Ventos de Paixão - O Preço da Esperança - Vp Livro1

Episodio 2

O portão da casa de Lady Penélope fechou-se atrás deles com um estalido surdo. Na carruagem, o silêncio arrastava-se, denso. Damien ajustou o casaco e recostou-se no assento, os olhos cravados no amigo.

— Nunca pensei dizer isto, mas… — começou, cruzando os braços — Lady Penélope impressionou-me. Parece-me que ela está disposta a enfrentar até o irmão para defender a afilhada.

Gabriel manteve o olhar na janela embaciada.

— Sim, também fiquei com essa impressão. Ela sabe que Lilian está encurralada.

— Achas que está verdadeiramente do teu lado?

Gabriel hesitou antes de responder.

— Não. Acho que está do lado de Lilian. E isso chega-me.

Damien assentiu, pensativo.

— Vais dizer-lhe a verdade sobre Whitaker?

— Vou, ela não precisa de histórias. Sabe o suficiente. E o que ainda não sabe, vai querer saber.

Damien arqueou uma sobrancelha.

— E se não quiser? Se achar que o escândalo de um noivado rompido pesa mais do que a liberdade da afilhada?

Gabriel desviou finalmente o olhar da janela e fitou-o.

— Então vou lutar sozinho. Mas por agora, acredito que vai ficar do meu lado.

Damien soltou um suspiro breve.

— E Lilian?

— Lilian... — Gabriel passou uma mão pelo rosto, a voz a abrandar. — já sabe que este casamento não é o que ela quer.

— E achas que a consegues fazer perceber que tem escolha? Porque, até agora, parece-me que ela está presa entre a lealdade ao pai e o medo da sociedade.

Gabriel manteve-se em silêncio por um instante antes de falar, a voz baixa, como quem expõe um receio.

— E se o medo ganhar?

Damien estudou-o com atenção, o tom a suavizar-se.

— Então voltas a bater à porta. Até ela abrir.

Gabriel desviou novamente o olhar, as mãos pousadas nos joelhos enquanto ponderava as palavras de Damien.

Damien encarou-o, e disse-lhe a sorrir.

— Tu és o homem mais teimoso que conheço, Sinclair.

Gabriel manteve-se em silêncio, mas as palavras de Damien pareciam ecoar no interior da carruagem enquanto esta continuava o seu percurso.

***

Lord Whitaker entrou na sua casa de Mayfair depois de deixar Lilian em casa de Lady Penélope. A criadagem curvou-se discretamente, habituada ao silêncio pesado que o seguia. O mordomo aproximou-se, mas Whitaker ergueu uma mão, dispensando explicações.

— Nada agora. Tragam-me vinho e deixem-me a sós no escritório.

Seguiu pelo corredor acarpetado, virou à esquerda e empurrou a porta do escritório. A divisão era escura, silenciosa, cheirava a couro e fumo antigo. Pousou as luvas sobre a secretária, retirou o casaco e sentou-se.

O criado aproximou-se com discrição, para o servir e saiu.

Quando ficou sozinho, puxou uma folha de papel timbrado e mergulhou a pena no tinteiro. A mão movia-se com uma fluidez elegante, e o conteúdo da carta formava-se com uma clareza que só a premeditação permitia.

Meus senhores,

As negociações em Londres seguem dentro do previsto. A aceitação do Duque está garantida e a jovem Lady Lilian, embora resistente, será brevemente minha esposa. Após o casamento, a influência política será reforçada e os envios podem aumentar sem entraves.

Recomendo que preparem os navios para as próximas semanas. O controlo das rotas será total.

Nada deve falhar.

— S. W.

Selou a missiva com cera negra e o seu brasão pessoal: um falcão em voo sobre um punhal. Depois, levantou-se com a taça de vinho, aproximou-se da janela e espreitou por entre as cortinas, observando o movimento na rua lá em baixo com desdém.

— A fachada perfeita — murmurou. — Por trás dela, tudo se move como eu quero.

Sorveu um gole lentamente, os olhos fixos no exterior.

— Londres tem os seus encantos — continuou, o olhar frio. — Mas o poder… o poder é o verdadeiro prazer.

Virou-se de novo para a sala, tocando o sino que chamava o seu criado pessoal.

— Esta carta — disse, entregando o envelope selado — é urgente. Será entregue em mão. E certifica-te de que ninguém sabe que saiu desta casa.

O criado curvou-se em silêncio e desapareceu, tão eficaz quanto discreto.

Sozinho novamente, Whitaker sentou-se e recostou-se na cadeira, os olhos semicerrados, os dedos a brincar com o pé da taça de cristal.

Ainda não tinha conseguido ultrapassar a ofensa da última nomeação real — mais um homem sem história, promovido com honras que deviam ter sido suas. Era sempre assim. A Coroa recompensava idiotas bem-falantes, mercadores enriquecidos ou filhos ilegítimos com pretensões a moral.

Como Gabriel Sinclair, um corsário.




Reportar




Uso de Cookies
Con el fin de proporcionar una mejor experiencia de usuario, recopilamos y utilizamos cookies. Si continúa navegando por nuestro sitio web, acepta la recopilación y el uso de cookies.