Ventos de Paixão - O Preço da Esperança - Vp Livro1

Capitulo 19

Um dia depois de receber a malfadada carta, o Duque de Cavendish chegou à residência da irmã.

A sua carruagem parou bruscamente diante da imponente mansão de Lady Penélope. Nem bem os cavalos tinham parado, já a porta se abria com violência — o criado mal teve tempo de descer do estribo.

O Duque saiu de dentro da carruagem com passos duros, o casaco a ondular ligeiramente com o movimento brusco, o rosto esculpido em pedra fria. Uma máscara de fúria contida.

O mordomo, apressado, veio abrir a porta ao som das suas batidas secas.

— Vossa Graça… — balbuciou, num misto de surpresa e receio.

Mas o Duque já atravessava o hall. Sem pedir licença. Sem esperar ser anunciado. Sem desacelerar. O som das suas botas ressoava pelas pedras de mármore como um aviso.

Lady Penélope, que tomava chá na sala de visitas, ergueu o olhar ao ouvir o rebuliço. Nem precisou de se levantar. A voz dela ecoou do interior, serena, cortante.

— Estou aqui, Theodore.

O Duque encaminhou-se para a sala. E quando entrou... nem se deu ao trabalho de saudá-la.

— Como é que pudeste permitir isto, Penélope? — A voz dele ecoou pelo salão.

Lady Penélope pousou a chávena sobre o pires, com uma calma que só serviu para exasperá-lo ainda mais.

— "Isto"... é um conceito muito vago, Theodore. Vais ter de ser mais claro.

— Refiro-me à tua casa ter-se tornado cenário de um escândalo que corre Londres inteira. Refiro-me a Sinclair. Refiro-me à minha filha, que está agora nas bocas de toda a cidade — e não pelas razões que convêm a uma Cavendish.

Ela não recuou.

— O curioso, meu irmão... — disse suavemente — é que Londres só fala de Lilian porque alguém lhe deu motivos para isso. E esse alguém… não foi ela.

O Duque encarou-a.

— O que estás a dizer?

Lady Penélope levantou-se devagar, enfrentando o irmão.

— Estou a dizer que tu, e só tu, és o responsável pelo que se passa com Lilian. Se existe algum escândalo, a culpa é toda tua por tratares a tua filha como se fosse uma das tuas propriedades.

O Duque cerrou o maxilar, os olhos a tornarem-se duros como pedra.

— Dei-lhe um futuro — disse, a voz baixa, mas cortante. — Dei-lhe uma vida à altura do nome que carrega.

Lady Penélope nem pestanejou.

— Enganas-te, Theodore. Não lhe deste um futuro. Deste-lhe uma prisão dourada. E esqueceste-te de que ela é mais do que um título. É tua filha.

Houve um silêncio espesso.

— Eu não pedi a tua opinião, Penélope. — Ele passou os dedos pelo sinete da família. — Agora, manda chamar a minha filha!— A sua voz desceu um tom, fria como o mármore sob os pés.

Ela ia responder, mas ele virou-se bruscamente e chamou o mordomo.

— Harding!

O criado apareceu de imediato, a pressa de quem sabia que um segundo a mais podia ser interpretado como afronta.

— Vossa Graça?

O Duque nem o olhou.

— Lady Lilian. Quero vê-la. Agora.

Harding, porém, hesitou. Porque naquela casa, havia outra autoridade que ele respeitava ainda mais.

O olhar do criado deslizou para Lady Penélope, em muda interrogação.

E foi então que a voz dela, tranquila, cheia de um cansaço elegante, se fez ouvir:

— Chama-a, Harding. — disse apenas. — Por favor.

***

Lilian estava sentada diante do espelho, as mãos pousadas sobre o colo, o olhar preso ao próprio reflexo. Não via o rosto que os outros viam. Via o rosto de uma mulher cansada de ter medo.

Ouviu passos no corredor — soavam mais alto do que deviam. Sabia de quem eram. Sabia o que anunciavam.

A porta entreabriu-se. Clara entrou devagar, fechando-a atrás de si com o cuidado de quem sabia que qualquer ruído podia ser um estilhaço a mais.

— O teu pai já chegou — disse, num murmúrio que carregava tudo o que não ousava dizer em voz alta.

Lilian inspirou devagar, sentindo o ar prender-se-lhe no peito. Mas não desviou os olhos do espelho.

— Sabes, Clara... quando Lord Sebastian me mostrou aquela carta, durante uns instantes eu achei que o mundo tinha acabado.

Fez-se silêncio. Clara esperou.

— Mas depois... quando consegui respirar outra vez... percebi que não podia ser esse o fim. — Lilian passou os dedos pela madeira polida do tocador, quase distraída. — E tomei uma decisão.

Clara sentou-se na beira da cama, observando-a atentamente.

— E o que decidiste?

Lilian virou-se finalmente para encará-la.

— Que vou lutar por ele.

Clara olhou-a, surpresa.

— Por Gabriel?

Lilian assentiu lentamente, a voz firme, sem hesitação.




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