No dia seguinte, após o almoço e com o sol a iluminar as ruas movimentadas de Londres, a carruagem de Damien parou em frente à residência de Lady Penélope. A casa destacava-se pela sua arquitetura refinada, com uma fachada de pedras claras e varandas decoradas com flores frescas — um reflexo da sua dona: elegante, mas sem extravagâncias.
Damien, com um sorriso ligeiramente malicioso, perguntou enquanto saíam da carruagem:
— Estás preparado? Penélope não é uma mulher que se impressiona facilmente. Vais precisar de todo o teu charme, Gabriel.
Gabriel respondeu com um leve erguer de sobrancelha:
— Se ela estiver disposta a ajudar Lilian, isso já me basta. Não vim aqui para a impressionar, Damien.
Damien riu baixinho enquanto subia os degraus da entrada:
— Claro que não. Mas acredita em mim, vais precisar de causar boa impressão. Ela adora analisar os seus convidados.
Assim que Damien tocou à campainha, a porta foi aberta por um criado impecavelmente vestido, que os guiou para o salão principal. O salão combinava acolhimento com elegância: cortinas pesadas em tons de creme e dourado, um grande piano de cauda e várias cadeiras estofadas em veludo.
Penélope levantou-se da sua poltrona junto à lareira quando os dois homens entraram. Era uma mulher ainda jovem, com um porte altivo e um olhar aguçado.
— Damien, meu caro — cumprimentou com um sorriso caloroso —, como é bom ver-te outra vez. Finalmente decidiste fazer-me uma visita.
Damien aproximou-se para lhe beijar a mão, inclinando-se ligeiramente:
— Lady Penélope, é sempre um prazer estar na sua companhia. E trouxe comigo um amigo muito especial.
Os olhos dela passaram rapidamente para Gabriel, avaliando-o sem cerimónias.
— Ah, então este é o famoso Conde de Sinclair de quem me falaste na carta.
Gabriel inclinou-se numa saudação cortês:
— É uma honra conhecê-la, Lady Penélope. Damien falou muito bem de si.
Ela deu um sorriso, olhando para ele de forma perspicaz:
— Espero que tenha sido honesto. Por favor, sentem-se. Gostaria de ouvir mais sobre este amigo misterioso que me trouxeste.
Os três sentaram-se. Pouco depois, uma criada entrou com uma bandeja de chá e bolos, servindo-os com discrição. Damien manteve o tom descontraído, mas a conversa não tardou a virar para assuntos mais sérios.
— Penélope — começou Damien, pousando a sua chávena de porcelana com cuidado —, estamos aqui porque precisamos do teu conselho. E do teu apoio.
Os olhos dela brilharam com curiosidade:
— Ora, Damien, fala-me desse apoio de que precisas.
Gabriel interveio, o tom educado mas determinado:
— Trata-se de Lilian, minha senhora. Sei que é madrinha dela e que se preocupa genuinamente com o bem-estar dela. O noivado com Lord Whitaker... não deve seguir em frente.
As feições de Penélope endureceram ligeiramente, mas os seus olhos não mostravam surpresa:
— Esse assunto, infelizmente, não me é estranho. Sempre desconfiei das intenções de Whitaker, mas o meu irmão é teimoso. Acha que está a proteger a filha com esta união.
Gabriel inclinou-se ligeiramente para a frente:
— Whitaker não quer proteger Lilian. Ele quer poder. E não é apenas ambicioso. Ele usa o medo e o poder para controlar quem o rodeia. Não posso permitir que Lilian seja vítima disso.
Penélope ficou em silêncio por um momento, os dedos a percorrerem o bordo da chávena. Depois, olhou para Gabriel com uma intensidade que parecia querer ler-lhe a alma:
— E o que sugere, jovem? Está disposto a enfrentar Whitaker por ela? Porque, se seguir este caminho, não há como voltar atrás.
Gabriel manteve o olhar fixo no dela:
— Estou disposto a tudo para proteger Lilian. Mas não o conseguirei sem o seu apoio.
Um sorriso quase impercetível surgiu nos lábios de Penélope:
— Muito bem. Vamos começar com um chá e um baile. Estou a dar uma receção em poucos dias. Será a ocasião perfeita para apresentar formalmente o seu "amigo", Damien. E, talvez, para começarmos a traçar um plano para afastar Whitaker.
Damien não conseguiu esconder o sorriso de triunfo:
— Sabia que podia contar contigo, Penélope.
Ela soltou uma pequena gargalhada:
— Não me agradeçam ainda, rapazes. Estamos a lidar com um homem muito perigoso. Mas se há algo que aprendi é que as alianças mais inesperadas são as mais eficazes.
— Obrigado, milady — disse Gabriel, aliviado.
Penélope pegou na sua chávena de chá, fazendo um ligeiro brinde:
— Então, que assim seja. Brindemos ao que vem a seguir. Mas que fiquem avisados: a corte não perdoa erros.
***
Pouco depois, Lilian chegou, acompanhada por Clara. Estava vestida de forma simples mas elegante, com um vestido azul-escuro que realçava os seus olhos verdes. Assim que entrou, Lady Penélope levantou-se para recebê-la com um sorriso caloroso.