Assim que ele saiu, Clara entrou imediatamente, encontrando Lilian ainda de pé, os ombros rígidos e a carta amarrotada nos dedos.
— Lilian! O que aconteceu?
A voz de Lilian quebrou-se ao responder.
— Ele mentiu-me, Clara. Gabriel mentiu-me.
Clara pegou na carta e leu rapidamente. O seu semblante incrédulo.
— Não podes acreditar nisto, Lilian. Isto pode ser …
— Uma mentira? — interrompeu Lilian, a voz carregada de dor. — E se não for, Clara?
Clara hesitou, apertando a carta entre os dedos.
— Lilian… tu conheces Gabriel. Sabes que ele nunca faria isto.
Lilian desviou o olhar, os braços abraçando o próprio corpo.
— Eu achava que sabia.
A dúvida envenenava tudo dentro dela. E, pela primeira vez, sentiu que talvez tivesse cometido um erro ao confiar no homem que começava a amar.
Whitaker deixou a casa de Lady Penélope com um sorriso satisfeito, certo de que a semente da dúvida estava bem plantada. A primeira parte do seu plano fora executada com precisão, e agora bastava-lhe aguardar. Subiu para a carruagem com a serenidade de um homem que já se via vencedor e deu ordem para avançar. Contudo, assim que o veículo dobrou a esquina e saiu do campo de visão dos criados, ele bateu duas vezes no teto, sinalizando para parar.
Saiu e disse ao cocheiro para parar uns metros mais á frente e aguardar por ele. E, sem hesitação, deslizou para a lateral da propriedade, escondendo-se entre a vegetação densa do jardim. Posicionou-se estrategicamente atrás de uma sebe espessa junto à janela da sala, de onde conseguia ver o interior sem ser notado. Lá dentro, Lilian permanecia de pé, os ombros rígidos. A fúria e a angústia estampavam-se no seu rosto.
Viu e ouviu Clara quando ela entrou, os olhos castanhos cheios de preocupação.
— Lilian, por favor, ouve-me.
Lilian ergueu um olhar cortante. — O que mais há para ouvir, Clara?
A amiga aproximou-se, estendendo uma mão hesitante.
— Isto pode ser uma armadilha! Pensa bem. Não achas estranho que Whitaker tenha esta carta? E o perfume?
Lilian hesitou, os dedos a apertar o papel com força — mas a dor da traição falava mais alto.
— Não quero ouvir mais nada — disse, afastando-se. — Não quero passar por tola, Clara. Ele enganou-me e eu fui estúpida o suficiente para acreditar nele.
— Mas tu não acreditas verdadeiramente nisto, pois não? — Clara insistiu.
Antes que Lilian pudesse responder, Lady Penélope entrou na sala, o vestido de veludo azul ondulando à medida que avançava.
— Porque é que estás tão transtornada, Lilian? Whitaker acabou de sair e encontro-te assim, o que é que se passa?
— Gabriel tem uma esposa nas Caraíbas… ou amante, não sei.
— E soubeste isso como?
— Lorde Sebastian disse-me.
— Whitaker sempre soube como manipular as pessoas. Não deixes que uma mentira te cegue.
Lilian virou-se para ela, a respiração acelerada.
— Ele trouxe provas, tia. E se for verdade? E se eu for apenas um passatempo para Gabriel? Se ele voltar para os braços dessa mulher de um momento para o outro?
— Se achas que Gabriel Sinclair é esse tipo de homem, então não conheces o homem que te olha como se não houvesse mais ninguém no mundo.
Whitaker, do lado de fora, franziu a testa. Lady Penélope estava a dificultar-lhe o trabalho mais do que previra.
Lilian desviou o olhar, lutando contra as lágrimas que ardiam nos olhos. A dúvida consumia-a. Será que podia confiar nele?
— Preciso de respostas — murmurou por fim. — Preciso que ele me olhe nos olhos e me diga que isto é mentira.
Sem esperar mais, atravessou a sala e apanhou um pedaço de papel e uma pena.
Clara e Lady Penélope observaram-na, alarmadas.
— O que estás a fazer? — questionou Clara.
— Vou chamá-lo. — Lilian escreveu rapidamente, a fúria guiando os seus traços. — Quero que venha imediatamente. Se houver algo a dizer, que seja agora.
Dobrando o papel, selou-o e entregou-o a Clara.
— Envia este bilhete a Gabriel. Agora.
Clara hesitou.
— Se vais chamá-lo, que seja para ouvir, não para julgar — disse Clara com voz firme.
— Agora. — O tom de Lilian não admitia discussão.
Com um olhar preocupado para Lady Penélope, Clara pegou no bilhete e saiu.
Whitaker, ainda escondido entre as sombras do jardim, viu Clara sair apressada com o bilhete e não conseguiu evitar um sorriso satisfeito.
— Isso, Lilian — murmurou para si, os olhos brilhando de satisfação. — Afasta-o com as tuas próprias mãos.
A armadilha estava prestes a fechar-se.
***