— Respira fundo, querida — murmurou Lady Penélope.
Lilian obedeceu.
A última vez que estivera num salão de baile, acreditara que a sua vida estava traçada, que o caminho lhe era imposto e inescapável.
Agora... agora sabia que havia sempre escolha. Mesmo que custasse tudo.
Clara aproximou-se, segurando um colar antigo — delicado, belo — que pertencera à sua mãe.
— Isto dar-te-á sorte.
Lilian olhou o reflexo no espelho. Pela primeira vez, não viu uma rapariga moldada para agradar. Viu uma mulher prestes a decidir o seu próprio destino.
Sorriu e deixou que Clara lho colocasse no pescoço.
— Estás pronta? — perguntou Lady Penélope.
Lilian levantou o olhar para o espelho e viu a resposta nos próprios olhos.
Sim. Estava pronta.
***
Os aposentos de Lilian estavam em silêncio. Lilian já descera, deixando apenas Clara e Lady Penélope junto ao tocador. Clara permaneceu de pé no quarto, observando Lady Penélope enquanto esta colocava as luvas. A madrinha de Lilian parecia finalmente ter um momento de tranquilidade, depois de dias a lidar com o escândalo em torno da afilhada. Mas Clara sabia que não podia esperar mais.
— Milady…
Lady Penélope ergueu o olhar pelo espelho.
— Sim, minha querida?
Clara hesitou. Aquela carta estava guardada consigo há dias. Encontrara-a no fundo de um baú cheio de objetos antigos que pertenciam à mãe de Lilian, enviados por engano com os pertences dela. Desde então, não soubera o que fazer.
— Achei isto num baú de Lilian… entre os pertences antigos da mãe dela.
Ela tirou o pequeno envelope dobrado do bolso do avental e estendeu-o. Lady Penélope virou-se, o cenho franzido.
— Nos pertences da mãe de Lilian?
Pegou na carta e abriu-a com cuidado. Os olhos dela percorreram rapidamente a caligrafia e, ao chegar ao final, o seu semblante alterou-se.
Clara prendeu a respiração.
— O que foi?
Lady Penélope demorou um instante a responder. Quando finalmente ergueu os olhos, havia algo diferente neles.
— Minha querida… — A sua voz era suave. — Acho que esta carta pode ser muito mais importante do que imaginas.
O coração de Clara disparou.
— Mas… o que significa?
Lady Penélope virou o papel, examinando-o de perto
— Significa que precisamos de respostas.
Pousou a mão no ombro da jovem e apertou-o levemente.
— Mas primeiro… temos um baile para ir.
Clara assentiu devagar, fechando a mão sobre o medalhão que sempre usava. Foi nesse instante que Lady Penélope reparou nele. Os olhos dela pousaram sobre a pequena joia pendurada ao pescoço de Clara, o brilho dourado refletindo a luz da lareira. Um ligeiro franzir de sobrancelha denunciou a sua surpresa.
— Esse medalhão… onde o conseguiste?
Clara olhou para ele instintivamente, segurando-o entre os dedos.
— Sempre o tive. Não me lembro de um tempo sem ele.
Lady Penélope estendeu a mão, pedindo silenciosamente permissão para vê-lo mais de perto. Clara hesitou, mas retirou-o e colocou-o na palma de Lady Penélope.
O silêncio entre ambas tornou-se denso. Os dedos de Lady Penélope deslizaram pela superfície da joia, até que o seu olhar pousou num detalhe discreto na parte de trás. Clara viu a expressão de Lady Penélope a alterar-se.
— O que foi? — perguntou, ansiosa.
Lady Penélope demorou um momento a responder. Quando finalmente falou, a sua voz foi ponderada.
— Acho que este medalhão guarda mais segredos do que pensavas.
Pela primeira vez, sentiu que talvez estivesse prestes a descobrir algo sobre si mesma.
***
Gabriel apertou os botões do colete escuro e passou uma última vez a mão pelo cabelo. Cada detalhe daquela noite tinha de ser perfeito.
— O rei vai ouvir-me — disse, com a voz baixa, mas carregada de certeza.
Damien, encostado à porta, observou-o com um sorriso de lado.
— Claro que vai. Mas a verdadeira questão é… será que Whitaker sobrevive à humilhação?
Gabriel lançou-lhe um olhar.
— Eu não quero humilhá-lo.
Damien arqueou uma sobrancelha.
— Não?
Gabriel pegou no casaco e vestiu-o.
— Não.
Virou-se para Damien, a determinação nos olhos.
— Eu quero destruí-lo.