Noutra ala da casa, o Duque de Cavendish vestia-se para a noite. O seu criado apertava a fivela da capa escura sobre os seus ombros, enquanto ele aguardava impaciente. O traje negro, bordado a ouro, imitava a indumentária de um almirante da Marinha Real, um símbolo de poder e respeito. O brocado reluzia sob a luz das velas, e a insígnia da família Cavendish cintilava orgulhosamente sobre o peito. Para ele, esta noite iria servir para assegurar que a sua família mantinha o estatuto que lhe era devido e que Lilian teria um futuro estável, protegido por uma aliança vantajosa.
— Vossa Graça, o seu disfarce adequa-se-lhe — disse o criado, ajeitando a gola.
O Duque acenou distraidamente.
— Como deve ser.
Virou-se, pegando no anel de sinete e deslizando-o no dedo. O símbolo dos Cavendish resplandecia na luz quente do candeeiro. Era uma lembrança do legado que carregava e que Lilian, quer quisesse quer não, teria de perpetuar.
***
No andar inferior, o salão já estava repleto de convidados. A música fluía entre as conversas sussurradas, as máscaras criavam um jogo de mistério e sedução, mas Whitaker, que entretanto havia chegado, não se deteve a apreciar o espetáculo.
Com passos firmes, dirigiu-se a um dos criados e fez um sinal breve.
— Indique-me os aposentos de Vossa Graça. Preciso de falar com ele.
O criado hesitou, intimidado pelo tom imperioso e pelo olhar gelado por trás da máscara, mas foi quanto bastou para que se apressasse a conduzi-lo pelos corredores da mansão.
A porta do quarto do Duque abriu-se sem cerimónia, e Whitaker entrou com o à-vontade de quem não reconhece limites. A máscara negra, bordada com detalhes prateados, cobria-lhe o rosto, deixando apenas os olhos visíveis — dois poços de ambição.
— Vossa Graça — cumprimentou com um leve inclinar de cabeça antes de continuar, o tom educado, mas assertivo. — Precisamos de falar sobre a sua filha.
O Duque, ocupado a ajustar a própria máscara — uma peça discreta de couro escuro, condizente com o traje de almirante — lançou-lhe um olhar breve, carregado de irritação mal contida pela ousadia com que Whitaker entra nos seus aposentos.
— Porquê?
A pergunta saiu num tom brusco.
Whitaker assumiu um ar de preocupação estudada, escolhendo com cuidado cada palavra. Queria dar ao Duque a ilusão de que era ele quem comandava.
— Lady Lilian ainda não vê com bons olhos o nosso matrimónio. Peço-lhe que fale com ela nesse sentido.
O Duque virou-se lentamente, lançando-lhe um olhar frio, quase ameaçador, enquanto o dourado do seu traje reluzia sob as velas.
— Ela conhece bem o seu lugar. É uma Cavendish.
Whitaker manteve-se imperturbável, mas um sorriso irónico desenhou-se-lhe nos lábios.
— Naturalmente. Mas alguma resistência poderá comprometer a forma como este noivado será visto pela sociedade. Ninguém quer rumores desnecessários.
O Duque suspirou.
— A minha filha pode ter ideias próprias, mas no fim acabará por perceber o que é melhor para ela.
O tom era seco, definitivo.
— E para a família — acrescentou Whitaker, a voz ligeiramente mais baixa, medindo as palavras.
O Duque ergueu os olhos, o tom cortante.
— Não se esqueça de que está a casar-se com uma Cavendish, Lorde Whitaker, e não o contrário.
Whitaker inclinou ligeiramente a cabeça, o sorriso discreto, mas complacente.
— Não esperaria menos, Vossa Graça.
O Duque endireitou os ombros, agarrando na bengala antes de se encaminhar para a saída.
— A noite será longa. E não gosto de surpresas.
Whitaker ajustou lentamente as luvas, um brilho sombrio passando pelos seus olhos mascarados.
— Nem eu, Vossa Graça