Ventos de Paixão - O Preço da Esperança - Vp Livro1

Episodio 3

Lady Penélope supervisionava os preparativos finais para o baile. As suas instruções eram claras e detalhadas apesar dos seus pensamentos estarem centrados na afilhada.

Espero que Lilian encontre algum conforto esta noite — pensou, lançando um olhar pela janela para o jardim.

Os acontecimentos recentes tinham-na deixado preocupada com o estado emocional dela.

Ela carrega tanto em silêncio — refletiu, antes de suspirar discretamente e voltar à atenção para as flores que decoravam a entrada principal. Esta noite precisa de ser perfeita, por ela. Além disso, se esta noite correr bem, talvez Lilian veja que há caminhos para além dos que o pai traçou para ela.

Lilian, no entanto, tinha decidido aproveitar o ar fresco e montar a cavalo. Enquanto galopava pelo Hyde Park, a brisa fria da manhã acariciava-lhe o rosto. Sentia-se temporariamente livre do que a sociedade esperava dela. No entanto, a liberdade era ilusória.

Os pensamentos rapidamente voltaram ao baile daquela noite. Seria o momento em que todos os olhares estariam postos nela. A sombra de Whitaker pairava sobre ela, mas era o olhar de Gabriel que continuava a persegui-la. Havia algo nele – aquele cuidado disfarçado de provocação – que mexia com as suas convicções.

— O que é que eu vou fazer? — pensou, puxando ligeiramente as rédeas e observando o horizonte.

No interior da casa, Clara encontrava-se no quarto de Lilian, a organizar alguns dos baús trazidos da mansão Cavendish. Entre tecidos antigos e acessórios, algo chamou a sua atenção: um envelope amarelado, com um brasão que lhe parecia familiar. Hesitante, ela franziu o sobrolho enquanto agarrava o envelope entre os dedos, o coração a bater mais rápido a cada segundo.

— De onde veio isto? — murmurou para si mesma, o olhar a percorrer os detalhes do brasão.

A semelhança com o seu colar era inegável, mas a presença do objeto entre os pertences antigos da mãe de Lilian parecia um enigma. Seria coincidência ou algo mais? Por um momento, Clara pensou em abri-lo ali mesmo, mas um receio inexplicável conteve-a.

Guardou o envelope no bolso do avental, decidida a investigar mais tarde. No entanto, a inquietação não a abandonava.

À medida que a manhã avançava e o sol atingia o seu auge, a casa de Lady Penélope pulsava com energia e antecipação. Cada criado, cada decoração parecia sussurrar sobre o evento que se aproximava.

***

Na penumbra do seu clube privado, Whitaker inclinava-se para trás numa poltrona, um copo de whisky na mão. Já tinha bebido bastante, mas não o suficiente para esquecer o que acontecera com Lilian. Para esquecer a expressão de nojo com que ela ficara quando a tinha tentado beijar.

O ambiente estava carregado de fumo e risos abafados, mas ele não partilhava da alegria dos outros. Os olhos brilhavam de raiva enquanto pensava em Lilian.

— Cabra — murmurou ele para si mesmo, os dedos a apertarem o copo com tanta força que parecia prestes a estalar. — Ela acha que pode desafiar-me? Que pode escapar impune?

A lembrança do jantar voltou com força – a forma como Lilian parecia evitá-lo, a audácia de Gabriel Sinclair ao enfrentá-lo na varanda. A humilhação ainda lhe ardia, e o whisky não conseguia apagar a sensação de que todos estavam a rir dele nas suas costas. Ele inclinou-se ligeiramente para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto encarava as chamas na lareira.

— E aquele maldito Sinclair... Ele pensa que pode interferir? Vou certificar-me de que ele se arrepende de ter voltado. Primeiro, vou dobrar Lilian. Vou quebrar essa teimosia dela e fazer dela um exemplo. Depois, Sinclair...

O sorriso lento e predador que se formou no seu rosto era quase uma promessa. A mente já a arquitetar um plano.

— Vou garantir que todos vejam quem manda. Ninguém me desafia sem sofrer as consequências.

Um dos homens ao lado dele, já embriagado, lançou-lhe um olhar curioso.

— Whitaker, pareces tenso. Estás com algum problema de saias?

Whitaker soltou uma gargalhada baixa e amarga.

— Não, ela só precisa de ser... orientada. — Ele ergueu o copo num brinde silencioso, o olhar perdido no fogo que ardia na lareira. — E todos vão saber o que acontece a quem me desafia.

Quando Whitaker murmurou a última frase, o ambiente na sala mudou. A tensão, antes soterrada sob risos e fumo de tabaco, tornou-se palpável. Um dos homens pousou o copo de whisky, desviando o olhar. Outro pigarreou, ajustando a gola do casaco como se, de repente, o ambiente estivesse demasiado quente. Até entre aqueles que partilhavam os mesmos vícios e corrupções, havia limites não ditos.

— Whitaker… — começou um dos homens, num tom hesitante. — Talvez seja melhor teres cuidado com a forma como abordas isto. O Duque pode não reagir bem se…

— O Duque? — Whitaker riu-se, um som frio e sem humor. — O Duque está velho e cego. Ele quer o nome da filha limpo e a herança segura. Não lhe interessa o resto.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Nenhum dos homens se atreveu a contradizê-lo, mas o desconforto era evidente. Alguns eram imorais, sim. Mas havia algo no tom de Whitaker,, que lhes gelava o sangue.




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