Epílogo

Meses depois…

O vento soprava suavemente pelos campos, agitando as árvores. A casa permanecia diante deles, silenciosa e imóvel, enquanto se aguardava o momento em que finalmente deixaria de ser apenas um vestígio do passado e se tornaria parte do futuro.

As janelas, já antigas, estavam agora abertas, permitindo a entrada de luz e dissipando as sombras que antes as dominavam. Quero que a madeira antiga e a pedra fria ainda estejam à vista, mas agora misturadas ao perfume das flores que Lilian insiste em plantar junto à entrada. Pequenos gestos, mudanças quase imperceptíveis, mas que anunciam uma nova vida.

Gabriel permanece parado no batente da porta por um longo momento, seus olhos percorrendo cada canto da propriedade. Durante anos, aquela casa foi um símbolo de tudo o que ele perderia. Os corredores sombrios guardam os fantasmas de memórias que ele jamais gostaria de revisitar, os ecos de vozes há muito silenciadas assombrando cada cômodo vazio. Mas agora...

Agora não estava sozinha.

Lilian apareceu ao lado dele, escutando atentamente, pois sabia exatamente o que estava acontecendo dentro dele.

"Assim como tudo na vida, as memórias não precisam se apegar ao que dizem", disse ele, em voz mais suave e firme. —Podemos gerar novas.

Gabriel a interrompe, eu vendo a verdade de suas palavras. Durante anos, evitei aquele lugar. Agora, Lilian ofereceu algo que eu jamais imaginei ser possível — uma oportunidade de recriar a história daquela casa. De transformar um espaço estonteante em algo além do número um.

Sem dizer nada, estenda a mão para mim por ela. Lilian entrelaçou os dedos, num gesto simples, porém sem significado.

— Vamos entrar? — perguntou Ela, sorrindo.

Gabriel inspirou a sua fundação e estabelecimento. Juntos, atravessaremos Soleira.

Pela primeira vez, ao pisar naquele chão de pedra da família, Gabriel sentiu como se não estivesse mais em casa, revivendo antigas memórias. Era apenas uma casa. E, com Lilian ao seu lado, ele finalmente se tornaria o número um.

***

A noite amanheceu com um brilho dourado quando Gabriel se encostou na cerca, com os olhos fixos no horizonte. Desde que deixara a vida de corsário, descobrira que a paz tinha um sabor peculiar. Não era odiada como o medo, mas privava-o de preciosos momentos que antes jamais soubera apreciar.

Lilian se aproxima, envolve-se levemente em um num xaile.

— Você não está pensando no passado?

Ele sorriu, empurrando-o levemente para o lado.

— Eu estava pensando que nunca foi tão difícil roubar algo na minha vida.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Roubar?

O rosto de Gabriel estava a milímetros do dela.

— O teu coração.

Lilian riu-se e bateu-lhe ano de leve sem ombro.

— Pirata sem vergonha.

“Ex-pirata”, corrigiu ele, dando um pulo. — Agora somos apenas um homem feliz ao lado da mulher que amamos.

Ela suspirou suavemente e entrelaçou os cabelos nos braços dele. Ali, naquele momento, tudo era certo no mundo.

Lady Penelope visitava-o frequentemente, sempre contando novas histórias da sociedade londrina. Sua presença era um conforto para Lilian, e o próprio Gabriel reconhecia que a madrinha de sua esposa era uma mulher formidável.

Até, o Duque de Cavendish, os visitará, ainda com sua postura austera, mas menos rígida do que antes.

Quanto a Clara…

Ele viverá com Lady Penelope, mas seu futuro ainda está por ser revelado.

Na última visita de Lilian a Londres, ela se viu na biblioteca da casa de Lady Penelope, absorta em um livro, com vários outros livros ao seu lado.

—Você vai estudar? — perguntou Lilian, surpresa.

Clara sorriu, mas havia um brilho diferente em seus olhos.

— Lady Penélope me disse que, se eu quiser encontrar respostas sobre o que quero, devo começar aprendendo a ser quem eu quero ser.

Lilian se inclina e toca minha mão.

— E quem queres ser?

Clara procurou sua medalha e voltou-se para o livro que tinha aberto à sua frente.

— Essa é uma altura a ser descoberta.

O mistério de sua origem permanecia sem resposta. Mas, pela primeira vez, Clara sentiu que talvez seu futuro lhe reservasse algo muito maior do que jamais imaginara.

Gabriel e Lilian iriam construir a vida que tanto desejavam. Livres das obrigações sociais, longe das intrigas da nobreza, rodeados de amor e da promessa de um amor sem amarras.

E enquanto o vento dançava entre as colinas, Gabriel ouviu falar de Lilian e soube que, depois de tantas batalhas, dois tesouros sempre jaziam ali, diante dele.

FIM.