Whitaker estava em seu escritório particular, reclinado no sofá de couro, com uma taça de vinho entre os dedos.
Os últimos dias haviam se desenrolado exatamente como planejado. Lilian estava encurralada. O Duque tornara pública sua posição, reforçando o que toda a sociedade já aceitava como inevitável. Seus associados permaneceram em silêncio. Os credores... silenciados. Pelo menos por enquanto.
Uma leve batida na porta interrompeu seus pensamentos. Whitaker ergueu os olhos.
"Entre."
O mordomo apareceu, carregando uma bandeja de prata com um envelope lacrado em ouro.
"Uma carta do Palácio, meu senhor."
Whitaker franziu a testa, sentando-se no sofá.
"Do Palácio?"
Ele pegou a carta com um movimento calculado e rompeu o lacre, seus olhos examinando rapidamente o conteúdo.
Um baile real. O rei desejava reunir toda a nobreza no Palácio.
Recostou-se, girando a taça de vinho entre os dedos, pensativo. Se o rei queria fazer uma demonstração pública de força, então ele também o faria. Ao final da noite, Lilian não teria como escapar dele.
Whitaker colocou a carta sobre a mesa e recostou-se na cadeira. Nada poderia dar errado.
***
No dia seguinte, Londres estava inquieta.
O boato de que o rei havia convocado um baile se espalhava rapidamente entre os círculos aristocráticos. Whitaker esperava impacientemente em seu escritório, os dedos batendo levemente na mesa. Ele não gostava de surpresas.
A porta se abriu e um de seus informantes entrou, curvando-se antes de falar.
"Meu senhor, a data do baile foi oficialmente anunciada esta manhã. Sua Majestade receberá toda a nobreza no Palácio em três dias."
Whitaker pousou a taça de vinho, com os olhos semicerrados.
"Três dias?"
O informante assentiu.
"Sim, meu senhor. E há rumores de que o rei pretende resolver certos... assuntos inacabados da corte durante o evento.
" "Hmm... e o que mais?"
O informante hesitou antes de falar.
"Meu senhor, a cidade parece... dividida..."
Whitaker franziu a testa.
"O que está sendo dito?"
— Que Sua Majestade soube do escândalo e, portanto, convocou a aristocracia para o baile. Diz-se que ele sentiu a necessidade de intervir.
Whitaker deu uma risada baixa e sem humor.
— O rei deveria estar ocupado com algo relevante, em vez de perder tempo bancando o fofoqueiro.
O informante ficou em silêncio, aguardando permissão para sair.
Whitaker arqueou uma sobrancelha, quase entediado.
— E o Duque?
— O Duque de Cavendish ainda está em seu clube, milorde. Ele não deu ordens para voltar para casa.
Whitaker assentiu, satisfeito com a previsibilidade do gesto.
— Como esperado.
Fez um pequeno gesto com a mão, dispensando-o.
— Pode ir.
— O homem hesitou.
Whitaker nem olhou para ele.
— Passe pela cozinha. Meu mordomo o recompensará.
— O informante inclinou levemente a cabeça e desapareceu tão silenciosamente quanto chegara.
Whitaker recostou-se no sofá, tamborilando os dedos no braço de couro. E sorriu.
***
O Duque de Cavendish estava em frente ao espelho em seu quarto no clube, ajeitando os punhos da camisa.
A noite do baile havia chegado.
Não que ele tivesse qualquer desejo de comparecer.
Durante toda a sua vida, ele havia governado. Determinado. Imposto. Nunca pensou que chegaria o dia em que seria desafiado — muito menos por mulheres de sua própria família.
Lilian o encarou. Ela o olhou nos olhos e se recusou a ceder. Como sua mãe fizera um dia. Como Penélope acabara de fazer.
Ele passou as mãos pelas lapelas do fraque, um gesto automático, mas o pensamento persistia. Talvez nunca as tivesse compreendido. Talvez nunca tivesse sequer tentado.
Fechou os olhos por um instante, o maxilar tenso. A conversa com Whitaker no clube não lhe saía da cabeça. O tom insolente. O jeito como ela falava com ele — como se fosse superior. Como se estivesse dando ordens. Como se o controlasse.
A audácia o irritava. Mas a desconfiança... começava a se infiltrar em seus ossos.
Por um instante — apenas um —, perguntou-se se o erro não teria começado com ele. Se Penélope não estava certa.
Pegou as luvas e calçou-as lentamente. Lá no fundo, uma ideia começava a germinar. Perigosa. Incômoda.
Talvez tivesse chegado a hora de ouvir... antes de comandar.
Endireitou os ombros.
Esta noite, qualquer que fosse o resultado, não era apenas Whitaker que o preocupava.
Era Lilian.
E isso... aquilo mudava tudo.
***
Em seu escritório, Whitaker terminava de ajeitar o lenço de seda escura em volta do pescoço.
O reflexo no espelho refletia a imagem do homem que ele sempre acreditara ser — calculista, impecável, destinado a vencer.
Esta noite seria a gota d'água. O momento que consolidaria seu nome. Ao final do baile, todos os problemas que Sinclair levantara seriam resolvidos. O Duque não era mais um obstáculo. Sinclair estava desacreditado. Toda a sociedade o via como um aventureiro silencioso. Um homem corrompido.
Perfeito.
Então, por que aquela sensação de alerta não desaparecia?
Ele pegou a taça de vinho e tomou um gole. Lentamente. Forçado. Como alguém que precisa silenciar um pensamento inconveniente.
Não havia motivo para preocupação.
O plano era sólido.
***
"Respire fundo, minha querida", murmurou Lady Penelope.
Lilian obedeceu.
Da última vez que estivera num salão de baile, acreditara que sua vida estava traçada, que o caminho era imposto e inescapável.
Agora... agora sabia que sempre há uma escolha. Mesmo que custe tudo.
Clara se aproximou, segurando um colar antigo — delicado, lindo — que pertencera à sua mãe.
"Isso lhe trará sorte."
Lilian olhou para seu reflexo no espelho. Pela primeira vez, não viu uma jovem moldada para agradar. Viu uma mulher prestes a decidir seu próprio destino.
Sorriu e deixou Clara colocá-lo em volta do pescoço.
"Está pronta?", perguntou Lady Penelope.
Lilian olhou para o espelho e viu a resposta em seus próprios olhos.
Sim. Ela estava pronta.