whitaker subiu as escadas, o homem libertou um lento suspiro e passou as mãos pela frente do avental, como quem sacode uma sensação indesejada.
No andar de cima, Whitaker deixou-se cair numa poltrona de veludo gasto assim que a porta se fechou atrás de si. O criado aguardava ordens, silencioso.
— Quero estar irrepreensível esta noite, Oliver. — Passou os dedos pelos cabelos, avaliando o próprio reflexo num espelho oval pendurado na parede. — Tenho de conquistar uma dama, esta noite.
Sorriu. Não aquele sorriso jovial e inofensivo dos salões londrinos, mas outro — sereno e perigoso, como o de um homem que nunca duvida da vitória.
***
Clara atravessou os portões da propriedade com passos rápidos e cuidadosos, os olhos atentos. O coração batia com força – não apenas pela caminhada longa, mas pelo medo de saber que poderia ser descoberta. Já estava no corredor e prestes a subir a escadaria que levava ao seu quarto quando uma voz cortou o silêncio.
— Clara?
Ela congelou, virando-se devagar. Claremont estava ali, de braços cruzados e um olhar desconfiado.
— De onde vens a esta hora? Não é habitual as criadas andarem fora da propriedade tão tarde, sem aviso.
Clara sentiu o sangue a congelar, mas antes que conseguisse balbuciar uma resposta, uma voz fez-se ouvir.
— Claremont!
Lilian aproximava-se, o vestido de seda flutuando em torno de si. O olhar altivo que lançou ao secretário fez com que ele se endireitasse imediatamente.
— Eu mandei Clara à vila para me fazer um recado — disse Lilian, o tom confiante. — Se há algum problema com isso, posso resolver diretamente com o meu pai.
Claremont hesitou, claramente contrariado, mas não ousou desafiar Lilian.
— Claro que não, Lady Lilian. Apenas estava curioso.
Ele curvou-se ligeiramente e afastou-se, mas não sem lançar um último olhar a Clara.
Lilian esperou até que ele desaparecesse no corredor antes de se voltar para Clara.
— Segue-me — disse ela, o tom agora mais suave, mas ainda autoritário.
Lilian fechou a porta da pequena saleta atrás delas, acendendo um candeeiro a óleo para iluminar o espaço. Virou-se para Clara, cruzando os braços.
— Queres explicar-me o que aconteceu? Por que razão estavas fora a esta hora?
Clara evitou o olhar de Lilian. Não podia contar a verdade – não queria magoá-la com a crueldade do Duque.
— Fui buscar um... um remédio à vila — disse finalmente, tentando soar convincente. — Achei que pudesses precisar, e tinha acabado mas não quis incomodar-te com detalhes.
Lilian olhou-a e, por um momento, pareceu que ia insistir, mas, por fim, suspirou.
— Muito bem. Mas da próxima vez, avisa-me antes de saíres. Não quero que tenhas problemas com o meu pai ou com Claremont.
Clara assentiu rapidamente, aliviada.
— Obrigada, Lilian.
Lilian sentou-se no sofá, os olhos voltados para a chama do candeeiro.