Ao entrar na sala, viu o pai de pé, um homem autoritário, habituado a ser obedecido, ele olhava-a como se ela o tivesse traído.
— Pai. — O tom de Lilian era neutro, mas a rigidez da sua fisionomia denunciava o nervosismo.
O Duque demorou um momento a olhá-la.
— O que é isto, Lilian? — A voz dele estava controlada, mas carregada de fúria.
Lilian não desviou o olhar.
— Não sei a que te referes.
— Não te faças de ingénua. — O Duque deu um passo em frente. — Recebi uma carta acerca do escândalo no qual estás envolvida. O teu comportamento nos últimos dias foi inaceitável. — O olhar dele tornou-se cortante. — Ousaste desonrar o nosso nome?
Lilian sentiu-se a empalidecer. Durante anos, obedecera, fizera o que lhe mandavam, nunca contestara. Mas agora, sabia que não podia ceder.
— Pai, eu não desonrei o nosso nome. Eu apenas percebi que este noivado nunca foi uma escolha minha.
O Duque soltou um riso seco.
— As mulheres na tua posição não escolhem, cumprem o seu dever. Se achas que podes recusar Whitaker e continuar a ser minha filha, estás enganada.
Lilian sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha.
— Estás a dizer-me que me deserdarás se não casar com Lord Sebastian?
O Duque aproximou-se, a voz baixa, mas implacável.
— Não precisarei de o fazer, Lilian. Se me desafiares, a sociedade encarregar-se-á disso por mim.
O aviso dele era um veneno que se infiltrava nas suas veias. Mas antes que pudesse responder, Lady Penélope falou.
— Chega, Theodore.
O som da sua voz era como uma lâmina afiada, sem margem para contestação. O Duque virou-se para a irmã, incrédulo.
— Estás a defendê-la? Depois da vergonha que nos fez passar?
Lady Penélope encarou-o, firme.
— Sim. Porque alguém tem de protegê-la de ti.
O Duque apertou os punhos.
— Ela é minha filha, Penélope. Não me digas como devo tratá-la.
— Ela é minha afilhada. E eu não ficarei calada enquanto tentas transformá-la numa marioneta.
O Duque riu-se, um som seco e desprovido de humor.
— E o que vais fazer? Cuidar dela como se fosse tua? Manterás um nome desonrado na tua casa?
Lady Penélope sorriu friamente.
— Se achas que podes forçá-la a este casamento, estás enganado. Eu não permito que isso torne a acontecer.
O Duque ficou imóvel, ao ouvir as palavras da irmã, que o empurraram para uma lembrança há muito esquecida. Ele sabia que a irmã tinha poder social suficiente para manter Lilian protegida, mesmo contra ele. Mas ainda não estava vencido. Respirou fundo e ajustou o casaco, como se recuperasse o controlo.
— Muito bem, Lilian. — Os olhos dele voltaram-se para a filha. — Se queres arruinar o teu próprio futuro, fá-lo. Mas não esperes que eu esteja aqui para te ver cair.
E, sem mais uma palavra, o Duque virou-se e saiu da sala. A porta a fechar-se com um estrondo. O silêncio instalou-se, pesado como um fardo invisível.
Lilian sentou-se lentamente, os ombros ainda tensos, o coração a martelar dentro do peito. Lady Penélope pousou uma mão reconfortante sobre a dela.
— Acabaste de fazer o que muitas mulheres passam a vida inteira a desejar ter coragem de fazer, minha querida.
Lilian inspirou fundo. Estava a tremer
— Porque não me sinto corajosa?
Lady Penélope sorriu, um sorriso triste.
— Porque a coragem nem sempre nos dá alívio imediato. Mas dá-nos o direito de escolher o nosso próprio destino. O teu pai estava á espera que recuasses, Lilian, mas mesmo assim, ainda estás de pé.
Lilian inspirou fundo. Ela tinha enfrentado o pai. Mas agora... agora vinha o mais difícil. Enfrentar o resto do mundo. E no meio de tudo, havia um nome que o coração dela não conseguia calar. Gabriel.
O mordomo apareceu no limiar da sala, uma carta selada nas mãos.
— Milady, chegou uma carta do Palácio.
Lady Penélope ergueu uma sobrancelha antes de estender a mão para receber a correspondência. O selo dourado brilhava tenuemente sob a luz da sala.
Lilian observou-a desdobrar o pergaminho com um movimento elegante, os olhos verde-azulados percorrendo rapidamente o conteúdo. Quando voltou a levantar o olhar, uma sombra de expectativa cruzava-lhe a expressão.
— Parece que o rei decidiu intervir.
Lilian endireitou-se, o coração a saltar-lhe do peito tal era a sua ansiedade.
— Intervir como?
Lady Penélope pousou o convite sobre a mesa e empurrou-o na direção da sobrinha.
— Fomos convocadas para um baile no palácio.
Lilian pensou que ia desmaiar ao antecipar o que aquilo significava.