O sol filtrava-se pelas cortinas delicadas do salão de Lady Penélope, preenchendo o espaço com uma luz cálida. Lilian acabava de tomar o pequeno-almoço com a madrinha. Apesar do ambiente tranquilo, Lilian mantinha-se em silêncio.
— Minha querida — começou Lady Penélope, observando-a por cima da chávena — estava a pensar em sairmos hoje. Uma ida às compras talvez te distraia um pouco. O que achas?
Lilian esboçou um pequeno sorriso, grata pelo cuidado da madrinha.
— Acho uma boa ideia. Um passeio será bem-vindo.
Assim que se levantaram para sair, um criado apareceu na entrada da sala.
— Milady, Lord Whitaker chegou e deseja falar com Lady Lilian.
Lilian ficou tensa e Lady Penélope suspirou discretamente.
— Peça a Lord Whitaker que espere na sala azul. — Voltou-se para Lilian, oferecendo-lhe um olhar reconfortante. — Deixa-o comigo, querida.
Whitaker aguardava, no rosto o sorriso polido que Lilian aprendera a detestar e nas mãos um ramo de rosas.
— Lady Penélope, que prazer vê-la. Vim apenas para confirmar se chegaram bem do teatro ontem e para visitar Lady Lilian.
Lady Penélope manteve um sorriso educado, mas os olhos tinham um brilho frio.
— Que cortesia a sua, Lord Whitaker. Como vê chegámos muito bem. No entanto, temo que Lady Lilian e eu já tenhamos planos para a manhã. Talvez fosse mais apropriado voltar da parte da tarde.
O sorriso de Whitaker vacilou ligeiramente, mas ele recuperou rapidamente.
— Naturalmente, Lady Penélope, peço-lhe então que dê estas flores a Lilian, como prova do meu afeto. Voltarei à tarde, então. — Ele fez uma reverência antes de se retirar visivelmente irritado.
Lady Penélope voltou à sala com um sorriso satisfeito e um ramo de rosas.
— Lord Whitaker trazia estas flores para ti, minha querida. Eu vou mandar coloca-las em água e depois vamos aproveitar esta manhã sem interrupções.
— São lindas… só gostava que não viessem de alguém que me é tão repulsivo.
***
O passeio pelas lojas foi uma distração bem-vinda. Londres era uma cidade vibrante, com ruas movimentadas e vitrinas coloridas exibindo tecidos finos, joias e acessórios elegantes. Lady Penélope aproveitou a ocasião para apresentar Lilian a alguns comerciantes de confiança e garantir que a afilhada se sentisse à vontade nas suas escolhas. Embora Lilian apreciasse a companhia de Lady Penélope, uma sombra de preocupação permanecia nos seus pensamentos — a inevitável visita de Whitaker.
De regresso a casa, almoçaram descontraidamente. A tia aproveitou a oportunidade para falar com Lilian acerca do baile.
— Lilian, querida, tenho uma ideia. O que achas de fazermos algo diferente para o baile? Algo mais... inesperado?
Lilian ergueu as sobrancelhas, interessada.
— Diferente como?
— Um baile de máscaras — anunciou Lady Penélope, com um sorriso travesso. — E o tema... piratas. É ousado, é claro, mas talvez seja o tipo de diversão que precisamos.
Lilian sorriu genuinamente pela primeira vez em dias.
— Adoraria isso. Seria, sem dúvida, memorável.
Lady Penélope bateu palmas, satisfeita.
— Então está decidido. Vamos preparar um evento que ninguém esquecerá.
Mais tarde, após o almoço, e enquanto Whitaker não chegava, Lilian decidiu aproveitar o tempo agradável no jardim. Com um livro nas mãos, dirigiu-se a um caramanchão escondido por entre a vegetação, longe do olhar atento de qualquer criado. O ar estava fresco, e o som dos pássaros acompanhava as palavras do romance que tentava ler.
— Um refúgio encantador — disse uma voz masculina, surpreendendo-a.
Gabriel estava ali, meio escondido pela vegetação, a olhar para ela de uma forma que lhe fez o coração disparar.
— Gabriel… como é que chegaste aqui? — perguntou, nervosa.
Ele aproximou-se com passos silenciosos, os olhos fixos nos dela.
— Estava a passear quando me deparei com este jardim, e qual não foi o meu espanto quando vi uma ninfa rodeada de flores.
Lilian sentiu o calor a subir-lhe às faces, mas forçou-se a manter o tom leve.
— Sempre tão cheio de palavras encantadoras. Espero que não estejas a ensaiar para nenhuma peça.
Gabriel riu-se, um som baixo e rouco.
— Não preciso de ensaios para te dizer a verdade, Lilian.
O tom mudou, e Lilian sentiu o momento a envolvê-los.
— Não sei o que queres de mim, Gabriel. Tudo isto... é complicado.
Gabriel inclinou-se ligeiramente para ela, a distância entre eles diminuindo.
— O que quero, Lilian, é simples. Quero-te a ti.
Lilian sentiu o rosto a escaldar, mas antes que pudesse responder, Gabriel inclinou-se e beijou-a. Não foi um beijo suave. Foi carregado de paixão e desejo, despertando sensações que Lilian tentava reprimir. As mãos dele seguraram-lhe o rosto com firmeza, o toque dele queimava, e Lilian sabia que devia afastar-se. Mas quando os lábios de Gabriel roçaram os dela, qualquer resistência tornou-se inútil. Foi como ser puxada por uma corrente invisível – e, pela primeira vez, ela não queria lutar contra a maré.