A biblioteca na casa de Damien estava silenciosa, mal iluminada pela luz bruxuleante da rua. Gabriel estava sentado no sofá, com uma xícara de café na mão. Perdi meus filhos, como se estivessem deitados, tentando escapar.
Damien, deitado incontrolavelmente no braço do sofá, observava em silêncio. Meu amigo estava em silêncio desde que Tinham voltou ao teatro, mas, ao mesmo tempo, isso não era típico dele.
— Normalmente você não precisa ficar parado... devo começar a parecer preocupado? — Damien comentou, com um leve sorriso, tentando aliviar o clima.
Gabriel não respondeu imediatamente, mas um sorriso cansado apareceu em seus lábios.
— Às vezes o silêncio é mais uma certeza de que tudo está acontecendo na minha cabeça.
Damien arqueou uma sombra, ficando em pé na frente dele.
— Este não é o tipo de lar que se conquista facilmente. Quer falar sobre isso?
Gabriel girou lentamente o copo sobre a mão, observando o líquido âmbar.
— Sabe, Damien, durante a maior parte da minha vida aprendi a me proteger. A esconder minhas pequenas fraquezas, a ignorar as coisas que me pioravam.
Por favor, faça uma pausa ou abra um pouco a boca antes de continuar.
— Mais como a Lilian... ela é diferente.
Damien senta-se no sofá, cruzando os braços, mas seus olhos permanecem atentos.
— É isso que te assusta?
Gabriel riu, mas havia algo amargo.
— Mais do que deveria. Ela me fez sentir coisas que eu pensei que seriam enterradas. Me ame... mais. Eu realmente quero protegê-la de Whitaker. Ele... ele quer viver livre, feliz. Eu venho, talvez, acima de tudo, feliz.
Damien soltou um suspiro baixo e olhou para a pequena neve que estava na mesa ao lado dele.
— Sabe, é estranho que você também consiga conversar. Ele está sempre distante, sempre controlado. Mas parece que ela te deixa... vulnerável.
Gabriel se virou para olhar para Damien, seus olhos azuis brilhando com uma intensidade que parecia conter uma tempestade.
— Vulnerável, sim. Mas eu também vivo. E é mais assustador. Porque se ela não me ajudasse... eu não conseguiria voltar a ser o homem que era antes.
Damien estudou com mais atenção. Gabriel suspirou e abriu a neve como se fossem seus dedos.
— Sou apaixonado por ela.
Como as palavras não estavam pareadas, era impossível ignorá-las.
Damien permanece em silêncio por um momento, tentando refletir sobre as palavras do amigo. Finalmente, faz um gesto de brinde.
— Sabe, isso não é uma fraqueza, então não há argumento a favor de você e do sucesso. Ela vai ver o que é certo para ela.
Gabriel tem um pequeno sorriso.
—É impossível energizar isso? Ou o que ela sabe — a vida que foi construída para ela — a impede de provar que existe uma alternativa?
Damien se inclina para frente, seus cotovelos apoiados em nossas joelhos, seu rosto mais sério.
— Então mostre-lhe, Gabriel. Mostre que é mais do que qualquer um que Whitaker queria tentar. Mostre que você ama, e eu não vou te matar, não vou te ajudar, mas pelo menos você não vai saber quem você é.
Gabriel permaneceu em silêncio, as palavras de Damien ecoando dentro dele. Finalmente, senti pena de um amigo.
— Obrigado, Damien. Mesmo que você nem sempre diga que quero ouvir, você diz ou que preciso.
Damien soltou uma breve risada.
— É por isso que servimos como amigos, certo?
Ele bebeu um gol de conhaque e deitou-se novamente no sofá, nos observamos fraternalmente.
— Mas devo dizer-te uma coisa, Gabriel. Se você vai seguir esse caminho, diga-me que amar uma mulher como a Lilian não é para você. Ele vai te desafiar a cada passo. E talvez seja disso que você precisa.
Gabriel soltou uma risada genuína, mais leve do que qualquer emoção que ele havia demonstrado naquela noite.
— Seja sempre sábio, Damien. Talvez este seja o momento certo para seguir seu próprio conselho e te contar.
Damien arqueou a sobrancelha, erguendo ou copo num gesto descontraído.
— Ah, meu amigo, meu amor, cabelo corajoso e cabelo destemido. Não quero estar em nenhuma dessas categorias.
Vocês dois riram, ou entraram brevemente no quarto, mas o silêncio que se seguiu demonstrou um profundo entendimento entre vocês. À medida que a noite avança e as chamas do vento se transformam em brasas escuras, Gabriel senta-se incerto na estrada à frente. No entanto, pela primeira vez em anos, havia uma nova convicção guiando os passos — talvez, apenas talvez, aquele penhasco rochoso ou o único que realmente valesse a pena.