Do outro lado da cidade, enquanto Londres lentamente despertava sob o céu pálido da manhã, um navio zarpava ao longo da costa, com as velas içadas ao vento. Damien Wesley encostava-se à amurada do castelo ou perdia-se nas águas escuras de Tâmisa. E, pela primeira vez em muito tempo, com uma liberdade que sempre pareceu... insuficiente.
O mar estendido é uma longa linha do horizonte, de um azul profundo, mal recortado pelo branco imaculado da penugem das velas balançando ao vento. O navio deslizava pelas águas como um predador silencioso, seu casco cortando as ondas com a necessidade de queimar e girar. O sal impregnava sua pele, misturando-se ao aroma de madeira triturada e alcatrão.
Durante anos, aquela paisagem foi tudo o que ele precisava. Uma promessa de horizontes infinitos, liberdade absoluta, sem correntes ou amarras. Sem esperar. Em segurança. E, no entanto, naquela manhã, ele se sentia diferente.
Ele se inclina sobre o plano convexo, com os braços cruzados sobre o peito, os dedos ligeiramente tensos contra o tecido áspero da camisa. Sua visão estava no horizonte, mas ele não conseguia vê-lo. Para a América ou esperar. Negócios, novas oportunidades, tudo o que ele sempre buscará sem hesitar. Mas, desta vez, a ansiedade não é a mesma, nem o mesmo entusiasmo de antes.
Em sua mente, as palavras de Gabriel ecoaram, atingindo seu crânio como um golpe de martelo.
—Tem certeza de que é isso que você ainda quer?
Na época, o riu, ignorando a questão de como encontrar um pênalti.
— Desde quando você se sente sentimental?
Mas Gabriel deu um sorriso maldoso, aquele sorriso calmo como se tivesse acabado de aprender algo que ainda não entendia. E então usou uma bola de conhaque, curvando-se ligeiramente enquanto murmurava:
—Talvez desde que entendi que há coisas que valem mais que nós.
Ele não respondeu. Porque não tem resposta. Naquele instante, seu nariz se voltou, quase involuntariamente, para a barriga de Lilian. Redonda. Cheia. Dentro daquela barriga, um futuro cresce. Uma vida. Um nome. Uma continuidade. Algo que ele jamais desejaria para si. Algo que sempre desprezarei. E, no entanto, ele não conseguia se desviar ou olhar. Gabriel, um homem que antes só conhecia a vida no mar, não parecia assustado. Pelo contrário, parecia... inteiro.
Desde aquele dia, havia uma preocupação que ele não conseguia explicar — tênue, mais presente. Raízes. Compromisso. Laços. Tudo ou aquilo que ele sempre temeu. Tudo o que ele sempre dizia era que não queria. Então, por que diabos aquele vazio dentro dele parecia se aprofundar... como se, pela primeira vez, algo estivesse faltando?
O vento soprava forte, arranhando seu rosto, como se o próprio oceano tentasse ser chamado pelo que era. De quem sempre fora. Um lar livre. Sem amarras. Sem promessas. Sem correntes. Mas a dúvida se infiltrou lentamente como um veneno.
Gabriel está certo? E agora, pela primeira vez, ele queria algo mais... e está apavorado?
Um arrepio percorreu sua espinha. Ele soltou uma risada curta e alta enquanto tentava dissipar aquele pensamento ridículo. Mas o pensamento não desapareceu. Ficou ali. Consumindo-o.
Casamento. Família. Amor. Palavras que nunca significarão nada. Até agora.
Seus dedos se abrem com força para que não corramos, nossos dois dedos estão brancos. O vento sopra as velas, direcionando o navio para o vasto oceano.
Para onde ele estava indo. Para onde você sempre quis ir.
Mas à primeira vista parece um erro.