Capitulo 17

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Deitada entre lençóis de cetim, Lady Evangeline abriu os olhos castanhos. Detestava acordar cedo, mas naquela manhã não podia se dar ao luxo de ficar na cama: havia assuntos a tratar. Uma batida suave na porta interrompeu seus pensamentos.
"Entre", ordenou ela em tom seco e frio.

A empregada entrou, de cabeça baixa, carregando uma bandeja de chá fumegante e torradas com manteiga. Evangeline jogou os cobertores para o lado e calçou os chinelos com um ar determinado. Ela não suportava a menor demonstração de desagrado.
Aproximou-se da mesa, pegou a xícara de chá e a levou aos lábios, com o olhar distante.
"Leve isso embora", disse ela, empurrando a bandeja para o lado com desdém.

A criada hesitou, os dedos tensos em torno da porcelana.
"Senhora... há algo errado com o café da manhã?"
O olhar de Evangeline a atingiu como uma faca.
"Acha que lhe devo uma explicação? Eu disse para levar embora."
A jovem engoliu em seco e começou apressadamente a recolher a bandeja.
"O quarto está frio. Por que ainda não acendeu a lareira? Preciso lhe dizer tudo?" A voz era de aço puro. "Vamos, acenda a lareira!"

A criada largou o que estava fazendo e correu para a lareira, com as mãos tremendo. O calor começou a subir, mas a calmaria durou pouco.
"Deixe isso. Venha me ajudar a me vestir", ordenou ela com desdém. "Sempre tão lenta..."

Sem protestar, a criada foi até o guarda-roupa e tirou um vestido de seda azul-claro com discretos bordados em índigo. Segurou-o com cuidado, com medo de errar. Enquanto ajustava o espartilho, Evangeline fechou os olhos, sentindo os laços apertarem em torno de sua figura. Quando o último nó estava firme, abriu os olhos e se virou para o espelho.

Seu reflexo mostrava uma mulher poderosa. Ela ajustou o decote com um leve gesto e ergueu o queixo.
"Tragam-me minha capa e minhas luvas de renda preta."

A empregada obedeceu, mas deixou a peça cair. O som seco ecoou pelo quarto.
Evangeline suspirou, irritada.
"Desastrada... pegue agora mesmo."

A jovem obedeceu imediatamente, tremendo. Evangeline arrancou-lhe a capa das mãos e saiu sem olhar para trás.
A criada suspirou. Pelo menos não lhe atirara nada naquela manhã.

O aroma de chá fresco e scones amanteigados pairava no ar da sala de café da manhã de Lady Theodora. A luz do sol entrava pelas janelas, iluminando a porcelana.
Mas Theo, debruçado distraidamente sobre a mesa, parecia alheio a tudo.

Da cabeceira da mesa, Lady Honoria a observava por cima do jornal.
"Sua expressão sugere que você está prestes a fazer alguma loucura... ou simplesmente está entediada com a vida." Ela colocou o jornal de lado. "Se for a segunda opção, posso recomendar um excelente tratado sobre política internacional."

Theo suspirou dramaticamente.
"Querida tia, poupe-me da diplomacia francesa antes do meio-dia. Já tenho problemas suficientes."

Lady Honoria ergueu uma sobrancelha.
"Uma dívida de jogo? Um duelo ao amanhecer? Um escândalo amoroso?"

Theo deu uma risadinha enquanto mordiscava um biscoito.
"Nada de muito emocionante. Só estou tentando juntar dois caras teimosos antes que um fuja para os Estados Unidos e o outro estrague tudo com a sua arrogância."

"Ah. Clara e Damien", a tia assentiu.
"Ela já sabe?
" "Minha querida, nesta sociedade, as aparências falam mais alto que as palavras. E os boatos se espalham rapidamente."

Theo inclinou-se para a frente, entusiasmado.
"Exatamente! Clara ainda está lidando com seus sentimentos. E Damien... ele acha que só esperar vai resolver tudo."

"E você pretende intervir?"
Theo sorriu maliciosamente.
"Seria imoral não intervir."

Lady Honoria riu, balançando a cabeça.
"Então, qual é o seu plano?
" "Algo discreto. Um encontro inocente, longe de olhares curiosos.
" "Onde, exatamente?"
Theo bateu a colher na xícara, perdida em pensamentos.
"O Museu Britânico?
" "Hum... um bom lugar para se perder." Lady Honoria sorriu. "Há uma nova exposição egípcia... Clara não recusará. E Damien irá se souber que ela estará lá."

"Perfeito." Theo se levantou energicamente. "Enviarei os convites imediatamente."

O brilho em seus olhos indicava que o dia prometia muito mais do que uma leitura diplomática.

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