Ventos de Paixão - O Preço da Esperança - Vp Livro1

Capitulo 12

O sol filtrava-se pelas altas janelas da sala de estar de Lady Penélope, projetando manchas douradas sobre o tapete oriental e os sofás de veludo azul. Lá fora, o som distante de cascos de cavalos a cruzar as pedras da rua misturava-se com o chilrear ocasional de aves no jardim interior, onde os primeiros botões de primavera começavam a despontar.

Já se tinham passado dois dias desde que Lilian chegara a Londres e a ansiedade que sentira ao chegar não parecia dissipar-se. O tempo parecia arrastar-se, com cada hora marcada pela pressão crescente do baile que se aproximava.

Estava sentada num dos sofás de veludo azul, segurando um livro que, por mais que tentasse, não conseguia ler.

— Estás muito calada esta manhã, minha querida — observou Lady Penélope, pousando a sua chávena de chá sobre a mesa de mármore — Isso não é normal em ti.

Lilian esboçou um sorriso, mas era forçado.

— Peço desculpa, madrinha. Acho que ainda estou a habituar-me a estar em Londres.

— Não acredito que seja apenas isso — disse Lady Penélope, inclinando-se ligeiramente para a frente. — Conheço-te bem demais, Lilian. Há algo que te incomoda, e acho que tens medo de falar sobre isso.

Lilian hesitou, mordendo o lábio inferior e fechando o livro com mais força do que era necessário. Finalmente, suspirou e pousou o livro no sofá.

— É o baile. Ou melhor, o que ele representa. Estar lá... ao lado de Lord Whitaker, sob o olhar atento de toda a sociedade... sinto-me como se estivesse a ser empurrada para algo que não quero, mas que também não consigo evitar.

Lady Penélope endireitou-se, o seu rosto sério.

— Eu sabia que este noivado era um fardo para ti, mas não tinha noção de quanto te está a afetar. — Ela fez uma pausa, estudando Lilian antes de continuar. — Diz-me, minha querida, o que é que tu realmente queres?

A pergunta apanhou Lilian de surpresa. Levantou o olhar, as palavras a tropeçarem antes de saírem.

— Eu... eu não sei. Só sei o que me recuso a aceitar. Não quero viver sob o controlo do meu pai ou de Lord Whitaker.

Lady Penélope assentiu lentamente, compreensiva.

— Tens mais força do que imaginas. O que te está a impedir de lutares pelo que queres? Tens receio de desafiar o teu pai?

Lilian desviou o olhar, a voz a falhar-lhe ligeiramente.

— Tenho…, quer dizer,… não sei se sou capaz.

A tia levantou-se, aproximando-se de Lilian e pousando-lhe uma mão reconfortante no ombro.

— Querida, enfrentar o teu pai não será fácil, e eu não te posso prometer que não haverá consequências. Mas também não vais ficar sozinha. Tens aliados, e tens a mim. Lembra-te: enquanto eu estiver aqui, terás um teto seguro para te proteger.

Lilian levantou o olhar, o coração a bater mais rápido. As palavras dela ofereciam um vislumbre de algo que não tinha considerado – uma rede de segurança, mesmo que temporária.

— Mas e o meu pai? Ele não aceitará que eu o desafie.

Lady Penélope suspirou, um leve brilho de dor passando pelos seus olhos.

— O teu pai é teimoso, Lilian. Sempre foi. Mas ele respeita a força, mesmo que a contrarie. Se te vires obrigada a fazer escolhas difíceis, fá-las com determinação. E lembra-te, enquanto estiveres sob o meu teto, ele não te pode forçar a nada.

Lilian sentiu uma onda de emoção a crescer dentro de si. Não era uma solução permanente, mas era uma pequena luz num túnel escuro.

— E se eu não souber o que quero? E se tomar a decisão errada?

Lady Penélope sorriu, o gesto cheio de ternura e confiança.

— Errar faz parte da vida, minha querida. Mas sabes o que é pior do que errar? Não escolher. Porque, ao não escolher, deixas que os outros decidam por ti. E eu sei que isso não é o que tu queres.

Lilian ficou em silêncio, as palavras a encontrarem um sítio onde se aninharem dentro de si. E isso foi o suficiente para lhe dar coragem para enfrentar os próximos dias.

***

Nos dias que se seguiram, Londres revelou-se tudo o que Lilian temia e mais um pouco. Whitaker, sempre impecavelmente vestido e com o tom cortês de um cavalheiro, acompanhava-a em eventos sociais que Lady Penélope organizava ou apoiava. Embora mantivesse a posse esperada de uma futura noiva, Lilian sentia a tensão a cada passo, a cada olhar de aprovação ou análise disfarçada dos presentes.

Naquela tarde, um pequeno chá no jardim de uma conhecida de Lady Penélope reuniu um círculo de senhoras e cavalheiros da alta sociedade. O cenário, com flores a desabrochar e mesas decoradas com porcelana fina, era tão perfeito que Lilian sentiu-se oprimida por tanta perfeição.

Whitaker, sentado ao lado dela, inclinou-se para murmurar, num tom que apenas ela podia ouvir:

— Sorria mais, Lilian. Todos estão a observar-nos, e não é apropriado que a futura Lady Whitaker pareça descontente.

Lilian apertou levemente o leque nas mãos, mantendo o sorriso educado no rosto.

— Não sabia que a minha felicidade era um requisito para este noivado, Lord Whitaker — respondeu ela, o tom tão suave que poderia ser confundido com docilidade.




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