Ventos de Paixão - O Preço da Esperança - Vp Livro1

Capitulo 14

As carruagens aproximavam-se em fila, os cascos dos cavalos ecoando com ritmo solene. A fachada da casa de Lady Penélope destacava-se sob a luz trémula dos candelabros dourados e das lanternas que ladeavam os portões de ferro trabalhado. O aroma de flores frescas misturava-se ao ar noturno, onde os ecos das conversas da alta sociedade pairavam como uma melodia contínua.

No interior da residência, Lady Penélope observava atentamente os últimos preparativos. O salão de baile brilhava com a luz dos lustres de cristal, que se refletia nas superfícies polidas das colunas marmorizadas. Criados moviam-se com eficiência discreta, ajustando as mesas ricamente adornadas com arranjos florais e o brilho dos copos de cristal.

Clara verificava se tudo estava em ordem, os olhos atentos a cada detalhe.

— Minha querida — brincou Lady Penélope, num tom meio divertido, meio orgulhoso — se fores mais rigorosa com os detalhes, terei de te nomear governanta da minha casa.

Clara parou, surpresa, as mãos tremendo levemente antes de esconder rapidamente o nervosismo com um sorriso tímido.

— Apenas quero que tudo corra bem.

Com um suspiro contido, Lady Penélope lançou um olhar à escadaria que conduzia aos aposentos de Lilian. Sabia, no íntimo, que nem mesmo o esplendor do baile conseguiria libertá-la do peso da decisão paterna.

— Ela vai precisar de todo o apoio esta noite — murmurou, pensativa.

O irmão chegara a Londres naquela tarde e já se encontrava devidamente instalado. Aproveitando a ocasião em que ele a veio cumprimentar no gabinete, ela não hesitou em relatar os episódios da última semana — em especial o comportamento de Whitaker no jardim.

Sentado num cadeirão de couro escuro, o Duque ouvira-a imperturbado, um cálice de vinho na mão, os dedos a tamborilarem levemente na borda do copo.

— Penélope, minha querida — começou ele, num tom paciente — as mulheres, por vezes, têm uma tendência natural para dramatizar pequenas situações. Tenho plena confiança em Lord Sebastian. É um homem de estatuto, influente, e a sua união com Lilian só trará benefícios.

Ela olhou-o nos olhos, e sentiu a fúria crescer dentro de si — o irmão podia ser mesmo cego quando queria.

— Benefícios para quem? Para Lilian ou para ti?

O Duque riu-se, como se a acusação fosse absurda.

— Para a nossa família, evidentemente. Ele tem contatos valiosos na corte, influência comercial e um nome respeitável.

— A influência dele pouco importa se não respeitar Lilian — a voz dela endureceu. — E tu devias estar mais atento à forma como ele a trata. Estou a tentar dizer-te que ele a intimidou no jardim. O que mais precisas para perceber que este noivado não pode continuar?

O Duque sorveu um gole de vinho, a paciência por um fio.

— A minha filha não é uma criança, Penélope. Ela precisa de aprender que os casamentos não são feitos de sonhos românticos, mas de alianças.

Lady Penélope olhou-o frustrada.

— E se Lilian não o quiser? Vais obrigá-la a um casamento infeliz apenas para satisfazer o teu orgulho?

O Duque pousou o copo sobre a mesa com um som seco.

— Eu sou o pai dela, Penélope. Sei o que é melhor para ela.

— Melhor para ela? — Lady Penélope ergueu-se da poltrona diante do irmão, cruzando os braços com indignação. — Ou melhor para ti?

O Duque tentou manter-se impassível, mas uma sombra de irritação passou pelo seu rosto.

— Não vou discutir isto contigo, Penélope. A decisão está tomada. Lilian vai casar-se com Whitaker e ponto final.

A raiva borbulhava-lhe no peito, prestes a transbordar, mas conteve-a com um esforço que quase lhe fez doer os dentes. Sabia que, se deixasse a raiva escapar, o irmão não a ouviria — descartaria tudo como mais um capricho feminino. Mas isso não significava que aceitaria calada. Se ele se mostrava capaz de sacrificar a própria filha para satisfazer as suas ambições, então cabia-lhe a ela garantir que Lilian não pagaria esse preço. O noivado seria desfeito, quer o Duque o aceitasse ou não.

Endireitou os ombros, lançando-lhe um olhar de desafio.

— Podes recusar-te a ver o que está à tua frente, mas eu não ficarei de braços cruzados. Lilian não será presa num destino que não escolheu.

Sem esperar resposta, virou-se abruptamente, o vestido roçando o chão com firmeza enquanto os passos decididos ecoavam pelo corredor, uma promessa silenciosa de que agiria independentemente da aprovação dele.

***

O quarto de Lilian estava envolto numa penumbra melancólica, onde as velas tremeluzentes competiam debilmente com o luar frio que atravessava as janelas. A brisa noturna agitava as cortinas suavemente.

Clara trabalhava em silêncio, ajustando os bordados da máscara de Lilian. O veludo negro contornava-lhe os olhos, adornado com finos bordados prateados que lembravam as velas ao luar. O vestido, de um azul profundo como o oceano, abraçava-lhe a cintura antes de se abrir em camadas suaves, evocando as ondas e delicadas pérolas decoravam o corpete.

Ela observou-se no espelho, o reflexo devolvendo-lhe uma imagem que parecia pertencer a outra mulher. A máscara ocultava parte da sua expressão, oferecendo-lhe um anonimato que, por uma noite, parecia uma fuga inesperada.




Reportar




Uso de Cookies
Con el fin de proporcionar una mejor experiencia de usuario, recopilamos y utilizamos cookies. Si continúa navegando por nuestro sitio web, acepta la recopilación y el uso de cookies.