Episodio 3

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Se te tocou, é porque era para ti.

À medida que o dia se aproximava do final, Gabriel permanecia à janela do escritório, observando os jardins que começavam a ganhar nova vida. As obras estavam finalmente concluídas, embora ainda restassem vestígios de pó nas portas e janelas. No entanto, a criadagem que contratara trabalhava com eficácia, e não demoraria muito até que tudo estivesse impecável.

A mansão começava a tornar-se acolhedora, fazendo-o sentir-se, contra todas as expectativas, em casa. Estranho, depois de tantos anos a evitar as memórias que aquele lugar lhe trazia. Mas, de certa forma, o ato de renovar a casa parecera apaziguar o passado — como se, ao restaurar as paredes, também tivesse restaurado parte de si.

O som dos cascos na estrada interrompeu-lhe os pensamentos. Ao erguer o olhar, Gabriel distinguiu a silhueta de um cavaleiro a aproximar-se. Seria Damien? Já? Teria de ter cavalgado como um louco para ali chegar em tão pouco tempo.

Não tardou até que uma batida soasse à porta e Thomas a abrisse, anunciando, com a habitual formalidade:

— O Conde Wesley, milorde.

— Gabriel — disse Damien ao entrar, apertando-lhe a mão com um sorriso de cumplicidade. — Quando é que chegaste? Não me disseste nada, e agora chamas-me assim de repente? O que é que se passa?

Gabriel fez um gesto para que Wesley se sentasse e, com um olhar sério, começou a explicar a situação.

— Lilian Cavendish — lembras-te de te ter contado que crescemos juntos? — está em grande perigo. O pai quer forçá-la a casar com Whitaker, que está a usar essa união para manipular o Duque e controlar os portos e a região.

Levantou-se e serviu-se de um brandy, oferecendo um copo a Damien, que o aceitou e foi bebendo lentamente, atento a cada palavra.

— O Duque não vê o que está a acontecer. Preciso da tua ajuda para descobrir até onde vão esses planos, antes que seja tarde demais. Enquanto tu procuras informações nos círculos da nobreza sobre Whitaker, eu vou tentar aproximar-me de Lilian — para que possamos intervir e pôr fim a este noivado.

Damien ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que acabara de ouvir. Embora já soubesse que a situação era complexa, a urgência com que Gabriel a expôs tornava-a ainda mais grave. Após um breve suspiro, recostou-se na cadeira e olhou para ele, um sorriso revelador de aceitação misturado com uma leve preocupação.

— Vais aproximar-te de Lilian? Com que intenção, Gabriel? Tens noção de que ela pode perder a reputação por tua causa?

Ergueu uma sobrancelha, a voz mais baixa.

— Vais expô-la para desmascarar os planos de Whitaker? Sabes que, uma vez que o faças, não há volta a dar, Gabriel. E depois... serás tu quem terá de casar com ela, não é?

Fez uma pausa. O tom tornou-se mais grave.

— Tens mesmo a certeza de que queres seguir por esse caminho?

Gabriel olhou para ele e sentou-se novamente, o canto dos lábios a curvar-se num leve sorriso.

— Sim, eu sei. E sim, tenho a certeza. Acho que chegou a hora de assentar. Estou a pensar em não voltar ao mar depois disto.

Damien observou-o, surpreso, os olhos ligeiramente arregalados pela revelação inesperada. Nunca imaginara que Gabriel — alguém que prezava acima de tudo a liberdade, o mar, a vida sem amarras — estivesse a considerar uma mudança tão radical. Mas ao ver a seriedade no olhar do amigo, e sabendo o que isso significava, aceitou a decisão sem hesitar.

— Bem, se é isso que queres, então estarei ao teu lado — disse Damien, agora sem sombra de dúvida. — Mas tens de ter em mente o que isso implica. A vida de casado, com todas as suas responsabilidades, não será fácil. E o que estás a pedir à Lilian também não será. Não se trata apenas de um casamento, mas de um sacrifício mútuo. Se é isso que escolhes, então vou contigo até ao fim.

Gabriel assentiu, tocado pela lealdade do amigo.

— Eu sei o que está em jogo. Não é só o futuro de Lilian que está em risco. O meu também. Estamos a lidar com forças que não conseguimos controlar sozinhos.

Fez uma pausa, inspirando lentamente, como se medisse as próximas palavras com cautela.

— Lilian vai dar um jantar em minha honra — vou colocar o meu plano em prática nessa noite.

O som de uma carruagem interrompeu o momento, e Evans apareceu à porta com ar apressado.

— Milorde, a carruagem do Conde chegou com os seus pertences.

Gabriel levantou-se e dirigiu-se à janela, observando a carruagem a estacionar no pátio. Damien acompanhou-o com o olhar, um sorriso a formar-se-lhe no rosto.

— Parece que está na hora de entrarmos em ação, então. Vamos garantir que este jantar seja o primeiro passo... na tua nova vida como homem casado.

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