Manhã varreu suavemente Londres, dissolvendo como um vidro delicado os brancos nevados que cobriam os telhados. As ruas ganham vida como os primeiros filhos do dia - o trote ritmado dos cavalos, o ranger das rhodas nos paralelepípedos, os gritos de dois vendedores quebrando o ar fresco da manhã. Dentro da casa de Lady Penelope o tempo parecia passar de forma diferente — mais devagar, quase ensaiado.
O aroma do chá foi servido misturado a um leve aroma de torrada e geleia, flutuando em uma familiaridade reconfortante. O suave revestimento da porta contra a porcelana ecológica na espaçosa sala de café da manhã, onde Clara estava sentada elegantemente, com os dedos entrelaçados no ar da pedra quente. Ele ouviu o líquido âmbar sem vê-lo, ouvindo as palavras de Lady Penelope com grande entusiasmo.
"Você tem uma manhã agitada heje." A voz da madrinha era calma, mais como a firmeza de alguém acostumado a ser ouvido. "Duas horas de música, seguidas de uma aula de etiqueta com Madame Gertrudes. E, à tarde, leitura e conversação em francês."
Clara passou ou descascou a borda da pedra, sentindo a cerâmica quente nos dedos. A ideia de passar o dia imersa em lições de refinamento ainda a perturbava — como se, a qualquer momento, a governanta pudesse entrar e mandá-la de volta para a cozinha.
Mas, ao mesmo tempo, havia algum conforto em sua vida anterior, quando ela era apenas uma empregada doméstica. O trabalho era árduo, porém mais simples. Nunca esperei que ele falsificasse o francês. Ele não exigia que ela tocasse piano.
"E aqui à noite, Lorde Somerset não estará esperando." Lady Penelope moveu a xícara sem pires com um leve tilintar. "Ele pareceu curioso, respeitosamente."
Clara levantou os olhos lentamente, com um sorriso educado nos lábios — um sorriso que não conseguia alcançar seus lábios.
— Não sei o porquê de nada... nem o mistério que me cerca.
Lady Penelope permaneceu levemente em suas sombras.
—O que Nisso fez de errado?
Clara não respondeu imediatamente, a pergunta surgiu entre elas — suave, mais persistente. Ou o que estava errado? Talvez você nem saiba a que lugar pertence. Que ela havia sido criada para servir e, agora, se encontrava sentada a uma mesa onde era valorizada e tratada como um jovem de boa família. Que ela sentia que, por mais que usasse óculos escuros finos, seus amigos ainda sentiam falta do trabalho duro que haviam feito antes.
O trabalho era cansativo, mais simples. Havia um ritmo familiar, uma rotina sem expectativas, mas também eficiente. Agora, cada gesto era observado. Cada palavra, analisada.
Lady Penelope não foi dura com ela. Pelo contrário, ele a tratou com carinho – como sempre, ele pertence àquele lugar. Mas havia expectativas. Constantes. Implacáveis. Como todos nós esperamos que ela, a qualquer momento, cometa um erro e prove que não pertence àquele lugar. E, às vezes, ela sentia como se estivesse perdendo dois dias que não queria conhecer.
"Lady Penelope... a senhora já se sentiu como se não pertencesse a lugar nenhum?" Uma pergunta escapou num sussurro, antes que ela pudesse dizê-la.
Lady Penelope levantou uma sobrancelha levemente e um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.
—Ah, meu Deus, eu vivi o suficiente para saber que todo mundo se senta assim... em algum momento.
Clara desviou o olhar para Janela. Lá fora, as torres do porto erguem-se acima do horizonte, e os mastros dos dois navios se recortam contra o céu azul-claro. Suas velas, brancas como cabos, soltam o vento, prontas para zarpar.
Entre elas, uma em particular chamou sua atenção — um navio robusto, feito de madeira escura e velas firmes, preparando-se para um longo dia. Para onde eu iria? Para terras distantes, livros de regras, canções e convenções sociais? Por um momento, a sensação é de que os dias que se foram são de manhã.
Lady Penelope procurou-a e colocou a mãe sobre ela com um gesto de compreensão.
— Aqui você vai encontrar o seu caminho, Clara. Não precisa pressionar. Você tem tempo.
Clara baixou os olhos ao som de cha, absorvendo as palavras. Será que alguma vez foi encontrado ou encontrado? E se ela for condenada a viver aprisionada entre dois mundos, será que nunca pertencerá verdadeiramente a nenhum deles?
Uma incerteza flutuante dentro dela, como um portal invisível que é silenciosamente datado.