Ventos de Paixão - O Preço da Esperança - Vp Livro1

Episodio 3

Um murmúrio percorreu o salão. Whitaker permaneceu imóvel, os músculos tensos sob o traje impecável, a raiva mascarada por um sorriso que não alcançava os olhos.

A orquestra iniciou os primeiros acordes da valsa, e Gabriel atraiu Lilian para mais perto, os seus movimentos fluidos e naturais, como se tivessem dançado juntos a vida inteira. A sua mão pousou com delicadeza na curva das costas dela, o toque firme, mas não invasivo.

— Estás deslumbrante — murmurou-lhe ao ouvido, a voz tão baixa que só ela podia ouvir.

O coração de Lilian vacilou.

— Gabriel…

— Esta noite, Lilian — interrompeu ele, a intensidade no olhar segurando o dela enquanto a guiava pelos primeiros passos — vamos acabar com isto. Com Whitaker. Com tudo.

Os pés de Lilian moveram-se instintivamente ao ritmo da música. Gabriel segurava-a com delicadeza mas ao mesmo tempo conduzia-a pela dança com domínio. O mundo ao redor dissolveu-se.

Mas não para Whitaker.

Os dedos dele fecharam-se num punho, as unhas a marcar a palma da mão. A humilhação latejava-lhe no sangue. Tudo o que pensara ter estava a desmoronar-se diante dos seus olhos.. Ele não podia permitir aquilo.

Avançou pelo salão rigidamente.

O seu alvo era claro.

O Rei.

A música preenchia o espaço com uma beleza enganadora, mas a noite adensava-se a cada instante. Enquanto Gabriel e Lilian deslizavam pelo salão, envoltos numa dança que selava a promessa do que estava por vir, Whitaker subia os degraus em direção ao Rei, que observava tudo com atenção.

O monarca, um homem cuja presença dominava a sala sem necessidade de palavras, já percebera que aquele baile era muito mais do que uma mera festividade. Havia algo a desenrolar-se diante dos seus olhos.

Murmúrios discretos entre os nobres, olhares trocados com significados ocultos, alianças invisíveis a moverem-se como peças num tabuleiro de xadrez. Mas ele já sabia disso. Porque horas antes, Gabriel Sinclair tinha-lhe enviado uma carta. E naquela noite, nada aconteceria sem que ele já tivesse ponderado os próximos movimentos.

— Majestade — começou, adotando um tom respeitoso —, permiti-me expressar a minha preocupação. Parece que alguns cavalheiros nesta sala se esqueceram do devido respeito pelas normas que regem a nossa sociedade.

O monarca limitou-se a pousar o copo de vinho com a mesma calma de sempre, o cristal tocando suavemente na madeira.

— Normas, Lord Whitaker?

Whitaker inclinou ligeiramente a cabeça num gesto de falsa humildade.

— Refiro-me a Lord Sinclair, Majestade. Creio que todos nesta sala podem testemunhar que ele tem tentado desacreditar-me e interferir num compromisso já aceite. O que, naturalmente, levanta questões sobre as verdadeiras intenções dele.

O monarca não respondeu de imediato. Mas os seus olhos — frios, calculistas, experientes — percorreram lentamente o salão. Viu rostos ansiosos e sorrisos forçados. E deteve-se — inevitavelmente — na imagem de Gabriel Sinclair e Lady Lilian Cavendish, deslizando pela pista de dança. Ele recostou-se, os dedos tamborilando no apoio da cadeira.

E nesse instante... tudo mudou.

Endireitou-se.

Ergueu o queixo.

E quando falou, a sua voz cortou o salão como uma lâmina de aço polido.

— Parem a música.

Não gritou. Não era preciso.

A ordem ressoou com a autoridade absoluta de quem não admite hesitação.

O salão estacou.

A orquestra silenciou-se a meio de um compasso.

Os pares de dança congelaram nos seus lugares.

E o som que se seguiu... foi apenas o silêncio. Um silêncio pesado. Total. Cortante.

Como se Londres inteira prendesse a respiração.

Gabriel parou.

Lilian parou.

E, por um breve instante, o mundo pareceu suspenso entre tudo o que fora... e tudo o que estava prestes a acontecer.

O olhar do Rei desceu — sereno, letal — para Whitaker.

— Parece-me, Lord Whitaker... — disse o monarca, a sua voz soando quase tranquila — ... que esta noite é, de facto, uma noite de verdades.

Fez-se um novo silêncio.

— Lord Sinclair. Há algo que deseja dizer-me?

Um silêncio profundo abateu-se sobre a sala. Gabriel lançou um breve olhar a Lilian e depois avançou.

— De facto, Majestade — respondeu, fazendo uma leve vénia.

Whitaker cruzou os braços, um sorriso frio e desdenhoso a formar-se nos lábios.

— Estou curioso para ouvir a explicação que terá para a sua conduta dos últimos meses.

Gabriel não desviou o olhar para ele. Mantendo-se focado no Rei.

— A minha conduta, Majestade, foi necessária.

O burburinho no salão intensificou-se. A orquestra cessou abruptamente, e a atenção de todos convergiu para o centro da sala.




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