Minutos depois, Whitaker apareceu, o rosto exibindo um sorriso satisfeito.
— Lilian — murmurou ele, aproximando-se devagar, a voz carregada de doçura fingida. — Tão sozinha no meio do paraíso… quase parece que estavas à minha espera.
Lilian sentiu o estômago às voltas, mas forçou um sorriso.
— Lord Whitaker, não esperava vê-lo tão cedo.
Ele aproximou-se mais, os olhos percorrendo cada detalhe da figura de Lilian. Enquanto a observava, Whitaker sentia o sangue a ferver. Ela ainda achava que podia resistir. Ridículo. Mulheres como ela precisavam de aprender o seu lugar. Quanto mais lutassem, mais doce era o momento em que quebravam. E Lilian? Oh, ela quebraria. A resistência apenas tornaria a rendição mais doce.
Para ele, não havia nada mais excitante do que quebrar aquela teimosia que ela exibia com tanta coragem. À medida que avançava, o brilho dos seus olhos tornava-se mais quente.
— Não podia deixar de aproveitar esta oportunidade para passar algum tempo a sós contigo. Um dos criados teve a gentileza de me dizer onde estavas quando cheguei.
Antes que Lilian pudesse reagir, Whitaker inclinou-se para a beijar. O nojo e o choque fizeram-na afastar-se bruscamente.
— Não faça isso — disse ela, a voz a tremer.
O sorriso de Whitaker desapareceu, substituído por um olhar de raiva, e tentou agarrar-lhe o braço.
— És minha noiva, Lilian. E vais ser minha mulher, por isso, vem cá!
Lilian deu um passo atrás e olhou em volta à procura de uma forma de fugir, pois ele estava a bloquear-lhe o caminho. Sem responder, virou-se e começou a correr pelo meio da vegetação, os galhos a arranharem-lhe os braços e a barra do vestido a prender-se nas plantas rasteiras.
Ela ouvia os passos de Whitaker atrás dela, cada vez mais rápidos. Ele deixou escapar um grunhido irritado, a raiva a substituir a sua fachada polida. Ela vai arrepender-se, pensou, os olhos na figura em fuga.
O coração de Lilian batia com tanta força que parecia que iria explodir. Não posso deixar que ele me apanhe, pensou, o pânico a nublar-lhe a visão. Preciso de chegar à segurança da casa... preciso de fugir. As árvores à sua volta pareciam fechar-se, mas ela forçou-se a continuar, o instinto de sobrevivência a sobrepor-se ao medo.
Quando finalmente avistou a porta da casa, quase tropeçou, mas agarrou-se à parede para manter o equilíbrio. Assim que alcançou o quarto, trancou a porta, os dedos trémulos a lutarem com o trinco, e desabou na cama, as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto.
Pouco depois, Clara entrou para arrumar as roupas e ficou preocupada quando a viu descomposta e a chorar.
— O que aconteceu, Lilian? — perguntou, ajoelhando-se ao lado da cama.
Lilian soluçou, tentando explicar entre lágrimas.
— Foi horrível, Clara. Ele... ele tentou beijar-me. Não consigo... não consigo suportar mais isto.
Ela segurou as mãos de Lilian com carinho, os olhos castanhos a brilharem determinados.
— Lembras-te de quando éramos crianças e fugíamos para brincar no jardim? Eu tinha sempre medo de ser apanhada, mas tu dizias-me sempre que eu não tinha de ter medo. Isso ainda é verdade, Lilian. Tu não tens de ter medo de nada. Tu és forte.
Lilian ergueu o olhar, os olhos ainda marejados de lágrimas, mas com uma centelha de esperança.
— E se não for suficiente, Clara? E se ele me destruir?
Clara abanou a cabeça.
— Ele só vai destruir-te se tu deixares. Além disso, isto não pode continuar, Lilian. Ele não tem o direito de te tratar assim. Não interessa quem ele pensa que é. Vamos falar com Lady Penélope.
— Não… não quero que ninguém saiba, Clara. Fica só entre nós, por favor. — Pediu Lilian, ainda com lágrimas a escorrer pelo rosto.
Clara assentiu, mas a preocupação continuava presente no seu olhar.
— Eu prometo. Mas... isto não pode continuar.
Enquanto Clara a confortava, Lilian sentiu um sentimento novo a emergir. Não era apenas medo ou desgosto — era raiva. Uma raiva que a fazia querer lutar, querer gritar. Não queria ser a vítima para sempre. Não podia ser. Preciso de me libertar disto, pensou, limpando as lágrimas com uma determinação renovada.
Ao sair do quarto, fechou a porta suavemente e lançou um olhar determinado ao corredor vazio, o rosto marcado pela preocupação. Não podia ignorar o que tinha acabado de ver e ouvir. Lady Penélope precisa de saber o que aconteceu. Não vou ficar de braços cruzados decidiu.
Dirigiu-se com passos determinados ao escritório de Lady Penélope, que lia junto à luz de uma lamparina.
— Clara? O que se passa? — perguntou Lady Penélope ao vê-la hesitar na entrada.
— Milady — começou Clara, a voz baixa mas firme — eu não sei se devo, mas... algo aconteceu com a Lady Lilian, e eu sinto que não posso ficar calada.
Lady Penélope colocou o livro de lado.
— Fala, minha querida. O que aconteceu?
Clara respirou fundo antes de explicar, as palavras a saírem rápidas, como se temesse perder a coragem.